Não se pode evitar e, se tivermos em conta a esperança de vida da mulher portuguesa, mais de um terço da vida será passado em pós-menopausa. Mas damos-lhe a importância que merece? Ficar desprovida de património folicular é muito mais do que esta frase parece querer confirmar

A menopausa é, por definição, o período da vida da mulher que sucede à idade fértil, em que os ovários entram em falência definitiva. O diagnóstico é habitualmente clínico, verificando-se quando a mulher se encontra há pelo menos 12 meses sem menstruar, na ausência de outra causa identificável. A menopausa ocorre habitualmente entre os 45 e os 55 anos de idade, sendo a idade média da sua ocorrência os 51 anos (mulher europeia).

Para algumas mulheres entrar nesta nova fase da vida pode não trazer grandes alterações, mas nem sempre nem nunca, porque uma grande maioria refere sintomas como calores e afrontamentos, insónias, perturbações da memória, dificuldade de concentração, humor depressivo, fadiga e dores de cabeça (cefaleias), entre outros. Sintomas que são diários e que se instalam como que num ápice e sem aviso prévio. Algo muda, necessariamente.

A privação de estrogénios, a hormona que os ovários deixam de produzir na menopausa, leva também, a médio prazo, à ocorrência de atrofia das mucosas genitais e urinárias, e consequentemente a queixas como secura vaginal, prurido, dor nas relações sexuais, assim como a um aumento de risco de incontinência urinária e infeções urinárias. Mais tardiamente aumenta também o risco de osteoporose e de doenças cardiovasculares.

Sendo atualmente a esperança de vida da mulher portuguesa de cerca de 83 anos, isto significa que mais de um terço da vida será passado em pós-menopausa. Consequentemente, há que acompanhar devidamente a mulher nesta fase da vida, de modo a prevenir as potenciais consequências negativas da menopausa, diagnosticar e tratar as patologias ginecológicas que, entretanto, possam surgir e assim promover um envelhecimento ativo e saudável, bem como uma vida de qualidade. 

Se ainda não fez escolhas de estilo de vida saudáveis, este é o momento para repensar e adotar novos hábitos. A menopausa não se pode evitar, mas é possível diminuir os riscos e os sintomas incómodos que com ela podem surgir.

A saúde da mulher não se limita aos problemas relacionados com a reprodução e, se muito se fala sobre saúde materna, muito pouco se explica como deve ser a saúde da Mulher, incluindo todas as fases da vida. A menopausa, até pelo tempo de vida que ocupa, merece uma atenção particular. Os chamados “ataques de ansiedade”, podem não o ser e as “desculpas” de cansaço extremo, não são uma pseudojustificação, são uma realidade. A falta de paciência existe e é real, principalmente nesta fase em que os distúrbios podem tirar o sono, até porque os sintomas físicos misturam-se quase sempre com os sintomas emocionais.

A depressão, a ansiedade e as variações súbitas de humor são sintomas frequentes, aos quais ainda se podem associar a memória fraca, dificuldade de concentração, redução da líbido, pele seca, queda de cabelo, unhas fracas, dor nas articulações e aumento de peso.

A vida da mulher muda, necessariamente e é preciso uma adaptação à nova fase, mas também uma maior vigilância. É nesta fase que a incidência de vários cancros ginecológicos aumenta (endométrio, ovário e mama) e os rastreios assumem, por isso, particular importância. Por outro lado, e na perspetiva de proporcionar uma vida de qualidade, há que avaliar as consequências da menopausa e estabelecer uma orientação terapêutica adequada e individualizada, ponderando devidamente riscos e benefícios, para cada situação e monitorizando os seus resultados.

Por último, sublinhamos que a menopausa é uma fase da vida “normal”, que leva a mudanças bem-vindas para muitas mulheres (como deixar de menstruar) e que deve ser encarada como uma oportunidade para o exercício de cuidados preventivos na fase em que eles são mais úteis e a recetividade é maior, comparativamente com idades mais jovens.

Nesta fase o risco de doença é maior, mas o impacto das mudanças do estilo de vida na sua prevenção é, também ele próprio, muito mais significativo, o que possibilita a cada mulher gerir a sua menopausa.

Margarida Silvestre
(Médica, Ginecologista)

Deixar um Comentário