Hoje, há bases científicas que demonstram a eficácia da música para adquirir alterações físicas, emocionais e de conduta. Na Grécia antiga, os médicos já sabiam que quando a doença se desenvolvia era preciso restaurar o equilíbrio com a medicina e com a música

A ideia de que a música poderia ser utilizada na cura das doenças nasceu na Grécia antiga, mas é a Pitágoras que se atribui o conceito de cura através do ritmo e da melodia. A medicina convencional tratava as doenças físicas e palpáveis, enquanto o bem-estar espiritual era tratado com música. O sistema de saúde/doença era homeostático e o equilíbrio resultava da dicotomia corpo/ mente. A cura da parte não deveria ocorrer sem o tratamento do todo.

O efeito terapêutico da música desapareceu no tempo dos Romanos e só voltou a ser mencionado na época do Renascimento, altura em que os livros de medicina destacavam os relatos de experiências médicas da relação da música com a frequência cardíaca, ritmos corporais e outras atividades fisiológicas, como a respiração e a digestão.

Hoje, a ideia do bem-estar holístico foi recuperada e, atualmente, esta é a força motriz dos cuidados de excelência, observando-se diariamente uma preocupação dos profissionais de saúde em prestarem cuidados globais aos doentes. A música é utilizada com base científica para adquirir alterações físicas, emocionais e de conduta, tanto em crianças e adultos, como em idosos. A sua eficácia está comprovada na melhoria de sintomas e sequelas provocadas por determinados tipos de doença e, sobretudo, para melhorar a qualidade de vida de quem dela usufrui.

A especialidade de Musicoterapia é ainda muito recente neste século XXI, mas já é definida como um instrumento útil para promover, manter e restaurar a saúde mental, física, emocional e espiritual. É usada na relação terapêutica para facilitar o contacto, a autoexpressão, a comunicação e o desenvolvimento pessoal. Por outro lado, a utilização da música promove a humanização dos espaços, contribuindo para um ambiente mais acolhedor e a sua aplicação fomenta a parte mais lúdica e expressiva do indivíduo.

Ao ouvir música, a impressão da realidade hospitalar pode ser contrabalançada por um sentimento de maior bem-estar do doente. Na prática de cuidados, a musicoterapia tem como objetivo adequar a música a sentimentos do utente, com o fim de cuidar. Assim, cada espetro musical tem de ter em conta a personalidade da pessoa, o tipo de patologia e a criatividade profissional. As vantagens são a diminuição da ansiedade, estimulação do sistema imunitário pela produção de catecolaminas redução da dor pela produção de endorfinas e descentralização do processo doloroso e do ambiente hospitalar, promovendo uma sensação de bem-estar psicológico.

A utilização da música é uma abordagem não farmacológica efetiva, caracterizando-se como um método de distração e de estratégia mais eficaz, apresentando um alto nível de aceitabilidade das pessoas, até porque a música faz parte do nosso quotidiano. Esta técnica de relaxamento pode ser aplicada por qualquer profissional de saúde, desde que tenha bom senso, sensibilidade e criatividade para tal, competências que devem permitir a escolha criteriosa da música para fins terapêuticos em função do doente. Desde que seja do agrado do indivíduo, a música acalma-o, produzindo um relaxamento conducente à diminuição do stress e, por conseguinte, a um aumento da resistência aos fatores externos, promovendo uma recuperação mais rápida e agradável.

Ana Filipa Sousa

(enfermeira)

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