Estão em crescimento ósseo e amadurecimento cerebral; circuito hormonal ao rubro e força física nos limites; a caminho de uma aprendizagem de avanços e recuos, de tentativa e erro; confundindo o difícil com o fácil, o possível com o impossível. De comum, uma única caraterística: estão no grupo dos 15 anos. Um neurocirurgião, tétrico por deformação profissional, deixa alguns avisos a estes sapiens com 15 anos ou pouco mais

Dos zero aos quinze é conversa para os ancestrais pais, tios, avós e menos para os visados. Então, se não é para eles é por eles e, como neurocirurgião, dirijo-me sobretudo ao grupo dos 15 anos. 

Antes, uma pequena nota sobre o “zero”, considerado por mim, o momento em que o espermatozoide perde a cauda e, no meio de milhões, entra na arena com todo o código genético do macho, ironicamente por vezes com cromossomas só femininos ou híbridos em triplicado. Umas vezes afetando a atividade cognitiva normal e outras em que passam despercebidas até aos 15 e mais.

Portanto, fico-me pelo grupo dos 15, jovens em crescimento ósseo e amadurecimento cerebral. Conhecido, pela experiência passada, que o osso não cresce indefinidamente – Deo gratias – este grupo tem mais três ou quatro anos para atingir a meta óssea, fase em que se estabelece um equilíbrio entre osteoblastos e osteoclastos. Convém, neste período, aprenderem a lei de Wolf, segundo a qual os ossos ficam mais fortes quando colocados sob pressão e cargas repetidas. A lei contrária, do sofá e da mesa farta, também convém ser aprendida, para evitar doenças crónicas de má adaptação evolutiva, como osteoporose e obesidade mórbida.

Dos 15 aos 20, 25 atinge-se o pico do desenvolvimento do cérebro que, a partir daqui, só aumenta de volume por causas más. A bricolagem do conhecimento diversificado, da interação social e a gestão do equilíbrio orgânico homeostático serão o reforço da multiplicação de conexões neuronais, sem deformar o conteúdo do crânio. 

Com o circuito hormonal ao rubro, força física nos limites, a caminho da independência total, o grupo dos 15 tem um longo caminho a percorrer, de aprendizagem, de avanços e recuos, de tentativa e erro, de construção cautelosa ou irreverente de um futuro, que será o seu.

Como neurocirurgião, não posso deixar de alertar para as estatísticas do nosso país, que informam que a maior causa de morte entre os 15/18 e os 25 anos é provocada por acidentes de viação. Causas a que o álcool e as drogas psicotrópicas não são alheios. Confundindo o difícil com o fácil, o possível com o impossível, e alternando definitivamente o discernimento e a capacidade de reação perante o risco. Outras vezes, afrontando deliberadamente o risco máximo, com ou sem treino prévio. 

Não raramente, mesmo sem capacidades para dissertar sobre a morte, o leão, imponente e afoito, recua perante um grupo de hienas, ciente que as não pode vencer sozinho. O animal racional, conhecedor da sua força, como aqueles e aquelas que têm 15 anos, estão a caminho da potência máxima, iludem a técnica do leão e avançam frequentemente para o desconhecido, por vezes para o abismo, sem pensar duas vezes. A diferença – por comparação com os selvagens – é que os leões raramente morrem por acidentes de viação.

O neurocirurgião, tétrico por deformação profissional, avisa o sapiens de 15 anos que a deslocação por mais lenta, no meio de um tráfico desordenado, como o das cidades, é um risco diário não apenas de morte, mas de pequenos aleijões que podem comprometer a atividade motora e mental. A concussão ou contusão cerebral, isoladas, podem constituir apenas um aviso, mas a concussão, repetida, pequena mas frequente, seja na estrada ou na prática desportiva, constitui um aviso sério para o futuro. Apesar de a concussão ser apenas uma alteração da função cerebral, sem lesão orgânica visível, a súmula de vários episódios de pequeno significado podem resultar numa alteração progressiva da função dos neurónios cerebrais, e conduzir a estados demenciais alguns anos mais tarde, como a demência pugilística. O grupo dos 15, que começa a construir o futuro, tem de meter na sua bagagem estas informações, porque a melhor forma de prevenir e atuar em conformidade é a aquisição de conhecimento numa das idades mais bonitas do desenvolvimento humano.

Ainda no registo tétrico do neurocirurgião, a informação de que uma das lesões mais graves no grupo dos 15 é a fratura da coluna cervical, com perda da função motora nos membros superiores e inferiores, em acidentes tão simples como um mergulho descuidado num rio, numa lagoa, ou até no mar, de água pelo joelho, batendo com a cabeça no fundo. Mais rápido do que a diminuição da sardinha após pesca desordenada, e a quase a extinção da baleia após um misto de malvadez, enriquecimento fácil e comportamento imoral de um predador sapiens, a destruir um planeta que não é só dele. Um simples mergulho, no meio de um grupo cheio de sorrisos, alegre e descontraído, num ambiente de convívio saudável, a construir um amanhã que será, certamente, sobretudo, dos mais novos. 

Aos 15 anos, plenos de confiança e vigor, os jovens têm de representar a confiança no futuro e serem os guardiões desta esfera em aquecimento constante, pelas causas naturais que sempre existiram e, na atualidade, por causas artificiais da responsabilidade do predador mor, que lança nos rios, nos mares, em subsolos e no ar, toda a espécie de poluentes que não só degradam inexoravelmente as duas fontes fundamentais de sobrevivência, como destroem o nosso sistema imunitário e alteram todo o material genético. Uma das maiores causas de morte, a nível mundial, passou a enquadrar, além das doenças cardíacas e cerebrovasculares, os tumores malignos do pulmão, da mama, da próstata, da tiroide, colorretal e outros, resultantes em parte da poluição do planeta.

Esta maravilhosa idade dos 15 anos tem um futuro árduo pela frente, futuro que será melhor para os de “0”, se conseguirem alterar a rota de colisão com as árvores, os peixes, os animais selvagens e todos aqueles que têm direitos, sobretudo o direito de viver…

Raimundo Fernandes

(Médico, Neurocirurgião)

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