Ir mais além pode ser apenas um sonho, mas temos a capacidade para crescer com uma realidade social mais adocicada e com um Homo Sapiens a viver num ecossistema mais saudável
No meu Alentejo de afloramentos graníticos, crispados pela erosão que deu origem à terra, aprendi a crescer da esperança e da interação de homens experientes e inteligentes, tendo como cenário, a nordeste, o Castelo de Marvão.
Em criança aliciei, repetidamente, o meu pai a levar-me aos limites da nossa propriedade para ouvir um vizinho fantasiar as mais inofensivas estórias de relação, contando“mexericos”.
Assim comecei a perceber como a linguagem e as conversas que lhe estão no cerne, manipulam as mentes dos outros, expõem as nossas vulnerabilidades, mas também nos dotam de ferramentas quase perfeitas paraconseguirmos os nossos objetivos, para obtermos benefícios e, para em última análise, melhorar a nossa sobrevivência.
O nosso cérebro complexo e caótico não foi feito para pensar, mas para nos proteger do mundo. Um mundo por nós inventado e uma realidade social que apenas existe dentro dos cérebros humanos.
A realidade social, tal como a conhecemos, é uma capacidade singularmente humana, com criatividade capaz de comunicar, de copiar, de cooperar e de compreender,graças às mudanças genéticas que dotaram a nossa espécie de um cérebro grande e extremamente complexo.
“A compreensão surge de uma intrincada capacidade que os humanos possuem num grau que não se encontra em qualquer outro cérebro animal. A compreensão permite anossa integração social. A integração sensorial permite a abstração. A abstração permite que o nosso cérebro altamente complexo emita previsões flexíveis com base nas funções das coisas e não na sua forma” (Lisa FeldmanBarrett).
Anos depois cheguei a Coimbra … onde os “mexericos” eram mais elaborados, onde o caos era outro e a tragédia dos comuns melhor calculada… Dos sentidos valorizeimais a visão, a dos outros e a minha. Aprendi mais com o “nascer do Sol” do que com o por do Sol… seguindo o aforismo popular de: “Para ter saúde, pouca cama, poucoprato e muito sapato…”.
Trabalho novas ideias… e sinto necessidade de criar novas alquimias na interação entre a Justiça (justa…), a Educação e a Saúde … que quero entrelaçadas com a Cultura, a Filosofia, a Arte, a Política e a Inteligência Artificial, para superiormente Humanizarmos a Tecnologiae crescermos numa realidade social mais adocicada e com um Homo Sapiens a viver num ecossistema mais saudável. A nossa massa cerebral não pode distorcer o espaço e o tempo, pelo que temos de ser capazes de ser, sentir e saber no momento certo.
Saber que com os “mexericos“ podemos chamar a atenção, dizer coisas que podem ser interessantes ou agradáveis a um número limitado de membros do grupo que, como os símios não tem tempo para fazer o groomingde cada indivíduo separadamente.
Numa cultura que valorize fortemente os direitos e as liberdades individuais há um dilema moral (paradoxo) “porque a pior coisa que pode existir para o nosso sistema nervoso é outro ser humano, mas a melhor coisa que pode existir para o nosso sistema nervoso é outro ser humano” (Lisa Feldman Barrett).
Por isso: Os mexericos praticados com moderação às vezes são vinho tinto…. Aleixo diria:
Para uma mentira ter valor
E atingir profundidade
Tem que ter à mistura
Alguma coisa de verdade.
Para Chris Frith “A grande razão de ser da linguagem seria, pois, a mentira, possibilitando até que mintamos a nós próprios”.
(Médico, Oftalmologista)
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