É o principal componente das células do corpo humano, mas também está presente fora delas. Bastaria este dado para melhor percebermos que não podemos viver sem água. Explicamos os seus poderes e acrescentamos que a água não é toda igual. O pH conta, principalmente, quando assistimos ao avançar da idade, o período da vida em que ficamos mais “ácidos”
“Substância líquida, incolor, composta de hidrogénio e de oxigénio, cuja fórmula química é H2O”, é esta a definição que encontramos em qualquer dicionário. Mas, para o corpo humano, a água é muito mais…
A água representa cerca de 60% do peso total do corpo de um indivíduo adulto e quase 80% do corpo de uma criança e isto acontece porque é o principal componente das nossas células – seja nos músculos ou nos órgãos – mas também existe fora delas, nos espaços entre as células, a que chamamos líquido extracelular. Por exemplo, quando inchamos (edema), é porque existe líquido em excesso nos espaços extracelulares.
A água é um poderoso solvente e está relacionada com praticamente todas as reações do nosso corpo. Também atua nos processos fisiológicos, como é o caso da digestão e é fundamental para o transporte de substâncias, como o oxigénio, nutrientes e sais minerais, além de proporcionar a eliminação de substâncias para fora do nosso corpo, como por exemplo, a urina, que é formada por água e substâncias tóxicas ou substâncias não tóxicas, mas em excesso, dissolvidas nessa água.
A água tem ainda um papel muito importante na regulação da temperatura do corpo. Quando o calor se torna excessivo, o suor, que possui água na sua composição, arrefece o nosso corpo. Ao entrar em contacto com o ar, o suor evapora-se à superfície da pele, causando a diminuição da temperatura do corpo. Mas, para além de presente no suor, as lágrimas também são água, evitando que a córnea fique seca, ao mesmo tempo que ajudam a limpar o olho.
É ainda a água que nos fornece proteção. O sistema nervoso central (cérebro e espinal medula) está envolvido por três membranas, as meninges, que têm a função de o proteger. Estas mesmas membranas são lubrificadas pelo líquor (líquido cefalo-raquídio), que é rico principalmente em água (para além de outras substâncias) e que fornece proteção mecânica a este sistema, suavizando os impactos do sistema nervoso central.
Acrescente-se ainda que o líquido das articulações, o líquido sinovial, também é constituído por água e tem como principal função a lubrificação das estruturas articulares. Acrescente-se ainda a função, não menos importante, de transportar nutrientes para a cartilagem articular, permitindo desta forma a sua boa mobilidade (e por isso a articulação funciona bem).
A água está ainda presente no líquido amniótico, aquele que protege o feto de impactos durante o desenvolvimento da sua vida no útero. Percebemos melhor agora, porque a água ocupa uma percentagem tão significativa do nosso corpo.
O risco da desidratação
O oposto, a desidratação, acontece quando a quantidade de água do nosso corpo diminui de tal forma, que deixa de haver equilíbrio entre a água que ingerimos e a água que perdemos. A água que ingerimos é proveniente da ingestão de água no estado líquido e da ingestão da água dos alimentos. A água que perdemos é eliminada por diversos processos fisiológicos, através da respiração, da transpiração, da urina e das fezes que, ocorrendo de forma normal, não causam qualquer problema.
Desidratamo-nos e podemos correr sérios riscos quando as perdas são acentuadas (transtornos gastrointestinais, tais como diarreia e vómitos, queimaduras extensas da pele, doenças genitais e urinárias, transpiração muito acentuada em dias de calor intenso ou por bebermos muito pouca água ou ainda por subnutrição. A desidratação não se previne apenas com a ingestão de água, mas também com a ingestão de alimentos ricos em água e alimentos ricos em sais minerais.
Quando nos mantemos hidratados a água deixa a pele mais bonita, auxilia no metabolismo celular, tornando a pele mais resistente e elástica, prevenindo o aparecimento de feridas e consequentes infeções, favorecendo a cicatrização e a regeneração da pele (pessoas diabéticas, pessoas que sofrem de varizes, de doenças da pele que a ”secam”, etc.), além de que previne o aparecimento de pedras nos rins e ainda influencia o nosso humor.
A água, com este papel tão importante e mesmo fundamental no nosso corpo, vai diminuindo a quantidade ao longo do dia, cabendo-nos a nós regular os níveis de hidratação no nosso corpo. Mas, como devemos saber a quantidade de água que devemos beber? Na tabela abaixo está indicado como calcular a quantidade de água que deve ser consumida por dia, de acordo com a idade e o peso de cada pessoa:
Idade | Quantidade de água por kg |
Jovens ativos até aos 17 anos | 40 ml por cada kg |
Dos 18 aos 55 anos | 35 ml por cada kg |
Dos 55 aos 65 anos | 30 ml por cada kg |
Mais de 65 anos | 25 ml por cada kg |
Quando por vezes pensamos que a água é toda igual, não consideramos os vários factores que distinguem uma água de outra. A sua pureza, a sua capacidade de hidratação, o seu grau de concentração em minerais e o seu pH.
O pH da água significa o seu grau de acidez, de neutralidade ou de alcalinidade, isto é, a concentração de iões H+ na água. O pH inferior a 6 é ácido (significa uma água ácida). O pH entre 6 e 7 é neutro e significa uma água neutra (não causa prejuízos, mas também não traz benefícios). O pH entre 7 e 10 é alcalino e significa uma água alcalina, a água com o pH ideal para a nossa saúde; a água com pH alcalino tem um poder de hidratação superior ao de qualquer outra água. Bebermos água com um pH entre 7 e 10 e rica em sais minerais proporciona-nos mais energia e melhor humor, uma vez que esta água é mais adequada a todas as funções metabólicas do nosso corpo.
Os jovens “alcalinos” e os idosos “ácidos”
Proporcionar-nos mais energia também significa gerar um excesso de iões H+, que precisamos eliminar do nosso corpo. Uma água que, por exemplo, seja alcalina e rica em magnésio pode ajudar-nos a prevenir doenças, tais como a diabetes, as doenças cardíacas e vasculares, a hipertensão arterial e a obesidade e, simultaneamente, proporcionar-nos uma melhor qualidade de vida. O pH da água que ingerimos tem uma influência enorme no nosso corpo. É muito importante que os líquidos que ingerimos sejam alcalinos e ricos em minerais. Quanto mais substâncias ácidas ingerirmos, pior para nós.
Com o avançar da idade vamos ficando cada vez mais “ácidos” (o idoso é “ácido”), pelo que temos de contrariar, o mais possível esta tendência natural (de recém-nascido e jovem “alcalino” a idoso “ácido”), tendo sempre em conta o facto de poder haver qualquer contraindicação ou predisposição para cálculos renais (“pedra no rim”), doenças renais ou hipertensão arterial, a título de exemplo.
De acordo com alguns estudos e como exemplo, o cancro desenvolve-se num ambiente ácido. O sangue com pH de 7,45 contém 65,9% mais oxigénio que o sangue com pH 7,3. À medida que é aumentada a alcalinidade no corpo, é aumentada a concentração de oxigénio. Quando o pH cai para valores abaixo de 7,27, há um aumento de 100 vezes do estímulo da destruição óssea, o que desenvolve a osteoporose e o risco de fraturas. A água que devemos beber deve ser uma água bacteriologicamente boa e com sais minerais adequados à saúde e problemas de saúde de cada um, à sua alimentação, à sua idade e ao seu estilo de vida.
E as águas termais?
As águas termais proporcionam-nos enormes benefícios para a nossa saúde e para o nosso bem-estar. Através da interação da água com as rochas, esta água sofre um processo de enriquecimento durante anos pelos minerais presentes, retornando à superfície a temperaturas entre os 37o e os 50o e com propriedades terapêuticas e dermatológicas.
As inúmeras vantagens e benefícios das águas quentes termais incluem a melhoria da circulação sanguínea, relaxamento muscular, alívio do stress e relaxamento mental, sono de melhor qualidade, normalização da tensão arterial, alívio de dores musculares e de dores nas articulações (reumatismos), diminuição das dores de cabeça (por regulação da temperatura corporal e melhor fornecimento de nutrientes às células), hidratação da pele, melhor cicatrização de feridas (água termal com elevadas concentrações de enxofre e de zinco), melhoria de problemas digestivos e eliminação do ácido úrico, entre outros. Terá sempre de consultar o seu médico para saber se pode fazer tratamento termal ou se qualquer problema de saúde que tenha não é contraindicação relativa ou absoluta ao referido tratamento.
Quanto ao poder relaxante da água, se a água termal o tem, a água do mar também. A sua contemplação, bem como a contemplação da água de um rio ou de um lago, promove um relaxamento mental, que traz uma paz e uma tranquilidade verdadeiramente capazes de permitirem uma grande capacidade de análise, de reflexão e de efeito calmante.
É bom lembrar que sem água a vida não existe, sendo essencial ao funcionamento adequado de todos os seres vivos.
Alberto Carlos Ferreira de Carvalho
(Médico, Medicina Geral e Familiar)
Excelente.
ReplyÉ certo. Estamos sempre a aprender. Bela dissertação sobre o que é a água. Parabéns Dr.
ReplyExcelente recomendação, Dr. Alberto!
ReplyEmbora, pessoalmente, tenha, de há muito, bastante conhecimento sobre o tema, foi um prazer ler este texto, quer pela quantidade de informação útil que transmite, quer pelo modo acessível e convincente como expõe e aconselha.
ReplyExcelente! Obrigada,
Muito obrigada Doutor, por partilhar uma informação tão importante para a saúde de todos.
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