A experiência ensina-nos que “quem vê caras, não vê corações” mas, quando se trata de aparência facial, todos querem nascer com tudo no devido lugar e com as medidas certas. O padrão comum abre caminho à atração, em oposição ao atípico, mas o equilíbrio nem sempre se traduz numa face atraente

A aparência facial tem uma forte influência na vida humana, nomeadamente nas interações sociais e no estabelecimento da imagem pessoal. É essencialmente um fenómeno percetual, que pode ter fundações na hereditariedade e ambiente, ou em ambos. Apesar de não existirem medições objetivas para a atracão física, indivíduos de uma mesma sociedade têm padrões comuns, que lhes permite reconhecer a atração. Diferenças étnicas e raciais, assim como o sexo, idade, educação, estatuto socioeconómico e localização geográfica desempenham um papel importante na diversificação das preferências estéticas.

Assim, a estética facial é o determinante mais relevante na beleza física, desempenhando um papel único em todas as interações sociais e no estabelecimento de uma imagem pessoal. A estética facial tem sido objeto de estudo de artistas e filósofos, definindo a beleza como um conjunto de qualidades que dão prazer aos sentidos ou à mente e, como questão filosófica, o debate continua aberto.

A beleza, sem dúvida, tem uma forte influência na vida humana. A beleza parece estar mais na mente da cultura, que no olho do observador (Diamond, 1996) e Immanuel Kant (1790) também reiterou este mesmo ponto de vista, dizendo que “o belo é aquilo que agrada universalmente sem conceito”.

A conclusão inevitável é que existe uma grande variação no que é considerado uma face estética dentro de uma dada cultura, contudo, uma face comum é considerada sempre mais estética do que uma face atípica.

A forma geral da face pode ser descrita qualitativamente de redonda, oval ou quadrada, longa ou curta e também como larga ou estreita. Independentemente do tipo facial, o equilíbrio e a harmonia são essenciais para uma boa estética facial. A face deve ser simétrica em tamanho, forma e arranjo dos componentes faciais. No entanto, é importante sublinhar que, na natureza, a simetria perfeita não existe.

Proporções faciais são fundamentais na estética facial. Verticalmente uma face equilibrada pode ser dividida em três terços: superior, médio e inferior. A proporcionalidade vertical é encontrada quando os três terços possuem aproximadamente o mesmo tamanho. O terço superior vai desde a linha do cabelo à glabela (espaço entre as sobrancelhas), o terço médio da glabela ao ponto subnasal, ponto entre o nariz e o lábio superior, e o terço inferior vai do subnasal ao mento cutâneo, o ponto mais inferior dos tecidos moles do queixo. O terço inferior da face é o mais relevante, na medida em que engloba todas as estruturas que estão diretamente envolvidas nos tratamentos ortodônticos ou ortodôntico-cirúrgico (cirurgia ortognática), refletindo-se a este nível os seus maiores efeitos. 

Este terço encontra-se ainda subdividido, definindo uma proporcionalidade ideal de 1:2 entre a altura do lábio superior e a altura do lábio inferior e mento. No ser humano, ocorre uma diferença natural entre sexos, que passa por características físicas, perceções e preferências, que podem ter influência na interação social, sexualidade ou escolha de parceiro sexual.

Vários procedimentos realizados por diferentes profissionais podem alterar a aparência facial, atuando no esqueleto facial, nos tecidos moles e nas arcadas dentárias. Um dos principais objetivos do tratamento ortodôntico-cirúrgico, em conjunto com a obtenção de uma boa oclusão dentária, é a obtenção e/ou preservação da atração facial. 

O exame facial pode ser determinante na decisão de qual o procedimento que vai resultar uma maior estética. Uma mera correção da oclusão pode originar resultados variados e muitas vezes pobres em relação à atração facial. As orientações estéticas devem ser seguidas ao determinar o plano ortodôntico e/ou cirúrgico se um dos objetivos do tratamento é a atração facial. É aqui que os especialistas desempenham um papel decisivo na determinação do destino estético da face do paciente, contudo, devem ter sempre em consideração a perceção da face pelo próprio paciente, tendo em conta os conceitos de beleza, equilíbrio, harmonia e proporção facial. Mas não só, porque a funcionalidade deve estar sempre assegurada, estando muito para lá do que o padrão define como uma “cara linda”. 

A mastigação, deglutição, respiração e linguagem articulada são a prioridade para o desejado equilíbrio. A aparência facial deveria ser apenas a capa do livro…

João Pedro Marcelino
(Médico, Cirurgião Maxilo-Facial)

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