A invalidez da pessoa idosa não começa com quedas ou fraturas, mas sim com a perda de massa e força muscular a partir dos 30 anos. A prevenção da sarcopenia deve começar cedo e as escolhas feitas a partir da terceira década de vida têm um impacto profundo no estado funcional das décadas seguintes

O envelhecimento é um processo natural e progressivo, frequentemente acompanhado por alterações fisiológicas e da composição corporal, nomeadamente, alterações de massa magra e massa gorda, verificando-se uma gradual perda de massa muscular, com um aumento da quantidade de gordura corporal, constituindo risco de limitações de mobilidade e mortalidade.

Esta condição, caracterizada pela perda progressiva de massa muscular, força e desempenho físico é designada por Sarcopenia e pode ter início logo a partir dos 30 anos de idade, com uma aceleração mais acentuada após os 60 anos.

A etiologia da sarcopenia é multifatorial, resultando da interação de diversos fatores, entre os quais se destacam a inatividade física, as alterações hormonais associadas ao envelhecimento, a presença de inflamação crónica, a resistência anabólica, a má nutrição e um estilo de vida inadequado. No entanto, alguns destes fatores são modificáveis, o que possibilita uma intervenção eficaz. 

Assim, a prevenção da sarcopenia deve assentar em três pilares fundamentais:

  • Exercício físico regular, com ênfase no treino de força e resistência, que estimula a síntese proteica e preserva a função muscular;
  • Alimentação equilibrada, com ingestão proteica adequada;
  • Promoção de um estilo de vida ativo, com combate ao sedentarismo e incentivo à participação social e funcional.

Embora os efeitos visíveis da sarcopenia se manifestem mais tarde, a sua origem é precoce e progressiva. Os estudos recentes indicam que é a partir dos 30 anos que se inicia uma perda lenta de massa muscular, cerca de 1% ao ano, uma situação que se acumula com o passar do tempo.

No entanto, acredita-se que um indivíduo que, a partir desta idade, incorpore na sua rotina exercício físico regular, uma alimentação equilibrada e que adote um estilo de vida ativo, pode preservar quase na totalidade a sua força e massa muscular. O estímulo contínuo ao sistema músculo-esquelético, aliado a uma nutrição adequada e hábitos saudáveis, favorecem a síntese proteica, a renovação celular e a manutenção da funcionalidade.

Em contrapartida, uma pessoa que ignora estes cuidados ao longo das décadas e adota um estilo de vida sedentário, pode enfrentar uma perda significativa de capacidade física. Vários estudos apontam para que, nestes casos, a massa muscular possa diminuir entre 30 a 40% até aos 70 anos idade, comprometendo severamente a mobilidade, o equilíbrio e a autonomia. Esta perda, além de impactar diretamente a qualidade de vida, aumenta o risco de quedas, dependência e hospitalizações. A atuação dos profissionais de saúde, orientada para a promoção da funcionalidade, deve começar ainda na fase adulta, e não apenas em idades avançadas, contribuindo para um percurso de envelhecimento saudável e ativo.

O envelhecimento ativo visa maximizar a saúde e segurança das pessoas idosas, garantindo uma vida com qualidade e dignidade. Inclui componentes físicos, mentais, emocionais e sociais, dependendo fortemente da promoção da autonomia e da funcionalidade. Neste contexto, o enfermeiro especialista em reabilitação pode ter um papel de grande relevância, colaborando com a equipa multidisciplinar na identificação precoce de sinais de declínio funcional, na implementação de programas de exercício terapêutico e na promoção de comportamentos saudáveis, com vista à manutenção de funcionalidade e autonomia ao longo do ciclo da vida.

A prevenção da sarcopenia deve começar cedo e as escolhas feitas a partir da terceira década de vida têm um impacto profundo no estado funcional das décadas seguintes. Cabe ao enfermeiro de reabilitação, enquanto promotor da funcionalidade, reforçar esta consciência e orientar a população para um percurso de envelhecimento mais saudável e autónomo. E cabe à pessoa aceitar o seu envelhecimento, assumindo uma atitude participativa, informada, consciente e ativa ao longo de todos os ciclos da vida.

O que está em causa não é apenas o processo de envelhecer, mas a forma como se envelhece. A sarcopenia não é inevitável, mas a sua prevenção precoce e contínua pode reduzir significativamente o seu impacto.

Renato Domingues
(Enfermeiro Especialista em Reabilitação)

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