É conhecida como Holanda, mas o nome oficial é Países Baixos. Um holandês escrever sobre a sua terra natal pode gerar desconfiança, mas, também assegura que aquele território tem muito mais do que tulipas ou laranjas mecânicas. Há inúmeras razões para visitar a terra que conquistou o mar

Por ser um país maioritariamente plano, há muitas pessoas que se deslocam de bicicleta, haja sol, chuva, vento ou neve. É ali que existem mais bicicletas – 24 milhões – do que pessoas – 18 milhões e, no trânsito diário, os ciclistas têm direitos especiais que os protegem ao longo dos 35 mil quilómetros de ciclovias, mas também na estrada, onde os veículos de duas rodas têm prioridade sobre os automóveis. Portanto, prepare-se, este é território para andar principalmente a pé ou de bicicleta. Claro que o transporte público também pode ser uma opção (são confortáveis e cumprem horário), mas são mais caros que em Portugal.

A Holanda também é conhecida pela arquitetura arrojada e que em nada deforma a paisagem, mas que se integra e isso pode ser uma surpresa agradável, porque mesmo os prédios construídos para habitação são concebidos com traços diferenciadores. Talvez uma escola inspirada nos trabalhos dos grandes mestres da pintura que ali nasceram.

Contudo, as tulipas, os tamancos e a liberdade são as imagens que retemos no imediato, quando pensamos na Holanda. Mas há muito mais. Os produtos de exportação visíveis são as flores, plantas e produtos lácteos como o queijo, mas para além destes ex-libris, há outros produtos menos visíveis, que alavancam a economia daquele país, como a maquinaria industrial, produtos químicos e plásticos, carne, batata, peças de eletrónica e serviços de engenharia e tecnologia.

A distância entre a Holanda e Portugal é “curta”. Em tempo de viagem, fica mais rápido ir à Holanda (de avião) do que ao Algarve (de carro), pouco mais de duas horas de viagem. A dúvida legítima que se segue, será por onde começar, o que visitar?

A capital é Amsterdam, mas o governo fica em Haia, tal como a casa do rei e o Tribunal Penal Internacional. Muitas cidades têm canais, que serviram outrora para o transporte de mercadorias e, hoje, são um recurso aproveitado pelo turismo. Aliás, Amsterdam é também a capital dos canais, que existem numa extensão de 100 quilómetros, distribuídos por um anel interno que forma uma malha de canais, pontes e ilhas. Os cruzeiros organizados serão uma das muitas formas de conhecer a cidade.

A capital é um must para todos os gostos com as ruas de comércio, os cafés, os mercados de rua, os museus de van Gogh, Rijksmuseum e, claro, a casa de Anne Frank. Mas, para chegar a uma experiência única é preciso juntar-lhe o Red Light district e os coffeeshops. Note bem que neste último há mais alguma coisa para lá de um simples café… Outra dica e por falar em café, depressa se percebe que o nível de vida na Holanda é diferente do nosso. Lá um café pode custar 2,5 euros, vem com um biscoito, é certo.

A língua não deve ser um problema para qualquer turista, quase todos os habitantes falam bem inglês e (alguns) até dominam alguma coisa do francês.

Para sair da cidade e visitar outros territórios dos Países Baixos é aconselhável ir de carro e sugerimos apenas algumas localidades mais típicas: Monnickendam, Volendam, Alkmaar e Enkhuizen. Passar no dique que separa o mar interior do mar de norte, é uma experiência única que começa por ajudar a perceber que estamos em território conquistado à água. Passando pelo Flevopolder, pode apenas imaginar o que antes era um território de mar e como foi possível conquistar terra, recorrendo à engenharia. Mais para o sul, em direção a Haia, está o inesquecível e famoso Keukenhof (aberto só na Primavera) com os seus jardins de 7 milhões de bolbos em flor e os gigantescos campos de flores.

Segue-se Rotterdam, um centro de arquitetura moderna depois da destruição total do centro histórico, no início da II Guerra Mundial em 1940 e é agradável perceber como é possível construir sem estragar a paisagem. Muito próximo não deve perder a oportunidade de visitar o que é uma avenida de moinhos, no Kinderdijk, hoje um património da Unesco. Quem procura sossego, tem ali muitos campos sem fim para fazer longas caminhadas. 

Uma nota que não deve esquecer. Os almoços e jantares em restaurantes devem ser feitos entre as 12 e as 13h e entre as 19 e as 20h, não pense em ir jantar fora muito tarde, os estabelecimentos fecham cedo, se compararmos com os horários em Portugal. Se quiser petiscar alguma coisa na rua, deve experimentar nos frituur os croquetes e bitterballen, para acompanhar umas batatas fritas. O arenque cru também é apreciado, tal como as panquecas e as stroopwafels recheadas feitas na hora.

Afinal a terra dos antigos comerciantes e navegadores tem muito mais que a laranja mecânica ou tulipas. Terá sido neste território que as cenouras ganharam a cor laranja (cor da monarquia), selecionando as espécies que levaram à cor que hoje é mais reconhecida. 

Atualmente, os Países Baixos têm 12 províncias, nem sempre foi assim, mas sempre imperou a disputa daqueles territórios. Na chamada época dos Descobrimentos (século XVI) era daqui que saíam os barcos para a Ásia e Américas, dominando rotas que eram concorrentes dos ingleses, espanhóis e portugueses. Já na época, os navegadores eram conhecidos como os Holandeses. Dois séculos antes, a Holanda tinha recebido o dinheiro e a cultura dos judeus que foram expulsos de Espanha e Portugal. Espinosa foi um deles, houve outros. Mais uma vez, a Inquisição mudou o rumo da História.

Robert van Velze 
(Holandês e Neerlandês)

—– Quando a terra conquista o mar

Nederland, Holanda ou Países Baixos, lá para o Norte entre a Alemanha, Bélgica e o Mar do Norte, é um pequeno país que se situa no delta de grandes rios europeus, Reno, Maas e Scheldt.

Mais de 25 % do território é água e 26% está abaixo do nível do mar, tem cerca de metade do tamanho de Portugal e vivem lá quase 18 milhões de pessoas. Já foi maior, quando a Bélgica e o Luxemburgo lhe pertenciam e já foi mais pequeno, antes da conquista da terra ao mar. “Deus fez o mundo, mas nós (holandeses) fizemos a Holanda” (dizem). Depois de várias tragédias de inundações, a engenharia trouxe a segurança e a sustentabilidade. Não é de estranhar uma estrada ser transformada em túnel, para que a água e os barcos consigam circular à superfície, ou uma pista de aterragem de aviões passar por cima de uma via de autoestrada.

Estamos em terras de Países Baixos. O facto de ter tanta água obriga a uma proteção especial contra as inundações: os diques, junto à costa e rios e as barragens dão proteção e o mesmo foi feito nas zonas que ficam abaixo do nível do mar, como os pólderes. E para que a água não suba acima de níveis indesejados, foram construídos – no passado – os moinhos de vento para drenar a água. Por esta razão ainda se veem muitos moinhos, principalmente no oeste. É mais uma das  imagens de marca da Holanda

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