Sensores que detetam arritmias, sistemas inteligentes que apoiam nos exames de diagnóstico e que ajudam a interpretar imagens e o fabrico de réplicas anatómicas e próteses individualizadas são apenas algumas das novas tecnologias que estão a revolucionar a saúde. Existem ganhos é certo, mas…
O avanço tecnológico dos últimos anos tem sido vertiginoso, com profundas repercussões em múltiplas áreas — e a saúde não é exceção. Tecnologias como a inteligência artificial, sensores biométricos e impressão tridimensional (3D) estão a transformar a forma como diagnosticamos, tratamos e acompanhamos os doentes.
Inteligência Artificial: O futuro é agora
A inteligência artificial (IA) promete mudar radicalmente o paradigma na medicina. Um dos exemplos mais ilustrativos desta transformação é o ChatGPT, uma plataforma de diálogo entre utilizador e assistente virtual baseada em IA (modelos de linguagem de grande escala). O ChatGPT conseguiu aprovação no exame norte-americano para obtenção da licença médica. Aplicado à Prova Nacional de Acesso à Formação Especializada para médicos em Portugal, o ChatGPT 4o obteve pontuações dentro do top 1% em duas edições do exame e superou o desempenho mediano dos candidatos humanos.
Estes resultados evidenciam a capacidade da IA para processar um grande volume de informação e fornecer respostas com elevado rigor lógico. No entanto, a sua “criatividade” pode originar erros, conhecidos como alucinações, pelo que as suas sugestões devem ser sempre validadas por profissionais de saúde. Métodos como o machine learning, que permitem aos sistemas aprender automaticamente com grandes bases de dados, estão a ser cada vez mais utilizados para apoiar o diagnóstico, especialmente na interpretação de exames complementares como ressonâncias magnéticas, eletrocardiogramas ou biópsias.
Sensores e wearables: tecnologia ao ritmo do corpo
Os wearables — pequenos dispositivos com sensores e ligação sem fios — tornaram-se comuns no quotidiano, em especial os smartwatches. Estes aparelhos permitem monitorizar parâmetros como a frequência cardíaca e a atividade física, promovendo hábitos mais saudáveis. O número de passos por dia é um determinante fundamental da saúde cardiovascular. Menos de 5000 passos/dia definem um indivíduo sedentário, portanto recomenda-se o dobro para melhorar o prognóstico de saúde cardiovascular.
Modelos mais avançados conseguem detetar arritmias, como a fibrilhação auricular, e até realizar registos eletrocardiográficos de alta precisão, úteis para o diagnóstico de arritmias ocasionais (mediante validação médica). No entanto, a monitorização contínua pode provocar ansiedade, especialmente se os utilizadores não compreenderem a variabilidade natural dos dados biológicos. Cabe ao médico clarificar os objetivos da monitorização e ajudar a interpretar corretamente os resultados.
Impressão 3D: Da imaginação à realidade clínica
A impressão 3D — ou fabrico aditivo — democratizou o acesso à produção de objetos tridimensionais. Com um modelo digital, é hoje possível criar réplicas anatómicas de doentes reais, que podem ser usadas para planear cirurgias, treinar técnicas médicas ou desenvolver dispositivos personalizados.
Esta tecnologia tem vindo a crescer exponencialmente em medicina, permitindo criar próteses individualizadas e, num futuro próximo, até tecidos biológicos e órgãos.
Desafios da saúde digital
Apesar das vantagens, a adoção destas tecnologias exige uma abordagem equilibrada. O acesso a novas ferramentas e fontes de informação é promissor, mas também complexo, principalmente numa população com baixos níveis de literacia em saúde. Assim e para garantir ganhos efetivos, é essencial:
- Promover literacia digital entre os utentes;
- Investir na formação contínua dos profissionais de saúde;
- Manter a centralidade da relação médico-doente, que nenhuma tecnologia poderá substituir.
A tecnologia é uma aliada poderosa — desde que nunca substitua o cuidado humano, mas sim o reforce.
Manuel Santos
(Médico, Cardiologista)

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