São muitos e ninguém tem paciência para a pessoa idosa. Ninguém olha para eles (elas) e são eles que estão a encher as urgências. A dor é o que têm de comum, mas nunca é vista como doença, fica no registo do sintoma
As pessoas não morrem, é uma chatice. Ganharam esperança de vida, mesmo que essa vida tenha pouca esperança. É certo que apareceu a COVID e por isso morreram uns quantos. Também é verdade que o calor quase faz o mesmo. Mesmo assim, são muitos.
Cresce o número de pessoas idosas e Portugal está velho, mas se o país não sabe muito bem o que fazer na proteção à criança, à mulher, ao desempregado ou à pessoa com deficiência, muito menos paciência terá para a pessoa idosa… E por isso não investe, não olha para a violência, não olha para as condições, não olha… Até porque, a pessoa idosa é quase invisível, apesar de dar muito nas vistas quando enche Urgências e consultas de hospitais ou centros de saúde. Mesmo aí, ninguém tem paciência para os idosos. Já nem olham, nem sei se é por terem rugas a mais, que não deixam ler expressões ou se é por medo de um dia também ficarem assim. O certo é que não olham e já não são só os médicos que desviam o olhar, com a desculpa de terem de olhar para o computador. Ninguém olha.
A dor é comum, mas nunca é vista como doença, apenas como sintoma e acrescentam que tudo é próprio da idade. Saem sempre com uma extensa lista de medicamentos, que se há-de juntar a outra que existe lá em casa, porque com tanta ciência acreditam que alguém irá acertar no comprimido que um dia vai mudar a dor, o dia-a-dia, a tristeza. E fazemos da pessoa idosa o maior consumidor de fármacos, mesmo sabendo que os ensaios clínicos nunca os incluem, precisamente pela idade.
A prosperidade de uma civilização criou este enorme grupo de pessoas idosas e ainda ninguém sabe muito bem o que fazer com eles ou como os tratar. Enquanto sim e não, basta que cada um de nós aprenda a respeitar. É sempre uma pessoa, com história, vivências, experiências e um futuro, nem que seja medido em dias, porque amanhã, será sempre outro dia, para cada um de nós.
A terceira idade não tem de pesar… e este não é o tempo em que todos ficam totós. O presidente dos Estados Unidos da América tem 80 anos de idade; Adriano Moreira chegou a fazer 100 anos; Siza Vieira tem 90 anos, o presidente da República Portuguesa tem 74 anos, Rui Nabeiro morreu com 92; o pintor Manuel Cargaleiro tem 96 anos, Jorge Palma 73, António Guterres 74, a mesma idade que Meryl Streep. E por aí…
Conceição Abreu
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Adorei o texto. E a realidade deste pais. Sou assistida no Ccci, tem optimos profissionais e leio sempre com atencao os textos que publicam.
ReplyBem hajam