Há momentos em que os nossos recursos internos não são suficientes ou já estão gastos de tanto os usarmos. A imagem não tem de ser imbatível e perfeita. Pedir ajuda está no nosso ADN, isolados não sobrevivemos

Pedir ajuda é uma atitude comum nas nossas vidas, diríamos mesmo, essencial. Sem a presença do outro na relação, a nossa realidade não existe. Somos seres sociáveis, grupais e, se recordarmos o início da nossa História, facilmente percebemos que foi a fragilidade que nos juntou em grupos. Juntámo-nos aos nossos pares com o objetivo de sobreviver e rapidamente percebemos que esse era o caminho para a conquista, já que a falta inicial de atributos físicos não nos permitiria sobreviver isoladamente.

No momento do nascimento, somos o mamífero mais frágil e desprotegido da natureza. Fácil será pensar num bebé recém-nascido que, a poucos centímetros do seio materno, não será capaz de fazer um movimento no sentido de o encontrar, o mesmo não acontece com muitas outras crias da mesma subclasse, que rapidamente se movimentam após o nascimento e procuram a mãe para garantir alimento e, consequentemente, sobrevivência.

Na verdade, somos o mamífero mais inteligente e desenvolvido e, ainda assim, arriscamos dizer, o que precisa de mais ajuda. Contudo, muitas vezes crescemos a ouvir comentários sobre a necessidade de ser forte, de resistir. Falam-nos de “personalidades fortes”, quando na verdade, não há personalidades fracas, não é disso que se trata. Misturam-se muito as noções de autonomia e independência com as noções de ausência de necessidade de ajuda, suporte e contenção, criando, inclusivamente, a crença de que seremos avaliados negativamente se não demonstrarmos uma imagem imbatível, perfeita, total e absolutamente competente.

Quem nunca terá sentido que está no limite das suas forças? Será isso sinal de incapacidade e desvalorização? Acreditamos que não! A vulnerabilidade é tão normal na realidade humana como a ausência de força física para executar determinada tarefa. Contudo, admitir fragilidades do ponto de vista emocional é ainda um passo muito difícil e relacionado com estereótipos e mitos que nos enviam para a tal fraqueza ou até para a loucura. Quantas vezes ainda ouvimos o comentário: “isso é psicológico”? Como se, por de “psicológico” se tratar, fosse menos digno de relevância e intuindo até o facto de se considerar que, por ser “psicológico” deve esperar-se que passe sem deixar rasto, ou pior, deve esperar-se que o indivíduo se deixe de “queixumes” e resolva o que tiver a resolver.

Não pretendemos, contudo, inferir que para todo e qualquer problema seja obrigatoriamente necessário pedir ajuda profissional. De todo! Tantas são as vezes em que pedimos ajuda a quem é de nós próximo e nos é verdadeiramente querido e, com essas pessoas nos permitimos pensar nas questões que nos preocupam ou magoam e chegamos a vias de resolução para problemas.

Mas então, qual é o momento para pedir ajuda profissional? Até quando é suposto aguentar?

Há momentos na vida em que sentimos que chegámos ao limite das nossas capacidades de gestão, relativamente ao que estamos a sentir. Nesses momentos, o pedido de ajuda profissional é, muitas vezes, decisivo num caminho que nos leva à qualidade de vida, ao bem-estar e à saúde.

Devemos procurar ajuda profissional sempre que nos defrontamos com situações que estejam a ter consequências emocionais, que colocam em risco o nosso equilíbrio, sempre que sentirmos que a evolução normal do nosso quotidiano corre riscos e sempre que o grau de sofrimento se torna intolerável.

Fazer psicoterapia é uma forma de autocuidado, de autoconhecimento e que potencializa a aprendizagem na gestão das nossas questões emocionais, enriquecendo a ligação entre o indivíduo e aquilo que sente, permitindo que a tomada de decisão seja um processo menos complicado e mais eficaz, porque mais sintónico com a sua verdadeira realidade interna.

Diríamos que todos os momentos em que passamos por situações traumáticas que podem envolver, por exemplo, perdas de entes queridos, ou momentos em que por alguma razão vimos a nossa segurança física posta em causa, situações que envolvam tristeza profunda, falta de ânimo ou ausência de prazer em atividades que antes eram muito motivadoras, são momentos em que será indicado pedir ajuda profissional.

Outros sinais de alerta serão reações aparatosas de raiva ou descontrolo, bem como ansiedade ou medo que não se conseguem conter, sinais que podem ter consequências nas relações pessoais mais próximas ou sociais mais alargadas (como as relações profissionais). Razão de preocupação verdadeira devem ser também o consumo de substâncias (adições) e as alterações importantes no comportamento alimentar.

A falta de informação sobre os processos psicoterapêuticos causa ainda muitas inseguranças, dúvidas e receios. Contudo, o objetivo destes processos é ajudar, verdadeiramente, as pessoas, num ambiente que respeita o espaço e a intimidade, sem juízos de valor e tentando garantir total segurança na abordagem das questões que, muitas vezes, tentamos evitar.

Diríamos então que pedir ajuda não é para fracos, pelo contrário, concordamos que é para fortes e demonstra inteligência e coragem. Pode ser um processo difícil, já que envolve a aceitação da fragilidade que é, muitas vezes, ameaçadora porque nos deixa a nu. Ensinam-nos desde cedo que temos que ser fortes, que temos que resolver, superar, lidar…na verdade assim fazemos em grande parte dos momentos complicados das nossas vidas. Temos recursos internos que vamos usando à medida das nossas necessidades e que vão fazendo face às adversidades diárias.

E quando esses recursos não são suficientes? E quando estão gastos de tanto os utilizarmos? E quando não somos capazes de o fazer sozinhos? Bom, aí pedimos ajuda!

Ana Beatriz Condinho
(Psicóloga clínica e da saúde; Psicoterapeuta)

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