Assumimos que a segurança do doente é uma área incontornável da qualidade em saúde, valorizamos o papel da comunicação e a partilha de informações com o doente e entre os membros da equipa multidisciplinar da saúde

A maioria dos eventos adversos acontece quando falha a comunicação e resulta quase sempre de informação que não foi partilhada ou do alinhamento de várias questões que não foram feitas e que, por isso mesmo, ficaram sem resposta. Vários estudos realizados demonstram que 40 a 70% destes eventos adversos são evitáveis. O papel do doente é fundamental na prestação de cuidados.

O doente não deve assumir um papel passivo mas pode e deve colaborar e ter um papel fundamental na garantia da sua segurança. Para isso, é essencial que compartilhe com a equipa multidisciplinar de saúde toda a informação relevante para a cirurgia, no que diz respeito, entre outros aspetos, aos seus antecedentes clínicos (alergias, medicação, cirurgias anteriores e outras doenças…) e o problema de saúde atual, bem como as suas dúvidas e receios.

A partir do momento em que o doente entra no Centro Cirúrgico de Coimbra há a preocupação, por parte da equipa de enfermagem, de promover momentos de partilha de informação com o doente. O acolhimento do doente no internamento, a visita pré-operatória e a aplicação da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica constituem fases de um processo, onde são exploradas questões essenciais para a segurança do doente, sendo também este um momento para o doente transmitir os seus medos e dúvidas.

Por outro lado, tudo isto permite planear cuidados personalizados e diferenciados com base nas necessidades daquele doente especifico. A aplicação da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica promove a comunicação com o doente, mas também a comunicação entre os diferentes elementos da equipa, implicando a realização de um conjunto de verificações, com o propósito de garantir a segurança do doente.

O doente fica esclarecido, informado e percebe que é um elemento ativo, que tem um papel fundamental e que deve colaborar. Com a realização da visita pré-operatória, podemos concluir que um doente informado fica menos ansioso, mais confiante, mais seguro e colaborante. O doente pode estranhar o facto de estar a ser interrogado várias vezes sobre os mesmos aspetos e pela abordagem de questões que, à primeira vista, parecem banais.

Assumimos que a segurança do doente é uma área incontornável da qualidade em saúde, valorizamos o papel da comunicação e a partilha de informações com o doente e entre os membros da equipa multidisciplinar da saúde. Entendemos que numa qualquer intervenção cirúrgica, a segurança está diretamente relacionada com a qualidade do equipamento e a formação dos recursos humanos, mas também e, principalmente, com o tipo de comunicação que a equipa estabelece e ainda a forma como encara a participação do doente em todo este processo.

A verificação e a confirmação fazem parte deste caminho e o percurso só estará concluído se o doente for uma parte implicada em todo o processo. Para a equipa de enfermagem do Centro Cirúrgico de Coimbra a comunicação está identificada como uma peça chave e esta deve começar por se estabelecer empatia e ter a disponibilidade de tempo necessária para que o doente possa transmitir o que o preocupa, as suas dúvidas e os seus receios. As falhas de comunicação não podem nem devem existir e a garantia da segurança apela, necessariamente, ao empenho de todos, onde também se inclui o doente. A cultura de segurança só o é verdadeiramente se a comunicação for a ferramenta principal.

Sofia Mota
(Enfermeira)

Deixar um Comentário