Se a periodontite pode influenciar o controlo da Diabetes, o mesmo acontece ao inverso. A relação é bidirecional e influencia a progressão de uma e da outra. Tratar a resposta inflamatória desencadeada pela periodontite é fundamental para um controlo da Diabetes

A diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica crónica que pode ter várias causas e que resulta de várias alterações fisiopatológicas, que levam a um aumento permanente no nível de açúcar no sangue (glicemia). Segundo o “Observatório Nacional da Diabetes”, os dados publicados este ano, confirmam que o número de pessoas com a doença aumentou 20%, em sete anos, e o nosso país integra o top 3 da Europa em termos de prevalência. Estima-se que na população entre os 20 e os 79 anos (num total de 7,8 milhões de indivíduos) a prevalência seja de 14,1% – ou seja, cerca de 1,1 milhões de pessoas desta faixa etária, sendo a Diabetes tipo 2 a mais frequente.

O funcionamento normal das células no nosso organismo depende do açúcar, como fonte de energia e para se dê a ligação às células é necessário que o pâncreas produza uma hormona chamada insulina. É a alteração da ação e/ou carência desta hormona que acaba por dar origem a um aumento da glicemia na DM. A inflamação resultante de uma infeção bacteriana é um dos fatores que pode aumentar a resistência à insulina, levando a desequilíbrios no nível de glicemia. Se a diabetes não for diagnosticada ou devidamente controlada pode resultar em complicações graves, como cegueira, insuficiência renal ou amputação de membros inferiores, mas não só…

A doença periodontal ou periodontite é uma infeção com origem na placa bacteriana e atinge os tecidos de suporte do (gengivas, ligamento periodontal e osso alveolar), com uma componente inflamatória relevante e tem uma relação direta com a diabetes. Aliás, uma relação é bidirecional: A gestão adequada dos níveis de glicose é fundamental para reduzir o risco e controlar a progressão da doença periodontal em pacientes diabéticos, sendo que um bom controlo da glicemia pode reduzir a gravidade e a incidência da periodontite. Da mesma forma, o tratamento eficaz da doença periodontal pode ter um impacto positivo nos níveis de glicose, melhorando o controle da DM. Ou seja, uma pode influenciar a progressão da outra.

A inflamação sistémica, uma característica comum na Diabetes não controlada, desempenha um papel muito importante. A resposta inflamatória exacerbada pode amplificar a progressão da doença periodontal, levando a complicações mais sérias. Além disso, a diabetes pode comprometer a capacidade do corpo de reparar tecidos, dificultando a cicatrização e a regeneração dos tecidos periodontais danificados.

Para compreender o impacto que uma doença tem na outra, é importante saber que, num doente com periodontite, a área total de ferida nas gengivas à volta dos dentes pode chegar a ter uma área equivalente à da palma de uma mão. Desta forma, tal como em qualquer infeção no doente diabético, o tratamento periodontal e uma adequada higiene oral têm um impacto positivo no controlo dos níveis de açúcar no sangue e, como tal, da DM em si. 

A periodontite começa com a formação de placa bacteriana nos dentes que, se não for removida adequadamente, se transforma em tártaro. Este, por sua vez, abriga bactérias que desencadeiam uma resposta inflamatória nas gengivas. Se não tratada, essa inflamação pode agravar-se, danificando os tecidos periodontais e provocando perda óssea. Em última instância, as lesões provocadas nos tecidos podem levar à perda de dentes.

A manutenção de uma boa higiene oral é ainda mais crucial nestes doentes. A escovagem dos dentes e a utilização de outros meios complementares de higiene (fio dentário, fita dentária, escovilhões, jatos de água, etc.) e visitas periódicas ao médico dentista são essenciais para prevenir a formação de placa bacteriana e tártaro. 

A abordagem ao tratamento da DM e da Periodontite deve ser integrada. Os profissionais de saúde devem colaborar para desenvolver as estratégias mais eficazes no combate a estas doenças. Isso pode incluir um tratamento periodontal especializado e um acompanhamento regular para avaliar a saúde oral e sistémica dos doentes.

Em resumo, a relação entre doença periodontal e diabetes é bidirecional. A inflamação sistémica desempenha um papel fundamental na interação entre ambas e o controle adequado da glicose é crucial para evitar a progressão da doença periodontal em pacientes diabéticos, assim como uma boa higiene oral ajuda a manter os níveis de glicose controlados. O envolvimento de todos os profissionais de saúde que tratam estes doentes traduz-se num incremento da qualidade de vida.

Fernando Guerra
(Médico Dentista)

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