Já não é uma dúvida, é uma certeza, porque é isso que está a acontecer. As novas tecnologias estão a reinventar a ortopedia. Aplicações, sensores, realidade aumentada e robots, há muito que estão a inovar a ortopedia. Hoje, a concorrência não é entre homens e máquinas, é entre homens com máquinas e homens sem máquinas

A revolução começou há poucos anos com a possibilidade de utilizar um simples computador para o armazenamento de dados. Hoje, chegámos ao tempo da análise desses mesmos dados. Os relatórios dos exames imagiológicos podem ser geridos por aquilo que se define como inteligência artificial; a decisão terapêutica pode recorrer a algoritmos e a execução de gestos cirúrgicos pode contar com a precisão de braços robóticos. A tecnologia entrou na prática clínica diária e não vai parar de modificar a forma como trabalhamos ou como avaliamos os doentes, como tomamos as decisões terapêuticas ou como as executamos. Na ortopedia é isso que está a acontecer. 

Hoje, a concorrência não é entre homens e máquinas, é entre homens com máquinas e homens sem máquinas. As aplicações para uso clínico multiplicam-se e oferecem uma panóplia de utilizações, seja para classificar melhor uma fratura, para discutir qual a melhor abordagem terapêutica para uma patologia ou até identificar o modelo de uma prótese do joelho ou da anca numa radiografia. Isto já acontece hoje.

Mas, as aplicações também podem ser muito úteis aos doentes, se as usarem para reportar ao médico a evolução clínica, aumentando assim a proximidade e, ao mesmo tempo, apertar o controlo clínico. Aliás, já todos ouvimos falar do uso de sensores eletrónicos para monitorização da glicémia capilar, uma prática bastante comum. Hoje, a ortopedia também pode recorrer a sensores eletrónicos que analisam a marcha e monitorizam a performance de atletas, indicadores que ajudam e complementam a decisão de retorno à atividade desportiva. Depois de uma cirurgia ao joelho – por exemplo – o acompanhamento e avaliação podem ser feitos com base na informação que os sensores colocados no membro inferior recolhem. A decisão será sempre médica, mas terá o suporte dos dados, como por exemplo a resposta dos músculos e da articulação ao esforço.

Para um futuro já muito próximo está ainda em desenvolvimento um outro tipo de sensor exclusivo para os implantes ortopédicos, que terá como função monitorizar o desgaste, analisar bioquimicamente a interface osso-implante e, assim, detetar precocemente qualquer problema.

A inovação em ortopedia também chegou ao ato cirúrgico, com a criação de tecnologia robótica exclusiva para determinado tipo de cirurgia, onde a precisão do gesto se traduz em atos cada vez mais seguros. Os primeiros robots cirúrgicos foram usados nos anos 90 e, até hoje, este tipo de tecnologia diferenciou-se em várias áreas. 

Hoje, um robot é um verdadeiro auxiliar da mão do cirurgião e a resposta tem uma precisão milimétrica, o que é impossível de concretizar pelo mais experiente cirurgião. Estes sistemas têm mecanismos que impedem, por exemplo, o corte para além do estabelecido no plano operatório, evitando-se assim o risco de lesões iatrogénicas e os danos em tecidos adjacentes. Ainda em ortopedia, o robot cirúrgico mostra capacidade superior – por comparação com os meios convencionais – no posicionamento dos implantes e respetivo alinhamento do membro, permitindo ainda uma solução individualizada para cada paciente.

Outra área de inovação é a realidade aumentada e a realidade virtual. No caso da realidade virtual, o uso é sobretudo para ensino médico, permitindo o treino de cirurgias e técnicas específicas como a artroscopia. Já a realidade aumentada, permite ao cirurgião a identificação de estruturas anatómicas ocultas, podendo assemelhar-se ao GPS que usamos nos nossos automóveis, mas para nos guiar em determinados atos cirúrgicos.

A inteligência artificial é uma área de debate na sociedade nos dias de hoje. Abre uma nova janela ao conhecimento médico, ao ensino e à evolução da Medicina. Na área da ortopedia a análise imagiológica de TAC e RM parece ter resultados otimizados. Uma questão ainda a ponderar passa pelos dados que as novas tecnologias podem usar e analisar, seja em volume, seja em diferenciação de informação. Não só pela questão da proteção deste tipo de informação, mas também até que ponto este volume de múltiplos dados (em permanente atualização) podem ou não influenciar a decisão terapêutica. Qual o limite?

Pedro Marques
(Médico, Ortopedista)

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