Nos filmes, tudo corre bem e ninguém fica a pensar num eventual contágio. Na vida real não é bem assim. As doenças sexualmente transmissíveis continuam a aumentar, algumas mais silenciosas que outras. Os sintomas podem ser um alerta, mas a sua ausência não é sinónimo de estar tudo bem. Algumas bactérias podem proliferar durante anos, mesmo em silêncio. As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) continuam a não ser levadas a sério. É preciso falar disto

As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) são uma das áreas em que o conhecimento não se reflete no comportamento. As mensagens sobre a necessidade de proteção multiplicam-se e, se dúvidas ainda existirem, há sempre o recurso à internet onde se reproduzem os alertas. E sim, é verdade que, em média, já quase todos ouviram falar do VIH/SIDA e sabem que é uma doença sexualmente transmissível. Mas e de sífilis, hepatite B, clamídia e gonorreia (por exemplo) já ouviram falar? Pois bem, pertencem todas ao grupo de doenças sexualmente transmissíveis e os jovens, mas também os adultos, sabem muito pouco sobre estes vírus ou bactérias que são transmitidos por contato sexual sem proteção.

No cinema e nas séries televisivas estas questões passam muito ao lado dos enredos, mesmo quando a história envolve a existência de vários parceiros sexuais. É preciso falar sobre isto mesmo. Não só porque as doenças sexualmente transmissíveis são uma prioridade na atividade da saúde pública, mas principalmente porque podem provocar infeções localizadas graves, que podem originar cancro (pelo vírus HPV) ou causar danos irreversíveis nos órgãos reprodutores, que serão causa de infertilidade (nas mulheres), mas também podem infetar outros órgãos, como o coração ou o cérebro (no caso da sífilis, por exemplo).

Os sintomas nem sempre são um alerta, porque a maioria das DST são assintomáticas e a mulher ou homem pode manter vários contactos sem que tenham a mínima suspeita que está infetado/a. E isto pode acontecer durante anos, como acontece com a infeção por Chlamydia tracomatis, que provoca uma das DST mais comum da Europa, a Clamídia, escapando assim ao diagnóstico e ao tratamento adequado. É ainda com esta ausência de sintomas durante um longo período de tempo que falha a preocupação, admitindo-se que o parceiro não estará infetado e por isso mesmo a proteção é dispensada. Nada mais errado. E note bem, todo o rol de DST é um grande grupo de doenças que se transmitem tão só por um contato sexual sem proteção; não estamos a falar de patologias que podem ser transmitidas numa casa de banho pública ou numa piscina…

Quando a DST é bacteriana, o antibiótico é o tratamento indicado e também aqui se começa a esbarrar com a resistência, pelo uso generalizado e incorreto. O diagnóstico deve ser precoce e o antibiótico adequado. No caso da gonorreia, já existem variantes que não respondem à maioria dos antibióticos atuais e o mesmo caminho poderá vir a percorrer a clamídia. Os custos com as DST vão certamente aumentar e também por isso, a saúde será um bem cada vez mais dispendioso. E, neste caso, não é por falta de conhecimento, mas sim por comportamentos, apenas isso, subestimando-se o risco. Por outro lado, é sempre bom sublinhar que ainda existem DST virais que são incuráveis, como o herpes, a hepatite B e a SIDA e é preciso que esta mensagem seja entendida.

As mulheres têm algumas caraterísticas anatómicas que permitem uma maior sensibilidade para algumas DST. A infertilidade e alguns tipos de cancro afetam as mulheres em maior número, mas o homem não sai ileso e a lista de complicações das DST no sexo masculino também inclui o cancro, infertilidade e ainda problemas na próstata.

A proteção sugerida continua a ser o preservativo (e mesmo assim não tem uma eficácia de 100%) e, para além de um modo próprio para a sua aplicação e uso, também tem um prazo de validade, que não deve ser ignorado.

Ana Peixoto
(Médica Ginecologista e especialista em Infertilidade e Medicina da Reprodução)

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