Um dia, um Ser sem nome ou identificação pôs-se de pé, hoje chamamos-lhe o Homo Erectus. Quis olhar em frente, mas apercebeu-se que ainda via melhor para os lados e fez convergir os olhos. Depois, sentiu que nessa posição o calor o incomodava menos e que era capaz de correr mais…
Correu, correu e encontrou um amigo…. O Fogo… quente, luminoso e que lhe proporcionou segurança. Foi esse fogo que ajudou o seu cérebro a crescer, que o alimentou melhor e que o protegeu de predadores.
Um cérebro complexo, feito de gordura, alimentado a água, sal e açúcar, mas que se transforma num Arquiteto de escolhas… um cérebro paternalista e libertário… o nosso cérebro. Um cérebro que olha por nós, que nos ajuda a olhar os outros e o Universo, em que vivemos.
Um cérebro que aceita ser educado pelos sentidos que criou e domina, através das múltiplas informações recebidas e que continuamente manipula, transforma, acrescenta, dá vida, até que se separe com a morte.
É a este meu cérebro que agradeço o que sou, o que penso, o que faço, o que quero… Agradeço-lhe ter-me licenciado em medicina e hoje, – tal como ontem – continua a chamar–me a atenção de que não se é Médico só porque sim, porque se tem um curso de Medicina ou uma cédula profissional. É-se Médico quando percebemos que a grande obra de arte é a Natureza, mas também o ser Humano que ajudamos.
O Médico é só um arquiteto de “escolha”… um arquiteto que tem de compreender a Obra de Arte – que é o corpo humano – e o ambiente em que esta está inserida, mas também a rede de reações químicas mortas que lhe dão vida.
Ser Médico é acreditar e zelar pela Vida que ainda não conseguimos explicar, num planeta azul iluminado por um Sol sem interruptor, mas que todos os dias se esconde, só para nos deixar sonhar que já somos um Homo Sapiens. Ser médico exige esse exercício e esse ponto de partida. Se assim não for, nunca alcançaremos a magnitude de ajudar o outro.
António Travassos
(Médico, Oftalmologista)
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