Esta história começou no dia da assinatura de um protocolo e os primeiros resultados são agora tornados públicos. A automação do diagnóstico de glaucoma tem estado a ser trabalhada pela Altice Labs e  pelo Centro Cirúrgico de Coimbra e o objetivo final revela-se promissor. A integração de Machine Learning já mostra potencial na deteção precoce do glaucoma.

O banco de imagens do Centro Cirúrgico de Coimbra (com mais de 15 milhões de registos) foi o ponto de partida para um projeto de investigação da Altice Labs, que tem como objetivo final a automação do diagnóstico de glaucoma. Se tivermos presente que esta é a principal causa de cegueira irreversível e que metade dos doentes com glaucoma não tem um diagnóstico, percebe-se a importância desta nova ferramenta.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que em 2040 (daqui a 16 anos), existam mais de 111 milhões de pessoas com esta doença, a principal causa de cegueira irreversível nos países desenvolvidos. Esta é a estimativa, porque em 2020 a OMS acreditava que existiam 80 milhões de pessoas com glaucoma… A doença resulta de uma série de alterações estruturais e funcionais do nervo ótico, a ferramenta que permite a transmissão da informação visual da retina ao cérebro. A doença não tem cura e evolui de forma muito silenciosa, com uma gradual perda de visão. 

O diagnóstico precoce é o único instrumento disponível para travar a progressão e, assim, evitar a cegueira. Hoje, o diagnóstico clínico envolve uma combinação de avaliações quantitativas e qualitativas, como a análise de acuidade visual, tensão ocular, campo visual e técnicas de imagem estruturais da retina e do nervo ótico como a Tomografia de Coerência Ótica (OCT). 

A integração de Machine Learning (ML) no diagnóstico, com a análise automática dos dados obtidos dos diversos exames, revelou-se uma ajuda promissora, objetiva e valiosa para distinguir – logo numa fase precoce – pessoas com risco de glaucoma, das que não têm esse risco. A investigação da Altice Labs que agora chega a uma primeira fase de conclusões recorreu  a ML, um subconjunto da inteligência artificial que recorre a um grande volume de dados (banco de imagens do Centro Cirúrgico de Coimbra) e a algoritmos, devidamente treinados para chegarem ao modelo final: o diagnóstico de glaucoma.

A capacidade de um algoritmo extrair padrões de um grande volume de dados é muito promissora para o campo de medicina. Nesta primeira fase do projeto de investigação, com quase mil olhos em análise, avaliou-se a informação de doentes com e sem patologia (estes últimos voluntários) e concluímos que os resultados obtidos são extremamente promissores na capacidade do modelo de detetar o glaucoma. Os resultados estão alinhados com os melhores resultados dos trabalhos relevantes identificados nos documentos de referência e fornecem um caminho claro para o cumprimento dos objetivos propostos. (ver trabalho final em pdf).

A partir de agora, a evolução natural deste projeto de investigação será passar do diagnóstico para a previsão do risco de progressão para patologia – para permitir que os pacientes recebam cuidados adequados aos primeiros sinais de possível desenvolvimento de glaucoma – o que exigirá algum histórico adicional de testes e diferentes abordagens técnicas. Um trabalho e objetivo que também já está em andamento.

O caminho para se chegar a esta história de automação ao serviço da medicina e do doente começou em 2020, com a assinatura de um protocolo entre a Altice Labs e o Centro Cirúrgico de Coimbra. A pandemia retirou algum ritmo à investigação, mas os primeiros resultados finais começam agora a ser publicados e divulgados. Existindo a fundada expectativa de, no médio prazo, evoluir para um produto comercial, no futuro acordo de exploração de resultados, o Centro Cirúrgico de Coimbra assume que em matéria de repartição das receitas, apenas pretende os direitos de 2,5% do valor líquido efetivamente alcançado, um valor destinado a subsidiar custos com tratamentos de doentes sem recursos económicos.

Deixar um Comentário