 
É uma doença um pouco esquecida e a aterosclerose é a sua principal causa. Afeta as artérias dos membros inferiores e provoca obstrução do fluxo sanguíneo. O risco de enfarte do miocárdio e de um acidente vascular cerebral aumenta e a esperança de vida diminui
A principal causa da Doença Arterial Periférica (DAP) é a aterosclerose (90% dos casos) e, como facilmente se depreende, esta é uma patologia que afeta as artérias, provocando-lhes obstruções e dificultando o normal fluxo sanguíneo, que acaba por diminuir nas extremidades. Frequentemente, esta doença está associada a obstruções concomitantes nas artérias coronárias, 25-70% dos doentes com DAP têm obstruções nas artérias do coração, que podem levar a angina de peito ou enfarte agudo do miocárdio ou nas artérias carótidas que irrigam o cérebro, 14-19% dos doentes com DAP têm doença significativa nas carótidas, o que pode ser causa de acidente vascular cerebral.
Apesar das consequências, a doença arterial periférica é muitas vezes esquecida. Está associada a múltiplos fatores de risco, habitualmente conhecidos por fatores de risco cardiovasculares (diabetes mellitus tipo 2, tabagismo, doença renal crónica em hemodiálise, hipertensão arterial, dislipidemia). Contudo, com as mudanças no estilo de vida dos últimos anos, tem-se observado um aumento exponencial de casos associados à diabetes mellitus.
A evolução da doença é variável, podendo evoluir de uma forma assintomática ou com claudicação (queixas de dor ou peso na região dos gémeos ou face posterior da coxa que aparecem com a deambulação e desaparecem com o repouso, e que agravam com o plano inclinado). Numa fase mais avançada poderemos ter as dores em decúbito/repouso (dor no pé que agrava durante a noite, quando a pessoa se deita, e que muitas vezes a obriga a levantar-se ou a dormir com o pé pendente fora da cama) ou as lesões tróficas (úlcera/feridas ou gangrena).
O diagnóstico pode realizar-se de uma forma simples em consulta, com uma história clínica e exame físico (palpação dos pulsos). Perante um quadro com queixas semelhantes às descritas, anteriormente, e com algum dos fatores de risco referidos, deve procurar o médico de família ou um especialista em angiologia e cirurgia vascular.
A simples realização de um eco doppler arterial dos membros inferiores permitirá confirmar/excluir e estudar esta patologia. Este é exame rápido e indolor. Em algumas situações poderá ser necessária a realização de outros exames, nomeadamente Angio-TAC ou Angiografia (cateterismo).
O tratamento desta doença começa pela adoção de medidas higieno dietéticas, nomeadamente cessação tabágica, dieta mediterrânica (pobre em sal e gorduras e rica em frutas e vegetais), prática de atividade física moderada (30minutos/dia) 3 a 4 vezes/semana e peso adequado (IMC <25). Também poderá ser necessária a introdução de medidas farmacológicas, nomeadamente para fluidificar o sangue, medicamentos para o colesterol, medicamentos para a diabetes e, algumas vezes, terapêutica usada para dilatar as artérias.
Com a atuação destas terapêuticas 80-85% dos indivíduos que são claudicantes melhoram das suas queixas no período de 5 anos, não necessitando de qualquer intervenção invasiva. Nos casos em que as pessoas apresentam uma claudicação incapacitante para a sua vida diária ou que possuem uma isquemia crítica ameaçadora de membro (dores em repouso ou lesões tróficas) beneficiarão, caso seja possível, de um tratamento invasivo.
O tratamento invasivo pode consistir na realização de uma angioplastia, isto é, a dilatação das artérias com um balão ou com um stent (tubo metálico que se introduz nas artérias) através de um cateterismo, designando-se este por tratamento endovascular (menos invasivo), ou através de uma cirurgia clássica
(com a realização de bypass ou endarterectomias). Em algumas situações poderão realizar-se os dois tipos de procedimentos (tratamento híbrido).
No caso de isquemia crítica ameaçadora de membro, o diagnóstico rápido é fundamental para evitar situações muito avançadas, em que não há possibilidade de tratamento invasivo de revascularização e em que a amputação major (perna ou coxa) é a alternativa para controlo da dor, lesões ou infeção.
Estudos demonstram que uma pessoa com doença arterial periférica e claudicação tem uma redução (para metade) da esperança de vida a 10 anos, enquanto se tiver uma isquemia crítica tem uma sobrevida de 10% a 10 anos, comparando com os 90% de sobrevida a 10 anos para pessoas sem DAP. A doença arterial periférica é uma doença que diminui a qualidade e esperança de vida, pelo que a prevenção e/ou tratamento são fundamentais. Esta é uma patologia que afeta um segmento importante da população, principalmente a partir da 6ª década de vida. Tem uma prevalência que é inferior a 5% em idades inferiores a 50 anos e aumenta progressivamente, podendo atingir os 25% em idades superiores a 80 anos.
Luís Antunes
(Médico, especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular)
 
																				 

Deixar um Comentário