É um sintoma que dá uma sensação ilusória de movimento. A origem pode estar no ouvido, nos nervos vestibulares ou no sistema nervoso central. Existem causas benignas e causas graves. Um diagnóstico completo é essencial
A síndrome vertiginosa é um diagnóstico vago, muitas vezes utilizado quando uma pessoa está a sentir – ou sente recorrentemente – vertigem, isto é, uma sensação ilusória de movimento do corpo ou do ambiente em torno do indivíduo, frequentemente descrito como um movimento rotatório. É um diagnóstico muito comum e facilmente utilizado na prática médica, mas não deixa de ser um diagnóstico vago e que não esclarece realmente o que está na origem dos sintomas.
A causa da síndrome vertiginosa pode ser variada, indo desde causas benignas e comuns como a enxaqueca ou a vertigem paroxística posicional benigna, até causas mais graves como o acidente vascular cerebral (AVC) e alguns tumores. Assim, é extraordinariamente importante perceber a síndrome vertiginosa e as suas várias causas. Sem um diagnóstico preciso não é possível instituir o tratamento mais dirigido e adequado a cada situação clínica.
Mas então o que é a vertigem?
A vertigem é um sintoma extremamente comum atingindo 15-30% de adultos mundialmente e a sua prevalência aumenta com a idade. Como sintoma clínico, refere-se à sensação ilusória de movimento, tanto do ambiente exterior em relação ao próprio, como do próprio em relação ao ambiente externo, descrito frequentemente como um movimento rotatório, mas podendo ser também – por vezes – compreendido como sensação de deslocamento, deslize ou puxar.
Sempre que possível, deve ser distinguido da tontura, que ainda é um termo mais vago e refere apenas a sensação de mal-estar a nível da cabeça, também por vezes denominado sensação de ”cabeça vazia” (descrito na literatura anglo-saxónica com light headness), ambas as terminologias não apresentam uma definição ou diagnóstico associado claro. Deve ser também distinguida de pré-síncope, a sensação eminente de perda de consciência, que frequentemente tem uma causa cardíaca subjacente e, do desequilíbrio, a incapacidade em caminhar de forma estável e segura. No entanto, não é incomum a pessoa afetada manifestar vários destes sintomas ao mesmo tempo, embora a sua abordagem individual seja diferente.
A vertigem, ao contrário dos restantes sintomas previamente descritos, é um sintoma que tem habitualmente causa subjacente associada, podendo ter origem tanto em patologias do ouvido interno, nervos vestibulares ou ainda no sistema nervoso central.
Apesar das causas mais frequentes serem benignas, podem existir causas graves e, por isso, a sua abordagem deve ser rigorosa e sistemática, com um exame objetivo dirigido ao sintoma, de modo a chegar a um diagnóstico preciso.
Como chegar ao diagnóstico?
Para um diagnóstico diferencial, é necessária uma boa história clínica para perceber as características dos sintomas e quando surgem/surgiram, bem como a sua evolução e presença de outros sintomas associados. Posteriormente, é essencial um exame pormenorizado e rigoroso, centrando-se principalmente na observação detalhada dos movimentos oculares, uma vez que estes estão interligados com os estímulos vestibulares, do ouvido interno.
Na avaliação, a pessoa deve estar na posição sentada, para pesquisar nistagmo (movimento involuntário dos olhos que provoca o sintoma da vertigem e que resulta de assimetrias do sistema vestibular), alterações da perseguição ou alinhamento ocular. É ainda importante avaliar a integridade do reflexo óculo-cefálico, com movimentos bruscos da cabeça com o olhar estabilizado e realizar exame posicional, com a pessoa deitada em várias posições, enquanto se examina os movimentos dos olhos, importante para avaliar a função nos canais semicirculares do ouvido interno. Deve também ser feita avaliação cuidadosa da marcha do doente e, frequentemente, é necessário ser complementado por um exame neurológico sumário, com avaliação de força, sensibilidade e coordenação. Por vezes ainda pode ser necessário complementar este estudo clínico com um exame da audição e uma avaliação por otorrinolaringologia, para se perceber a integridade do ouvido externo e médio.
AVC’s, enxaquecas e outras causas
Após um exame detalhado, a sua interpretação permite frequentemente chegar ao diagnóstico específico da “síndrome vertiginosa”, para de seguida se proceder ao tratamento dirigido. Apesar de existirem inúmeras causas, é importante destacar as 4 principais causas de vertigem, que se dividem em 2 apresentações distintas: a vertigem persistente/mantida e a vertigem recorrente.
Quando falamos de vertigem persistente/mantida, falamos da pessoa que está constantemente a sentir vertigem, inclusive completamente parada ou deitada, em repouso. Quando estamos perante esta situação, pensamos como causas principais a nevrite vestibular e lesões cerebrais estruturais como é exemplo paradigmático o AVC.
Enquanto a nevrite vestibular costuma apresentar-se sem outros sintomas acompanhantes além da vertigem, o AVC frequentemente se acompanha de outros sintomas, como a disartria (dificuldade em falar), diplopia (visão dupla), fraqueza, parestesia (formigueiros) ou perda auditiva súbita. Além disso, é mais comum o AVC acontecer em pessoas mais idosas e com fatores de risco vasculares, como sendo a hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus e obesidade. No entanto, também podemos estar na presença de um AVC, em que a única manifestação é a vertigem, sendo a avaliação clínica detalhada essencial para distinguir estas 2 etiologias. A sua distinção é crucial, uma vez que a gravidade e o prognóstico são muito diferentes, assim como os tratamentos destas entidades.
A nevrite vestibular é uma inflamação do nervo vestibular que origina vertigem, náuseas ou vómitos e desequilíbrio, que pode durar semanas. O tratamento inclui anti-inflamatórios, sendo a recuperação habitualmente completa.
Já o AVC resulta da interrupção de fornecimento de sangue e, por sua vez, de oxigénio e nutrientes a uma parte do cérebro. Caso atinja as vias vestibulares, pode manifestar-se com vertigem isolada ou acompanhada de outros sintomas ou sinais neurológicos. É uma emergência médica, potencialmente fatal que, frequentemente necessita de tratamento urgente em contexto hospitalar. Após a fase aguda, podem ocorrer sequelas motoras ou sensitivas e é frequentemente necessária terapêutica crónica, para controlo dos fatores de risco vascular e da etiologia do AVC. No entanto, estas causas – habitualmente – não são recorrentes.
A vertigem recorrente refere-se à vertigem que se repete com uma determinada posição do corpo/ cabeça ou a vertigem que se apresenta de forma episódica, com crises de vertigem alternados com períodos assintomáticos. Dentro destes, incluem-se a vertigem paroxística posicional benigna (VPPB) e a enxaqueca vestibular.
A VPPB caracteriza-se por episódios de vertigem breves de segundos, associados a mudanças de posição que resultam do movimento de cristais de carbonato de cálcio erroneamente localizados no interior dos canais semicirculares do ouvido interno. Já a enxaqueca vestibular pode se manifestar de diferentes formas, desde uma vertigem permanente que dura entre horas a dias; uma vertigem que surge só quando a pessoa se movimenta ou até uma vertigem que surge por episódios, com ou sem cefaleia acompanhante, em tudo semelhante à descrita para VPPB.
A VPPB é mais comum em pessoas mais idosas, após quedas com traumatismo craniano ou decúbito prolongado, mas pode acontecer em qualquer idade. O exame posicional é essencial para perceber qual dos 6 canais semicirculares está envolvido, para depois fazer a manobra reposicionadora dirigida a esse canal. Se assim for, não será necessário recorrer a medidas farmacológicas.
Episódios anuais ou semanais?
Já a enxaqueca vestibular é mais comum em pessoas do sexo feminino de meia-idade e com história de enxaqueca prévia. A vertigem é frequentemente acompanhada de cefaleia ou sintomas migranosos (fotofobia, fotofobia ou precedido de aura visual ou sensitiva), mas também pode aparecer isoladamente. A frequência dos episódios é altamente variável, podendo haver com episódios a cada ano ou episódios semanais. O tratamento é dirigido aos sintomas, aquando da crise e inclui também medidas preventivas, como mudanças do estilo de vida e medicação.
Independentemente da causa subjacente, a vertigem é quase sempre acompanhada de náusea e muitas vezes vómitos, sendo um sintoma muito desconfortável para quem o sofre e que gera muita preocupação. É imperioso fazer uma abordagem completa e criteriosa para se chegar a um diagnóstico preciso e é essencial que a pessoa compreenda o porquê do seu sintoma e, com isso, perceber também o tratamento proposto. Só deste modo se pode conseguir que cumpra o tratamento e ajude ativamente na sua recuperação.
Realço mais uma vez que se deve evitar rotular uma pessoa com “síndrome vertiginosa”, porque existem muitas causas para as vertigens que não são recorrentes e não implicam tratamentos farmacológicos ou continuados. Esta designação pode mesmo gerar ansiedade, por medo de recidiva das queixas e leva, não raras vezes, a desenvolvimento de patologia psiquiátrica que condiciona a perpetuação de sintomas e mal-estar.
André Jorge
(Médico, Neurologista; OM n.º 61382)

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