Sentados, esquecemos as competências do nosso sistema venoso, porque o sangue tem de voltar sempre ao coração, contrariando a força da gravidade. Sentado, fica tudo mais difícil…

Apesar das consequências mais conhecidas da doença COVID-19 se situarem a nível respiratório, há também um impacto ao nível do sistema venoso, quer indiretamente (pelo impacto nas alterações dos hábitos de vida), quer diretamente – através de alterações no endotélio (a camada de células que reveste os vasos sanguíneos) e que podem favorecer a ocorrência de coágulos. 

De facto, tem sido descrita, nas pessoas que desenvolvem a doença, uma tendência para episódios de trombose venosa e embolia pulmonar, dependente de alterações da coagulação que são mais marcadas com a presença da doença Covid19. Para além destes casos particulares, que devem ser tratados em meio hospitalar, há alterações do estilo de vida e de hábitos de trabalho que podem agravar ou contribuir para o aparecimento de doença venosa dos membros inferiores e, quando pensamos na circulação venosa dos membros inferiores, temos de ter a noção que o sangue, para regressar ao coração, tem que vencer a força da gravidade.


O retorno venoso baseia-se na ação da bomba muscular – cada vez que damos um passo, a compressão das veias na planta do pé e a contração dos músculos gémeos (situados na parte de trás da nossa perna) servem para bombear o sangue da perna na direção do abdómen e de regresso ao coração. A pressão nas veias do pé de uma pessoa com cerca de 1,8 m de altura, quando está de pé, pode atingir 100 mmHg, e diminui rapidamente quando começa a caminhar.

Facilmente se compreende que permanecer longos períodos de tempo parado de pé ou sentado, situações em que esta bomba muscular está inativa, vai fazer com que o sangue se acumule nas pernas, aumentado a pressão no interior das veias. Estas alterações podem resultar em edema (pernas inchadas), e outras formas de agravamento de insuficiência venosa, devendo acrescentar-se o risco de desenvolver trombose venosa profunda (dependendo da existência de outros fatores de risco – como obesidade, tabagismo, presença de doença oncológica, trauma ou cirurgia recente).

Que fazer? Algumas medidas preventivas:

  • Ter como objetivo um exercício aeróbico 30 minutos por dia (tal como caminhar, jogging, bicicleta);
  • Se permanece sentado durante todo o dia, tente levantar-se pelo menos uma vez por hora e caminhar alguns passos;
  • Controle o excesso de peso;
  • A alimentação deve ser equilibrada – obter uma boa hidratação, e ter uma dieta não obstipante;
  • Realizar exercícios de flexão plantar e dorsi-flexão;
  • Abstenção tabágica;
  • Se tiver disponibilidade, poderá efetuar elevação dos membros inferiores durante o dia – o ideal será estar deitado, com os membros inferiores elevados 30 cm acima do nível do coração – aumenta a drenagem venosa, aumenta o retorno venoso e diminui o edema do tornozelo.

Se tiver sintomas incomodativos ou o aparecimento de um edema poderá ter que recorrer a medicação – os flebotónicos são medicamentos habitualmente bem tolerados e controlam estas alterações.

Outra alternativa é o recurso ao uso de meias elásticas de contenção. Habitualmente vistas com desconfiança e tendo uma baixa taxa de adesão, existem hoje em dia meias elásticas cuja malha é muito confortável e esteticamente atraentes. Existem modelos até ao joelho, até à raiz da coxa ou mesmo collants – poderá consultar o seu Médico de Medicina Geral e Familiar ou o seu Cirurgião Vascular para perceber qual o modelo que será mais adequado (sabendo que a meia até ao joelho será adequada na maioria das situações, mas existem pessoas que não se adaptam ao uso deste modelo).

Lembramos a importância em investir nesta prevenção, porque o mau funcionamento ou a incompetência do sistema venoso acabam por proporcionar o desenvolvimento de varizes e doença venosa crónica, por isso a importância em manter a bomba muscular ativa.

Gabriel Anacleto
Médico, cirurgia vascular

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