Quando um escultor desbasta uma pedra, retira camada sobre camada e acaba por encontrar o que criou e o que já tinha sido criado. Quando nasci tudo o que sou já cá estava, não criei nada, não construí o passado que já não existia, nem o futuro que não se sabe se existirá.

Mas Deus deu-me a oportunidade de construir o meu presente… e essa é uma tarefa ciclópica a que me tenho dedicado. Sonhei reconstruir o Universo, dar alma às galáxias, reagrupar as estrelas… Iluminar o Mundo. Mas um anjo acordou-me e sussurrou: essas tarefas não são para ti… Nem foram para mim, nem serão para os nossos vizinhos… Terás uma outra missão. Mal acordado e ainda confuso arrisquei perguntar, qual? Tu serás um privilegiado… Foste escolhido, para ajudar os outros a ver as estrelas, as galáxias e o Universo que querias mudar.

Sempre pensei que o meu destino seria construir miradouros, telescópios, satélites de onde as estrelas pudessem ser observadas…
Mas não… Não seria engenheiro ou arquiteto… E não iria ter obra minha.

Anos depois percebi que aquele Deus não me deixou recriar o Universo, mas deu-me uma migalha do seu poder e escolheu-me para restaurar algumas das suas estrelas cadentes… As que ainda têm a luz de uma vela… Deu-me muito pouco poder, mas fez-me acreditar e ensinou-me a dizer… Abra os olhos porque já pode ver as estrelas, as galáxias e o Universo.

Às vezes parece milagre, mas em muitas cirurgias é isso que acontece… As estrelas de Deus estão por aí e os meus restauros também. Obrigado às estrelas que nos iluminam e a cada um dos escultores que acredita que é o Pai da obra de arte que cria ou reconstrói.

António Travassos
(Médico Oftalmologista)

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