Não avistámos fadas ou príncipes montados a cavalo, mas sentimos-lhe a falta, porque ficavam bem na Rota das Faias. Fomos caminhantes e foi assim que percebemos como se reinventa cada Outono
À primeira impressão, parece que não estamos em território nacional, mas foi ali, em Manteigas, que conhecemos todas as cores que o outono pode ter, mas também os tons, porque um laranja pode vestir-se de inúmeros tons.
A Rota das Faias faz-se a pé, por trilhos, e deve seguir a direção dos ponteiros do relógio. Não porque precisamos de saber que horas são, mas apenas porque é recomendado o percurso circular. São pouco mais de seis quilómetros, de dificuldade média e sempre a subir até à Capela de São Lourenço.
O ponto de partida começa na Cruz da Jugadas, seguindo o trilho da serra de S. Lourenço. Basta percorrer alguns metros para entrar no bosque das Faias e se o percurso for feito no Outono, vai perceber melhor como as florestas se reinventam, com a roupagem adaptada a cada época. Este é um dos bosques nacionais mais impressionantes e será sempre difícil traduzir em palavras o que ali se vê, sente e cheira. Não se trata de caminhar só porque sim ou porque faz bem à saúde. Há ali experiências que interessam partilhar.
As Faias, ora estão vestidas ora se despem para cobrir o chão. O bosque é denso e, se as fadas existissem, aquela seria a sua casa. Mas nem fadas, nem príncipes a cavalo. Sentimos-lhe a falta. Quando muito podemos encontrar um pastor e, claro, para além do rebanho, poderá ser avistado o seu cão de guarda (que nada faz, apenas guarda… ou pode pedir um pouco da sua merenda).
Ainda podemos ser surpreendidos por um ou outro coelho bravo, doninhas, fuinhas e alguns corvos que sobrevoam o bosque, não porque vieram preencher o cenário, mas porque aquela também é a sua casa.
É preciso avisar que se percorrer a Rota das Faias hoje e voltar dentro de alguns meses, vai pensar que se enganou no trilho, mas não, o bosque mascara-se e veste-se a rigor, consoante a época do ano. O outono é a época mais surpreendente e por isso a mais recomendada.
As Faias que ali encontramos não surgiram do nada. Tudo foi pensado há uns cem anos atrás, quando existiam os Serviços Florestais de Manteigas. Foram eles que plantaram e projetaram este bosque, juntando-lhe Faias, mas também alguns Pinheiros de Oregon. Uns e outros com alturas que podem chegar a atingir os 40/50 metros. Ao lado, ou mais à frente, já existiam alguns punhados de Castanheiros, mas também Carvalhos.
São esses antigos e imponentes Carvalhos que rodeiam a Capela de São Lourenço, que ali nasceu fruto de um antigo ritual pagão de adoração ao sol. Avisa quem sabe que, no solstício de verão, o nascer do sol é ali singular e por isso a explicação dada para se construir uma capela nesse mesmo local. Se questionar muito, é provável que ouça algumas lendas sobre a capela, mas por ora basta que aprecie a janela panorâmica que ali se abre.
Como último conselho, recomendamos que leve calçado confortável e uma garrafa de água. No final, pode voltar a Manteigas e provar as especialidades da terra. Este é um território de truta, chanfana e cabrito, mas também de esquecidos e cavacas. Quase de certeza que o pão é bom e sugerimos que resista aos enchidos… Se, pelo caminho encontrar cogumelos, pelo sim pelo não, deixe-os ficar, não lhes mexa, podem não ser comestíveis.
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Lindo…quem me dera.!
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