As varizes são uma manifestação de doença vascular/venosa crónica. As veias ficam doentes e o retorno do sangue ao coração fica comprometido. Há técnicas inovadoras – térmica e adesiva – que revelam resultados eficazes. Mas, usar meia elástica ou descruzar as pernas também podem ser estratégias úteis. Há casos e casos
Ter mais de 30 anos é uma caraterística comum entre os 2 milhões de mulheres portuguesas que sofrem desta doença crónica. Os homens não são um caso à parte, mas o número é inferior. De que falamos então? Varizes.
Quando as veias adoecem são as varizes que chamam a atenção, não só pela questão estética, mas também pela questão da dor. As varizes são tão só veias dilatadas e tortuosas, com alterações nas paredes. São visíveis nos membros inferiores e toda esta exuberância e alterações acontecem porque as válvulas, que servem para levar o sangue dos membros inferiores ao coração, deixam de funcionar, tornam-se incompetentes para garantirem o fluxo venoso no sentido contrário ao da gravidade.
A pressão dentro das veias aumenta e surgem os primeiros sintomas, as alterações na pele, as flebites e, em casos não tratados e mais avançados, a chamada úlcera.
Hoje, sabemos que existem alguns fatores que ajudam a explicar estas alterações. A predisposição genética tem um peso significativo, mas o excesso de peso (obesidade) também construi e muito para o aparecimento de varizes, tal como questões hormonais, a própria gravidez e ainda algumas atividades profissionais.
Os sintomas começam com a sensação de peso e dor nas pernas, principalmente ao fim do dia, mas também podem incluir alteração na pigmentação da pele, o que se compreende pela concentração de hemossiderina. Na presença de veias varicosas muito significativas, a epiderme pode ter tendência para uma substituição progressiva, pode surgir fibrose e pernas ficam inchadas.
Sem tratamento, a tendência será para que a doença evolua para um estadio de insuficiência venosa crónica. Os sintomas agravam-se e o risco de trombose venosa e de úlceras (mais ou menos profundas) com risco de infeção A ausência de tratamento tem riscos e é preciso mudar rotinas de vida. Quando tratada, esta é uma doença benigna e as soluções podem passar por alteração de simples hábitos, adaptação de estratégias ou recorrer a técnicas mais inovadoras. Não fazer nada não é solução.
Descruzar as pernas é um princípio. Implica mudança de hábitos, é certo. Evitar estar muitas horas sentado/a ou de pé, controlar o peso; o uso de sapatos muito altos ou muito rasos é de evitar, tal como a roupa muito apertada ou os banhos quentes ou saunas, ambos promovem a dilatação das veias. O uso de meias elástica, o chamado método de compressão, é uma recomendação feita frequentemente, apesar de ainda não estar provado que isso impeça o aparecimento ou progressão de varizes. É ainda recomendada a prática de exercício físico, no caso das modalidades que estimulam a circulação, como a ginástica, ciclismo, a dança, a natação ou tão só andar a pé. As atividades físicas que implicam aumento da pressão abdominal prolongada – como o halterofilismo, certos programas de musculação – não são recomendadas.
Quando a prevenção já não é suficiente e a doenças venosa está instalada, podem ser recomendados outros tratamentos que hoje envolvem técnicas inovadoras, eficazes e não agressivas, por comparação com a cirurgia tradicional.
A termoablação com laser ou a chamada radiofrequência, evita a remoção da veia safena pela forma tradicional e a recuperação é muito mais rápida e menos dolorosa. O procedimento é guiado por ecografia, sem necessidade de cortes e recorrendo apenas a uma fibra do chamado endolaser.
Para o tratamento de vasos menores, existe ainda um outro tipo de laser, o chamado transdérmico, com uma recuperação e retorno às atividades imediato, logo no fim da sessão. Mais recentemente, surgiu ainda uma solução que recorre ao chamado adesivo endovenoso. Sempre com o controlo de ecografia, a veia doente é tratada com “cola de cianoacrilato”, que é introduzida diretamente no interior da veia.
Mais importante ainda, é necessário garantir que é ao médico, em função do tipo de veia a tratar e do estado de evolução da doença, que cabe decidir o método e/ou técnica que melhor se adequa àquela situação especifica ou àquela veia que precisa de ser tratada. O certo é que todos os procedimentos tendem a ser menos invasivos e mais eficientes, mais tolerantes traduzindo-se sempre numa mais rápida recuperação para o doente.
Gabriel Anacleto
(Médico, com a especialidade de Angiologia e Cirurgia Vascular)
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