À medida que vão surgindo novas evidências, os cientistas reavaliam o que julgamos certo e a nossa compreensão adapta-se. As coisas que aprendemos já não são as que devemos saber, mas a dúvida, essa vai continuar
A cultura é o método de adaptação mais elaborado da história evolutiva do mundo vivo. Em 1875, já tínhamos, quase 2 milhões de anos de locomoção bípede, já tínhamos reduzido em muito o uso de ferramentas de pedra, tínhamos cérebros que cresceram até à dimensão atual e capazes de adquirirem, manterem, transmitirem e acumularem cultura, para desenvolver uma unidade de medida universal e consistente – o Metro. Não o metro meio de transporte, mas o Metro, unidade de medida.
Presumo que todos estamos de acordo porque era necessário e porque era uma emergência a criação de uma unidade de medida. Depois, ao ler o “refinamento da definição de quilograma”, percebi que um grama pode já não ser um centímetro cúbico de água à temperatura da sua densidade máxima, 4 C.
As coisas que aprendemos já não são as que devemos saber!
À medida que vão surgindo novas evidências, os cientistas reavaliam o que julgamos certo e a nossa compreensão adapta-se, com voltas e reviravoltas e desvios, mas em geral melhorando com o tempo.
A Medicina é a ciência que desde Roger Bacon vê melhor as pessoas e as manifestações externas das suas doenças ou sofrimento, mesmo que para isso tenha de usar óculos.
A Medicina necessita de ser translacional, porque ela mexe com o Homo Sapiens, uma força da Natureza sem igual. Por isso a Medicina não pode ser praticada por “semelhança” ou com generalização do diagnóstico e da terapêutica. O crescimento e o peso de uma criança não podem continuar a ser medidos por métodos analógicos.
Um metro já não é o que era: a barra de platina cuidadosamente guardada no Museu do Louvre, é apenas uma relíquia histórica. Hoje, um metro é a distância percorrida pela luz no vácuo num 1/299792458 de segundo. O pedaço de metal conhecido como o “ Le Grand K”, 90% de platina e 10% de Irídio, acredita-se que, brevemente, será construída uma definição escrita mais precisa e que use a constante de Plank – a quantidade de energia de um fotão, para encontrar um quilo que, em qualquer lugar, estrela ou buraco negro, pese de facto um quilo.
As novas evidências também nos mostram que a vida é uma rede de reações químicas que se auto modela e cria um cérebro capaz de pensar de forma única, própria e livre. Um ser único que com a sua espiritualidade própria seja capaz de querer e de crer que a tecnologia que se desenvolve o trate com carinho e Amor. A Medicina só o será quando perceber e respeitar toda essa Vida…
Claro que a dúvida vai continuar a estar por cá. A filosofia precisa dela, mas a ciência também.
António Travassos,
Médico Oftalmologista
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