Após os primeiros sinais de perda auditiva, uma pessoa demora cerca de 7 anos a procurar uma solução. Esquecem que ouvir não se resume a captar sons e, também por isso, a solução não pode passar por ceder às campanhas de publicidade agressiva. Um “amplificador” de som não é um dispositivo médico, não permite a individualização e amplifica todos os sons por igual. Ora, as necessidades são individuais e o próprio padrão de perda auditiva é pessoal e intransmissível…

Então porque “ignoramos” a perda de audição quando somos adultos?

Estima-se que a perda auditiva afete cerca de 10% da população portuguesa e cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo. Culturalmente, estamos cada vez mais expostos ao ruído, um hábito que não deve ser totalmente alheio e inocente se o quisermos relacionar com estes valores estatísticos.

Estudos epidemiológicos também nos dizem que, em média, uma pessoa demora cerca de 7 anos a procurar uma solução, após notar os primeiros sintomas de perda auditiva. Sintomas que afetam a sua vida profissional, social e reduzem a sua qualidade de vida, em qualquer idade.

Ouvir não é só captar os sons; é necessário que estes sejam depois amplificados pelo nosso ouvido médio, transmitidos à cóclea no ouvido interno e, depois, ao longo das vias auditivas centrais, até aos núcleos cerebrais, para aí serem processados, interpretados, compreendidos e integrados centralmente pelo nosso cérebro. Uma “falha” em qualquer ponto de passagem por este circuito pode ser a causa de um problema na audição.

Por isso é tão importante procurar a causa da perda de audição o mais precocemente possível. Como habitualmente, em medicina, quanto mais cedo se estabelecer o diagnóstico, maiores são as probabilidades de resolução sem sequelas.

A solução para a perda auditiva (ou hipoacusia) depende da causa subjacente e pode incluir:

  • Terapêutica médica
  • Terapêutica cirúrgica
  • Reabilitação auditiva, quando a perda é sequelar e não pode ser corrigida com tratamento médico ou cirúrgico.

Nenhuma solução é melhor que a outra. E não se excluem mutuamente, antes são complementares. Cada caso é um caso.

É importante perceber que a reabilitação auditiva não significa desistir de “tratar” a perda auditiva. É uma opção terapêutica como as outras e a melhor solução para alguns doentes. Utilizar uma prótese auditiva também não significa que o tratamento da perda auditiva falhou, mas sim que se conseguiu reabilitar uma situação/problema.

Importa também saber que a reabilitação auditiva inclui hoje múltiplas possibilidades:

  • Próteses auditivas
  • Implantes que estimulam a via auditiva por vibração (implantes de ouvido médio e osteo–ancorados)
  • Implantes que estimulam a via auditiva eletricamente (implantes cocleares, estimulação eletroacústica, implantes de tronco cerebral).

Mais uma vez, cada caso é um caso.

Nem todos os pacientes têm indicação ou podem sequer utilizar próteses auditivas – por exemplo, na otite média crónica, principalmente se associada a perfurações timpânicas, frequentemente, está contraindicada esta utilização pelo risco de agudizações. Nestes casos, os implantes osteoancorados (BAHA) são uma hipótese a considerar.

Noutros casos de intolerância às próteses auditivas, por exemplo, pelas dificuldades associadas à oclusão do canal auditivo externo, os implantes de ouvido médio são uma hipótese.

Nas perdas auditivas graves e muito graves, os implantes cocleares podem representar “uma vida nova” para a audição. É verdade, os implantes cocleares não se colocam apenas em crianças. Cada vez há mais indicações para perdas secundárias e não congénitas, em todas as idades da vida, mesmo na fase adulta.

Ainda nos casos de reabilitação com prótese auditiva, é preciso saber que há vários modelos (retroauriculares, intracanalares, intra auriculares, com pilhas, recarregáveis, etc..) com possibilidades diferentes e que podem oferecer diferentes recursos ao paciente. Não só as necessidades de cada um são individuais – pelo estilo de vida, profissão, personalidade – como o próprio padrão de perda auditiva é “pessoal e intransmissível”. A reabilitação tem que ter em conta essas particularidades, o trabalho de adaptação e a relação com o audiologista, que é essencial para conseguir um resultado ótimo.

Impõe-se notar que os amplificadores, alvo de campanhas publicitárias muito agressivas, não podem ser considerados como forma de reabilitação auditiva, porque não são dispositivos médicos. Não permitem nem a individualização essencial nem o trabalho de adaptação necessário a um bom resultado. São apenas isso mesmo, amplificadores de sons e ampliam todos os timbres por igual.

A questão de como reabilitar a audição não tem por isso uma, mas sim muitas respostas. É preciso encontrar a que melhor se adapta à situação em concreto.

Por isso, se está incluído/a no grupo dos que ouvem mal, não facilite. Não tente uma solução qualquer, sem ter um diagnóstico correto. Não esconda o problema e não o ignore. Não desista. Se ouve mal, ouça o seu médico.

Vera Sofia Soares

(Médica, Otorrinolaringologista)

O que é ouvir mal?

  • Pede para lhe repetirem o que foi dito? (frequentemente)
  • Lembram-lhe que está a falar alto?
  • Ouve televisão mais alto do que os outros familiares?
  • Não consegue acompanhar as conversas de grupo?
  • Os sons intensos incomodam-no/a?

Se respondeu “sim” a alguma destas questões, ouça o seu médico.

Deixar um Comentário