Não vamos fazer uma espécie de “E se fosse consigo?”, mas quase, porque a literacia em saúde tem uma bitola muito grande e só com o contributo de todos poderemos ter cidadãos mais esclarecidos e mais conscientes.
Hoje, já muito se fala em discriminação de doentes. Os doentes com VIH/Sida sentem-se discriminados, os doentes com cancro, os cidadãos deficientes também…
Pensamos, que enquanto não for connosco, não há problema, “alguém” há-de acudir a estes “discriminados”, porque afinal vivemos num país livre e em democracia. Muitas vezes não é isto que acontece, sabemos bem. Mas, é sempre mais cómodo, deixar que outros resolvam os problemas dos outros, enquanto esse problema não for meu…
E com este aligeirar de direitos, vamos andando de cedência, em cedência, de perda em perda, sem darmos conta das mudanças. A doença e a dor ajudam a desvalorizar tudo o resto, porque o que importa mesmo é ter alguém de bata branca à nossa frente. De tão distraídos que andamos, raramente percebemos por que porta nos mandam entrar. Estamos demasiado absorvidos em querer resolver o problema, a doença, aquilo que incomoda. O que interessa é entrar, é estar lá dentro. Não é só isso que interessa.
É importante saber se a porta onde entra o trolha que teve um acidente de trabalho, é a mesma porta por onde entra o técnico das finanças que, por sinal, é funcionário do Estado e tem ADSE, mas também por onde entra o advogado, que até tem contrato com uma seguradora, ou o vendedor da hortaliça.
Se a porta de entrada não é larga e não é igual para todos, como teremos a certeza de que o tratamento e os cuidados serão iguais? “E se fosse consigo”? Como reagia?
Asseguro-vos que gosto de portas largas. É um princípio e um dever.
António Travassos
(Médico Oftalmologista)
Concordo inteiramente. Tomo a liberdade de partilhar o texto.
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