Nunca a ortopedia contribuiu tanto para a autonomia da marcha como agora. O joelho é apenas um exemplo de como as novas técnicas ou tecnologias se transformaram em soluções para continuarmos sempre a andar. Se “ontem”, reparar poderia significar amputar, “hoje”, reparar já não implica sacrificar outras estruturas

Hoje em dia a busca da mobilidade e autonomia é uma exigência natural e atingir os limites físicos são objetivos transversais a todas as idades. Se na população jovem essa era uma situação perfeitamente normal, assistimos cada vez mais a essa mesma necessidade em indivíduos mais idosos. A cirurgia ortopédica está a acompanhar essas necessidades.

O joelho é um bom exemplo, porque esta é uma cirurgia que dispõe de meios cada vez menos invasivos para realizar as várias intervenções. As cirurgias conservadoras do joelho

(aqueles casos em que a articulação natural é mantida) são quase todas realizadas por artroscopia. Esta é uma técnica que recorre a uma câmara de vídeo para visualizar o interior do joelho, tornando assim possível realizar a técnica cirúrgica sem a exposição da articulação por uma grande incisão cirúrgica.

Esta metodologia, para além de minimamente invasiva, permite maior precisão, conseguindo-se não só uma visão mais detalhada, mas também o acesso a pontos da articulação que estão ocultos na abordagem cirúrgica clássica.

Notamos também a necessidade de reparar e conservar o mais possível a articulação original. Isto ocorre a nível da cirurgia meniscal, quando “ontem” se “amputava” esta estrutura de uma forma sistemática, hoje tentamos a sua preservação sempre que possível, sobretudo, com as novas técnicas de sutura meniscal (tentando coser o menisco quando este se rompe, ao invés de o extrair).

Também a nível da cirurgia ligamentar evoluímos muitíssimo, e dispomos hoje de diversas técnicas, cada vez menos invasivas, para efetuar a substituição dos ligamentos que se rompem dentro do joelho (sobretudo o ligamento cruzado anterior, lesão bastante frequente). Mas, para substituir este ligamento seria necessário “sacrificar” outras estruturas: tendões que servem para fazer a plastia ligamentar (ligamento postiço). Até aqui evoluímos… Atualmente usamos um único pequeno tendão da coxa, com lesão iatrogénica mínima, para substituir o ligamento original, realizando todos os gestos dentro do joelho através dos portais de artroscopia (“ligamentoplastia all-inside”). Uma intervenção que é quase sempre realizada em regime de ambulatório.

Mas, quando a articulação está demasiado estragada… é melhor substitui-la! Nestes casos, quando a cartilagem está demasiado danificada, surge a artrose do joelho e também aqui conseguimos avanços. Para realizar uma cirurgia artroplástica (prótese do joelho) já não é sempre necessário sacrificar todas as estruturas articulares. É hoje possível realizar substituições parciais da articulação, aquilo que denominamos próteses parciais ou unicompartimentais. Um tipo de solução que permite, não só uma recuperação bem mais rápida que as próteses clássicas, mas também uma sensação de “joelho mantido” muito superior.

Para nos mantermos sempre a andar, procuramos as soluções que dão andamento às necessidades dos outros.

Pedro Marques

(Médico Ortopedista)

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