O futebol diz que somos 11 milhões a apoiar 11 em campo. Já avisaram os senhores da campanha que não é bem assim. Há mais de 2,3 milhões de portugueses em diáspora. Ou seja, há mais 20% de pessoas que nasceram neste país, mas já cá não estão. A fome ou apenas a dignidade são a explicação. O instinto de sobrevivência obrigou-os a isso. Sim, foram obrigados. Ninguém sai de onde tem paz. E nós, os outros 11 milhões que cá ficaram, o que fazemos?
Vamos sintonizar a televisão para o próximo Europeu de Futebol, porque queremos acreditar que aqueles 11, a quem colocaram as nossas quinas ao peito, serão capazes de elevar o nome de Portugal. Nós, os outros 11 milhões, vamos ficar a assistir sentados. Cansamo-nos menos. É isto, se calhar andamos mesmo cansados e por isso não nos reinventamos, alguém o há-de fazer por nós, mesmo que não tenha nascido português. E nós, os que somos desta raça e que andamos às ordens do fisco, do psd, do ps, do be, do pcp, do cds e até do pan, iremos continuar como um qualquer sempre em pé. Não tombamos, não contrariamos, mas também não caímos. Morremos de pé.
Hoje é Dia de Portugal e de Camões, mas é, sobretudo, o Dia das Comunidades Portuguesas. As famílias haverão de comentar isso mesmo, logo à noite, quando conversarem pelo skype.
(médico oftalmologista)
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Concordo plenamente. Mas apesar de tudo é bom viver neste lindo País. Também estive em África e gostei. Quando quis, voltei para a minha Lisboa.
ReplySem duvida uma bela , completa e honesta reflexão sobre a data ….e sobre os portugueses !!!
ReplyParabéns Prof. Travassos !!
Viva Portugal!!!!
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ReplyBrilhante comentário.
Primeiro apanhar o lapso dos publicitários no que se refere aos 2,3 milhões que de certeza também apoiam, talvez até mais intensamente por estarem longe da pátria querida.
Depois na questão do “morremos de pé” é bem a mostra de povo que somos. Todos os dias ou quase, ao longos destes anos, temos sido “esborrachados” pela tal maquina do poder e o que fazemos? Protestamos? Mostramos a nossa indignação sobre as “violencias fiscais” a que nos sujeitam e sujeitaram? Protestamos contra a falta de qualidade no nosso ensino público? Protestamos contra a falta de qualidade do nosso serviço nacional de saúde?
Claro que não !!!
Vamos apoiar a nossa selecção, vamos pôr as bandeirinhas nas janelas, vamos vibrar, gritar, rir e até talvez chorar … com a nossa selecção.
Enquanto isso os que nos governam vão ter umas férias, podem continuar a “conspirar” contra nós agora no sossego porque nós … o povo estamos a apoiar a selecção.
Com isto não quero que se entenda que sou contra a selecção, claro que não, sou português, gosto que o meu país seja em que modalidade for nos represente condignamente, mas também vejo que a este grupo de trabalho lhes foram dadas todas as condições para vencer, por isso …
Boa reflexão. Só não concordo com o número de 2,3 milhões na diáspora. O número é muito superior e dos Portugueses diretos serão um número que ronda quase 5 milhões. E se forem contabilizados todos ( ou seja os que são descendentes) então teremos ainda mais uns milhões. Um abraço.
ReplyExtraordinária lucidez na reflexão do Dr. António Travassos. Tenho, por por este grande Homem, uma grande admiração. O seu profissionalismo e comportamento humano são exemplos para Portugal e para os portugueses.
Victor Neves
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