A doença instala-se e vai “minando” e crescendo silenciosamente. A fratura é apenas a primeira manifestação clínica da osteoporose, mas a probabilidade de um osso ceder e fragmentar é muito superior à de ter um ataque cardíaco, um cancro ou um acidente vascular cerebral. Sabe o risco que corre?

Andamos a negligenciar ou pelo menos a não valorizar a história de vida escrita nos nossos ossos. Desta vez a desculpa não são os tempos modernos, porque 1000 anos AC já existia osteoporose e até ouve a preocupação de descrever a doença. Os egípcios sentiram esta fragilidade óssea e certamente que assistiram à sua manifestação clínica: as fraturas. Nos três mil anos que se seguiram, esta história continua a repetir-se. Mudaram as estatísticas, porque a esperança média de vida aumentou.

Hoje, para uma mulher, o risco de morrer devido a uma fratura osteoporótica da anca é igual ao risco de morrer de cancro da mama. Nos homens, a percentagem não é tão elevada, porque se metade das mulheres terá uma fratura como consequência da osteoporose, nos homens essa percentagem desce para 30%. Com o aumento da idade, a percentagem também sobe e, nas mulheres, entre os 70 e os 79 anos de idade, mais de metade tem osteoporose e, se tiverem mais de 80 anos esta percentagem muda rapidamente para 84%. Mais de metade acaba por ter a manifestação clínica da doença. E não é preciso fazerem grandes acrobacias para que a fratura aconteça. Em Portugal, 20 % da população tem mais de 65 anos de idade (Censos 2011).

E porque cede o osso tão facilmente? Sim, basta uma queda da própria altura para que a fratura surja e, normalmente, nem é preciso sair de casa para que tal aconteça. A idade e a osteoporose são duas combinações indesejáveis, mas uma e outra estão muitas vezes associadas. A osteoporose enquanto doença instala-se e vai crescendo silenciosamente, provocando uma alteração da qualidade micro estrutural do osso, o que acaba por originar uma diminuição da resistência óssea e um maior risco de fratura.

O punho, a coluna lombar, a anca e o ombro são as zonas mais afetadas por estas fraturas osteoporóticas. Como consequência, existirá perda de mobilidade da articulação afetada, mas também diminuição da capacidade funcional, além do risco real de esta simples fratura poder ter implicações na sobrevida do doente. Sobretudo as fraturas na região da anca podem obrigar a que o doente fique acamado por longos períodos, sendo que 87 a 96% das fraturas do fémur proximal ocorrem em indivíduos com mais de 65 anos e, nestes casos, o aumento das taxas de mortalidade no primeiro ano situa-se entre os 15 e os 25%.

Nestas situações os doentes devem ser operados o mais rápido possível, para evitar o surgimento de complicações pulmonares e cardio-circulatórias, que são muitas vezes fatais. Para estes casos, o risco de uma cirurgia é muitas vezes menor que os riscos de não operar. Fica claro que o “timing” da cirurgia e as patologias do doente são os principais fatores preditivos da sobrevida do doente. Após a cirurgia é obrigatória a mobilização precoce dos doentes, sendo ainda essencial um programa de reabilitação intenso.

Pedro Marques (médico ortopedista)

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