Hoje utilizamos o volume, a velocidade, a variedade, a verdade e o valor, para definir Big Data. Estamos a falar de inteligência humana responsável. Transferir esta inteligência eletroquímica para uma inteligência de chips e algoritmos é um grande passo, mas absolutamente necessário para as nossas memórias 

Acreditei que fazer muitas cirurgias me daria experiência para o êxito – pensava em volume. Vi milhares de gravações das cirurgias que fui fazendo, tentando perceber onde poderia reduzir os tempos operatórios – velocidade. Aceitei desafios de operar casos que até então não tinham indicação cirúrgica – variedade, porque acreditei que era capaz. Pedi para fotografar e filmar os muitos casos clínicos porque acreditei que era fundamental documentar a verdade. Mostrei as imagens e filmes pelo Mundo porque sabia que tinham valor científico.

De repente e depois de dezenas de milhares de slides e filmes com qualidade ímpar, passámos do analógico para o digital e chegámos onde estamos. Com mais de 13 milhões de episódios documentados, vivemos a análise e a contra-análise no dia-a-dia, acreditando sempre que o futuro terá um nome: Medicina personalizada e de precisão, assente em padrões que dão sentido à enormíssima quantidade de dados, agora revestidos com a qualidade e utilidade que a saúde de precisão exige.

Hoje utilizamos o volume, a velocidade, a variedade, a verdade e o valor, para definir Big Data. Estamos a falar de inteligência humana responsável. Transferir esta inteligência eletroquímica para uma inteligência de chips e algoritmos é um grande passo, mas absolutamente necessário para as nossas memórias profissionais.

As memórias de longa duração podem estar guardadas em computadores e, com o software certo, este aglomerado múltiplo e heterogéneo permite-nos chegar a um padrão nos diagnósticos. A medicina fica mais precisa. Não basta a quantidade de dados, é preciso associar-lhe qualidade e precisão. É esta concentração de informação (até agora dispersa) que nos irá permitir redesenhar o passado e acreditar que o futuro da saúde será mais eficaz e, curiosamente, mais económico.

As proteínas sinápticas não existem nos computadores, onde as ondas e partículas se movimentam no Big Bang das probabilidades de Schrödinger. A mecânica quântica é o elo que apadrinha as inteligências Humana e artificial. Será que estas duas “espécies” se completam ou nascerão mulas híbridas incapazes de procriar?

A minha experiência é muito limitada, mas acredito no futuro, como acredito na cirurgia que faço, na minha Família, nos Amigos e no que a Humanidade generosamente quer. Necessitamos todos de analisar os dados lançados, o que aprendemos com o passado, o que estamos a fazer no presente e o que queremos fazer num futuro condicionado pelas incertezas de Heisenberg e de muitos políticos. A Medicina ficaria mais acessível e os diagnósticos seriam mais assertivos, com terapias personalizadas. Ainda falta completar o caminho.

Hipócrates testemunhará este abraço fraterno entre as novas tecnologias e a Filosofia, por definição, a maior e melhor ciência da Humanidade. O Big Data é só um instrumento.

António Travassos

(Médico Oftalmologista)

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