Há uma receita ideal para fraturar o colo do fémur?
Existem 3 ingredientes que, quando se conjugam, criam as condições ideais para uma fratura do colo do fémur. Pedro Marques, médico ortopedista acrescenta-lhe um 4.º ingrediente, o confinamento. “Fechámos os mais idosos em casa para os proteger… mas acabámos por lhes dar a receita ideal…”
A idade (e todas as fragilidades associadas), pouco sol e pouco exercício físico serão os ingredientes principais de uma receita que culmina com uma fratura do colo do fémur. A lesão é grave e a taxa de complicações também.
Na população idosa, este é mesmo um risco real?
A osteoporose e as fraturas de fragilidade são hoje em dia um problema crescente da nossa população envelhecida, mas é preciso atualizar esses dados, porque vivemos hoje dias /meses de confinamento que visam proteger, sobretudo, a população mais idosa e suscetível à COVID. Determinámos o confinamento dessas pessoas nas suas habitações e nos lares para as proteger do vírus SARS-Cov2. Mas acabámos por lhes dar a receita ideal para o aumento das fraturas do colo do fémur: confinamento, pouco exercício e pouco sol.
Precisamos de renovar a mensagem, o que deve ser acrescentado?
Não podemos esquecer de lhes dizer que se devem mexer, fazer algum exercício físico, apanhar sol e fazer uma dieta especialmente equilibrada e cuidada. Sob o ponto de vista ortopédico, mental e cognitivo, é mandatário manter os idosos ocupados e com alguma atividade física. O exercício físico evita a osteoporose, mantém os idosos ocupados e fomenta as interações pessoais. A exposição solar é extremamente importante para a síntese da vitamina D, que influencia a deposição de cálcio nos ossos. Os componentes minerais do osso são o cálcio e fosfato. Para além disso, o cálcio tem funções fisiológicas importantes na função nervosa, contração muscular, eletrofisiologia cardíaca, coagulação sanguínea…
Já a vitamina D é uma molécula derivada do colesterol, formada na pele, dependente da exposição aos raios ultravioleta do sol. A vitamina D é responsável pelo controlo dos níveis sanguíneos do cálcio, regulando a sua absorção intestinal e a sua libertação nos ossos. Exercícios ao ar livre, assim que as temperaturas e o tempo permitam devem sem fomentados. Se não puder sair de casa vá à varanda e apanhe sol por períodos de 15 minutos!
Qual será a consequência deste confinamento para as pessoas especialmente debilitadas na sua mobilidade?
A rigidez articular, atrofia muscular, perda da autonomia da marcha e quedas por desequilíbrio são as consequências da sedentarização extrema. Mesmo em espaços reduzidos é possível a realização de alguns exercícios. Se não pode sair de casa, suba e desça as escadas mais vezes. Faça alguns exercícios físicos durante 10 minutos 3 ou 4 vezes por dia: incline o tronco para a frente e tente chegar com as mãos aos tornozelos… Levante 1 kg de arroz acima da cabeça… Faça 10 repetições destes exercícios.
Ocorrerá um aumento da incidência de fraturas de fragilidade, sobretudo as fraturas do colo do fémur?
Certamente! Temos todos os ingredientes para que tal aconteça na população idosa que ficou retida no interior das suas habitações, esquecendo o exercício físico e a importante exposição solar, já sem falar nas eventuais carências alimentares. A rigidez e atrofia muscular irão contribuir para uma perda de equilíbrio e aumento da incidência de quedas.
E o tratamento destas fraturas do colo do fémur é urgente?
Claro que sim! Se antes da pandemia já era crucial operar o quanto antes estes doentes, para permitir que voltassem à posição de levante e de marcha o mais rápido possível, agora, ainda mais urgente se torna. Temos pessoas ainda mais frágeis do ponto de vista músculo-esquelético e devemos somar o risco potenciado de contágio da doença com o tempo prolongado de internamento e fora do seu ambiente protegido.
Pedro Marques
Médico Ortopedista
Para mim, que fracturei várias vértebras vertebrais, há 4 anos, os exercícios que propõe estão-me vedados. Faço 67 anos em fins de Abril. Os exercícios que pontualmente faço, não me ajudam nem em relação à rigidez nem à fraqueza muscular. As dores são mais que muitas e nem o tempo ajuda em pequenos passeios. O que posso fazer?
ReplyBom dia, sem uma avaliação clínica é difícil fazer um aconselhamento individualizado… os exercícios sugeridos são exemplos de mobilização articular, pouco exigentes e aplicáveis a indivíduos sem evidente limitação física.
ReplyTexto claro, preciso, muito esclarecedor, sendo sucinto. Agradeço-o sinceramente. Motivou-me para ao menos fazer os exercícios mencionados – eu que me interrogo muitas vezes se os idosos (mais do que eu já sou), que não podem movimentar-se e apanhar sol, se estão condenados ao fim do caminho a curto prazo.
ReplyBom dia Evelina, continue a fazer os seus exercícios e, sempre que possível, a apanhar um pouco de sol. Fique bem
ReplyExposição assertiva e motivadora, contribuindo para que ninguém fique indiferente aos benefícios que, tanto os exercícios físicos, como a exposição solar, trazem à melhoria das condições físicas e mentais de cada um
ReplyBom dia, agradecemos o envio da sua opinião
ReplyBoa noite Dr. Pedro Marques
ReplyLi o artigo completo – tudo o que cita como cozinhado ideal para um prato intragável está lá. Penso que na cabeça das pessoas com os mínimos conhecimentos de uma vida saudável e sem percalços além dos inerentes à idade e ao passado, fraturar ou sentir dores nas ancas ou outras articulações, são agravadas pela falta de mobilidade. Tudo junto, quando se tem um acidente de trabalho que deixa sequelas para sempre, a imobilidade na recuperação e no confinamento, não ajudam de modo algum o paciente. A ementa para o desastre fica completa com os seguintes ingredientes: Idade, traumas antigos e recentes, imobilização forçada com fraca utilização dos membros locomotores, alimentação, ausência da luz solar e pouca vontade cerebral para fazer os tais exercícios de manutenção. Este é o meu prato atual. Para quem tinha uma vida plena de trabalho com utilização de esforço físico e mental, este inverno confinado é, sem qualquer dúvida o pior da minha existência. No entanto, não desisto, mesmo com muitas dores continuo até que pare de vez, mas com a satisfação que morro calçado e não acamado. Boa noite e obrigado. Eduardo Carvalho
Bom dia, é importante não desistir. Obrigado por nos deixar ficar o seu testemunho. Fique bem
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