
Será uma doença? Não. Decididamente não. Envelhecer é apenas e tão só ficar com mais idade. O aumento da esperança de vida em Portugal, equipara-nos às chamadas sociedades modernas e desenvolvidas que, por força da evolução, estão a envelhecer. E como se envelhece? Em Portugal, a situação ainda não é dramática. Até agora a nossa forte raiz rural de pouca exigência na qualidade de vida das pessoas tem sido o refúgio para não vivenciarmos o pior cenário. E amanhã?
O envelhecimento é um processo que atinge as pessoas, as sociedades, as estruturas e que, no fundo, não quer dizer mais que consequências que advêm do simples passar do tempo. No Homem há inexoravelmente um declínio progressivo de muitas funções corporais e intelectuais na idade avançada, mas envelhecer é só ficar com mais idade, pois todo o processo é heterogéneo e muito complexo, dando lugar a situações diversas em que se pode ser velho fisicamente e socialmente um jovem e vice-versa.
O envelhecimento não é uma doença e mesmo no grupo das pessoas idosas, há muita gente saudável, estimando-se internacionalmente que cerca de 80% dos idosos gozam de uma saúde bem razoável. Sabemos que as sociedades modernas e desenvolvidas estão a envelhecer, com a percentagem dos mais idosos a aumentar significativamente. Esta realidade tem efeitos negativos nas políticas de saúde e segurança social, na medida em que a sustentabilidade do chamado “estado social” é difícil.
É neste contexto que se podem formular boas ou más políticas sociais nesta área, sendo que as boas políticas dão benefícios aos cidadãos e tentam responder com eficácia a muitas das necessidades das pessoas, enquanto uma má política é toda aquela que se traduz no acentuar das dependências e incapacidades desta população. Nem sempre as boas políticas sociais imperaram no nosso País.
Nas últimas décadas a esperança de vida aumentou e a natalidade diminuiu, melhorou o acesso aos cuidados de saúde e as condições de vida tiveram uma melhoria significativa. Este fenómeno demográfico, nos países desenvolvidos, levanta várias questões, sendo que hoje para além dos problemas da sustentabilidade das políticas sociais, se põem também outros, em que a desvalorização do papel dos mais idosos se põe de forma dramática, não se reconhecendo a maior lucidez, experiência e notoriedade das pessoas mais velhas.
O Programa Nacional de Saúde para as Pessoas Idosas, de 2004, pretende contribuir para a promoção do envelhecimento ativo e saudável, estimulando a autonomia, independência e saúde dos idosos. Ao pretendermos atingir estes objetivos, devemos levar as pessoas a aceitarem as mudanças físicas, psicológicas e sociais que se operam, levando-as a descobrir novos aspetos agradáveis, corrigir limitações e deficits, aumentar a atividade, o exercício e a interação social. Estes aspetos são verdadeiros preditores da satisfação de vida e de velhice saudável.
Pobre suporte social, aumento de deficits, perdas afetivas, deterioração da qualidade de vida e doenças psiquiátricas, são o “cadinho” em que se precipitam estados de desespero e angústia, que conduzem a situações de negação da vida.
Estas são realidades que devemos tentar evitar, fazendo uma avaliação médico-social, tanto quanto possível preventiva, identificando as necessidades, mobilizando a família, preservando a intimidade e a privacidade da pessoa, minimizando a doença, aumentando a auto estima. Outro aspeto fundamental é facilitar os apoios externos que encorajam o aumento da partilha de experiências, que dão sentido à vida e que levam a um envelhecer saudável.
António Reis Marques
(psiquiatra)
Para ler o artigo na íntegra consulte a Revista Olhares
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