Ainda se morre do coração? A resposta é afirmativa. Mais elas que eles é verdade. Na mulher, o risco de doença cardiovascular estende-se a várias fases da vida, mas pode quadruplicar durante a menopausa. A culpa será dos níveis de estrogénio, da anatomia e da estranha forma de vida
Nove em cada dez ataques cardíacos podem ser evitados. É isso que estamos a tentar fazer quando desempacotamos as estatísticas fatalistas que concluem que o coração mata mais mulheres do que o cancro da mama. Pior, elas tombam, quase sem aviso prévio e sem alertas. Não há dor no peito (como nos homens), mas podem existir queixas de uma fadiga extrema, náuseas ou vómitos. Sintomas pouco exuberantes, diga-se, e que não fazem soar as campainhas. Os sintomas não são iguais e o risco de um prognóstico muito reservado é maior.
A patologia cardiovascular ainda é a principal causa de morte em Portugal e enquanto não desmistificamos as últimas taxas de mortalidade, cingimo-nos às estatísticas que existiam antes da COVID-19. Recuando a 2019, era sabido que as doenças cardiovasculares matavam 100 portugueses/as por dia.
O risco para estas mortes está na hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado e obesidade. Mas, a estes fatores juntam-se outros, que são específicos para quem nasce mulher: a contraceção oral; a gravidez; a menopausa precoce e as alterações pós-menopausa. Sublinhe-se que o risco de uma doença cardiovascular pode quadruplicar durante a menopausa. E porquê? O que muda? Os níveis de estrogénio ajudam a explicar porque, entre muitas outras funções, esta hormona também é responsável por melhorar a função do endotélio, aquela camada interna que existe nos vasos sanguíneos e que evita a formação de placas. Com a menopausa, a concentração de estrogénio reduz-se e essa diminuição reflete-se no efeito protetor, que se perde.
Acrescente-se ainda que o estrogénio representa um importante papel na qualidade do colesterol que o organismo produz e, uma redução na produção desta hormona, implica um aumento do colesterol “mau” e uma redução do colesterol “bom”. E pode evitar-se? Pode.
A aterosclerose é uma das principais causas do enfarte agudo do miocárdio, mais conhecido por “ataque cardíaco”, que ocorre quando há uma obstrução das artérias coronárias, resultado da acumulação de colesterol nas artérias. A hipertensão arterial, a diabetes, o colesterol elevado, a obesidade e a menopausa precoce são fatores de risco.
Recomenda-se uma alimentação adequada e exercício físico, para além do abandono de vícios como tabaco, álcool e sofá em excesso, não só para proteger o coração de um ataque, mas também para prevenir um AVC, o que se denomina de Acidente Vascular Cerebral.
É preciso sublinhar que o AVC continua a ser a primeira causa de morte e de incapacidade em Portugal e a incidência é maior no género feminino. Os fatores de risco são idênticos e incluem a hipertensão arterial, arritmias cardíacas, colesterol elevado, diabetes, tabagismo.
Nas mulheres, o risco é mais elevado durante uma gravidez (e por isso é tão importante o controle da tensão arterial), mas também durante a menopausa, associando-se com a toma de terapia hormonal de substituição (e por isso a necessidade de controle e vigilância), e ainda nos casos de enxaquecas com aura (que normalmente afetam a visão).
Hoje, sabemos as causas e como tratar mas, mais importante ainda, sabemos como se pode evitar. Basta querer.
(Médico, Cardiologista)
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