Há padrões de atrofia e alterações no volume cerebral que se associam a doenças neurodegenerativas. A ressonância magnética já identifica essas alterações que, por vezes, se assemelham ao processo natural de envelhecimento e necessitam de um esclarecimento adicional

A neurorradiologia desempenha um papel importante na investigação das demências; utiliza técnicas de imagem, principalmente a ressonância magnética, que permitem detetar padrões de atrofia associadas às doenças neurodegenerativas, bem como lesões vasculares e causas cirurgicamente tratáveis, como a patologia tumoral, o hematoma subdural crónico ou a hidrocefalia de pressão normal.

Com o aumento da longevidade, assistiu-se ao aumento da incidência das doenças neurodegenerativas, que são progressivas e incapacitantes. Manifestam-se, entre outros sintomas, por defeitos de memória e do raciocínio, desorientação temporo-espacial e alterações da personalidade que interferem com as atividades diárias. É também na faixa etária mais idosa que as alterações vasculares relacionadas com o envelhecimento da parede dos vasos (ateromatose) são mais prevalentes.

São assim frequentes causas multifatoriais, pelo que é importante a deteção e eventual correção de fatores de risco, como no caso da doença cerebrovascular. As alterações corticais relacionadas com a idade podem interessar os lobos frontais que processam a memória, emoções, o controlo de impulsos, resolução de problemas, interação social e função motora, e os lobos temporais, o que pode ter implicações na memória, emoções ou na linguagem. 

Existe portanto um processo natural de envelhecimento, que, em grau variável, pode causar limitações no desempenho físico, intelectual, emocional e de relações interpessoais. O envelhecimento beneficia de estímulos, e responde positivamente aos afetos, atividade física, leitura, escrita, jogos, cinema, teatro, pintura, etc. 

Portanto não é uma doença e não necessita de ser avaliado por uma técnica de imagem.

A atrofia cerebral “fisiológica” é frequentemente generalizada, refletindo a perda do volume cerebral. Em termos de imagem, traduz-se por alargamento dos sulcos e cisternas encefálicas, com aumento proporcional do volume do sistema ventricular. As causas mais frequentes para a realização de exames nesta faixa etária são queixas comuns e nada específicas, como cefaleias, insónias, sensação subjetiva de esquecimentos, e manifestações depressivas que precisam de esclarecimento.

Na suspeita clínica de síndrome demencial, a utilização de protocolos otimizados na ressonância magnética, pode ser um contributo importante para o seu diagnóstico e seguimento, principalmente quando a atrofia interessa regiões específicas do cérebro.

A doença de Alzheimer é a principal causa de demência (seguida da doença cerebrovascular) e é responsável por 60 a 80% das demências. O diagnóstico baseia-se na clínica, em testes neuropsicológicos, estudos moleculares e laboratoriais e na informação estrutural da neuro imagem, particularmente a ressonância magnética.

Por razões ainda desconhecidas, a deposição de uma proteína anómala, a β-amiloide, incide principalmente em áreas de associação do neocortex, na região posterior do cíngulo no córtex parietal interno (pré-cuneus) e no sistema límbico. Esta deposição causa atrofia que, numa fase inicial, é mais prevalente nas regiões temporais mesiais, particularmente nos hipocampos, fundamentais para a aprendizagem e memória.

Este padrão de atrofia é identificável na ressonância magnética, mediante a obtenção, entre outras, de imagens volumétricas com elevada resolução, que permitem avaliar a espessura do córtex e diferenciá-lo da substância branca cerebral. Esta aquisição volumétrica possibilita ainda efetuar reformatações multiplanares finas, com base nas quais é possível avaliar o grau de atrofia usando escalas de análise semi-quantitativas, dirigidas à região mesial dos lobos temporais, como a escala MTA (medial temporal lobe atrophy) e ERICA

(entorhinalcórtex atrophy). 

A avaliação da atrofia parietal pode igualmente ser efetuada com base numa escala visual (posterior atrophy score). Em alternativa ou complementarmente às escalas visuais existem programas de análise volumétrica e segmentação automática. A obtenção de parâmetros comparáveis, incluindo a análise semi-quantitativa ou quantitativa da atrofia regional, é importante para o diagnóstico precoce, como marcador da progressão da doença e para a avaliação da resposta a novas terapêuticas.

Existe uma população que apresenta um Défice Cognitivo Ligeiro, que é uma condição médica em que a pessoa tem dificuldade para memorizar informação importante, como compromissos ou eventos recentes, numa proporção maior do que é esperado para a idade.

Esta perda cognitiva não interfere significativamente com a vida diária e não é suficientemente grave para justificar um diagnóstico de demência. Cerca de 10% a 15% destas pessoas progridem, por ano, para a demência, enquanto na população em geral, apenas cerca de 1% a 2% das pessoas idosas evoluem, por ano, para a demência. Desta forma, ter Défice Cognitivo Ligeiro aumenta consideravelmente a probabilidade de desenvolver Demência.

O reconhecimento desta subpopulação é obviamente importante, em termos de investigação de novas terapêuticas que certamente serão mais eficazes numa fase inicial da doença. Existem várias equipas a trabalhar em algoritmos de inteligência artificial, com base, entre outros, nos dados da ressonância magnética, de forma a diferenciar e sinalizar o subgrupo da população com Défice Cognitivo Ligeiro que irá desenvolver Alzheimer ou outras formas de demência. 

Estes métodos, ainda em fase experimental, irão, certamente, desempenhar um papel importante na imagem médica, nomeadamente no seu contributo para identificar precocemente e monitorizar doentes com demência. Esta área fascinante requer um imenso trabalho interdisciplinar, de forma a obter algoritmos robustos e confiáveis, aplicáveis à prática clínica.

Egídio Machado
(Médico, Neurorradiologista)

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