Quantas dúvidas surgem na hora de planear e conceber um filho?  Muitas. A fertilidade é uma delas. Surge com um ponto de interrogação na cabeça de muitas mulheres, homens e casais. Quando programam a gravidez e esta não é alcançada em condições normais, no prazo de 12 meses, a dúvida instala-se.

Há condições básicas exigidas para que a tentativa de engravidar possa ser considerada efetiva ou não. Os parâmetros que são indicados como normais envolvem uma vida sexual do casal frequente, sem o uso de métodos contracetivos. Caso não ocorra uma gravidez, tem que se entender a origem, para perceber se resulta de uma disfunção nos órgãos reprodutores, ao nível dos gâmetas ou ao nível da conceção. As causas podem ter origem no homem, em aproximadamente 20-30% das situações, noutros 30-40% dos casos, o problema é da mulher.

Já com origem no casal as percentagens rondam os 30%. Os restantes 5% a 10% dos casais nem sempre apresentam causa aparente, concluindo-me muitas vezes que se trata de infertilidade inexplicada ou de causa desconhecida. Relativamente à origem, as possibilidades são muitas. No caso da mulher, em 80 % dos casos tem como principais causas:

  • Idade: a partir dos 35 anos é considerado que a mulher já se encontra numa idade reprodutiva avançada, comprometendo o potencial de reprodução. Verifica-se uma diminuição gradual e significativa, chegando a 10% aos 40 anos.
  • Trompas de Falópio: com um papel fundamental na movimentação do embrião até ao útero, podem sofrer uma disfunção que impede a confirmação de gravidez em 30% dos casos (fator tubo-peritoneal).
  • Endometriose: presença de tecido que habitualmente reveste o útero, em outros órgãos, nomeadamente: trompas e ovários.
  • Outras: medicação e outros fatores de risco, tais como, doenças oncológicas.

Quanto ao homem, as principais causas de infertilidade são:

  • Esperma: espermatozoides com mobilidade reduzida, configuração anormal, em número reduzido ou inexistentes.
  • Obstrução do Canal: parcial ou total, que transporta os espermatozoides dos testículos até ao exterior.
  • Problemas de ereção.
  • Doenças sexualmente transmissíveis (DST).
  • Obesidade extrema.

Foi durante muitos anos feita a ligação da infertilidade à mulher, descurando o papel do homem neste processo. Atualmente a realidade é outra, com novos conceitos, novas conceções que vêm sendo atualizadas pelas necessidades que se impõem na nossa sociedade. Foi há 20 anos que surgiu em Portugal a Procriação Medicamente Assistida (PMA), quando a resposta medicamentosa não ajuda a inverter os contratempos e o diagnóstico inicial. O recurso a técnicas de procriação medicamente assistida (PMA) pode ser a solução para muitos casais.

 

Consoante a origem da infertilidade, diferenciam-se as técnicas usadas:

  • A Inseminação Intra-Uterina é a mais simples das técnicas e consiste na colocação de esperma tratado diretamente no interior da cavidade uterina. É simples, rápido e praticamente indolor, mas só se pode realizar nos casos em que as trompas são permeáveis e em que o esperma tem qualidade razoável. As principais indicações para esta técnica são a existência de fator cervical (dificuldade dos espermatozoides penetrarem no muco do colo do útero), a presença de uma alteração ligeira da qualidade do esperma ou infertilidade de causa desconhecida.
  • Já a Fertilização in vitro (FIV) consiste na união dos gâmetas feminino e masculino em laboratório. Após a recolha dos óvulos por via vaginal, com controlo de ecografia, estes são colocados juntamente com os espermatozoides, em meios de cultura adequados e aguarda-se que a fecundação ocorra espontaneamente. O recurso a esta técnica está indicado na patologia das trompas, anovulação endometriose, fator masculino ligeiro ou infertilidade de causa desconhecida.
  • Outra técnica de PMA é a Microinjeção do espermatozoide no óvulo (ICSI), que tem como objetivo facilitar a fecundação através da redução ou eliminação dos obstáculos que os espermatozoides encontram na tentativa de penetrar no óvulo e de conseguir fecundá-lo. A técnica resume-se a uma microinjeção direta de um espermatozoide no interior do óvulo e é a solução para os muitos casos de infertilidade masculina graves, mas também é indicada nos casos de falha de fecundação em FIV.

Após a fecundação em FIV ou ICSI, conseguidos os embriões de qualidade, estes são transferidos para o interior da cavidade uterina. Caso se obtenham embriões excedentários podem ser criopreservados e transferidos posteriormente. Cabe aos médicos, equipas e instituições ajudar na evolução deste processo, juntamente com os interessados em ultrapassar os obstáculos e contratempos que surgiram neste trilho. Sabemos que o tema da (in) fertilidade é delicado. Por todas as questões éticas que ligam progenitores, dadores e técnicas envolvidas.

 

A informação e a legislação evoluíram, consciencializando todas as partes intervenientes e permitindo o alargamento dos beneficiários de técnicas de PMA. Em Portugal, com a segunda alteração à Lei nº 32/2006, de 26 de julho, “podem recorrer às técnicas de PMA os casais de sexo diferente ou os casais de mulheres, respetivamente casados ou casadas ou que vivam em condições análogas às dos cônjuges, bem como todas as mulheres independentemente do estado civil e da respetiva orientação sexual”.

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