De doença rara, passou a problema de saúde pública nos países ocidentais. Mais uma vez, as alterações na dieta alimentar e o sedentarismo explicam o aumento da sua incidência. Nem sempre existem sintomas ou complicações, mas a doença diverticular do cólon pode existir no formato sem sintomas, nem complicações, ou na versão mais agressiva e que exige uma abordagem emergente e hospitalar

A doença diverticular do cólon (DDC) foi uma entidade rara até ao início do século XX. Hoje, a doença diverticular do cólon é considerada um problema de saúde pública nos países desenvolvidos, dada a alta frequência e é consensual que a incidência desta doença aumentou nas sociedades ocidentais, onde se verifica uma diminuição da ingestão de fibras.

A DDC é atualmente comum nos países ocidentais, menos frequente nos países sul-americanos e rara no oriente e África. Nos países desenvolvidos a prevalência ronda os 10% variando com a idade, podendo atingir os 30% até aos 60 anos e os 80% depois dos 80 anos.

Os divertículos cólicos podem localizar-se em qualquer segmento do cólon sendo mais frequentes na sigmoide e a seguir no cólon direito.

Mas afinal o que são os divertículos do cólon?

São bolsas, semelhantes a pequenos sacos – com cerca de 5 a10mm de diâmetro – que se desenvolvem na parede intestinal devido a diversos fatores (aumento da pressão no interior do intestino, idade, alterações da macrobiótica intestinal e peso). Quando falamos de divertículos do cólon, sem qualquer sintomatologia, a terminologia aceite é divertículose. Nesta condição, a maior parte dos portadores permanecem assintomáticos (no entanto, cerca de 20% irá desenvolver doença diverticular).

Manifestações clínicas

A diverticulose do cólon é a alteração anatómica mais frequentemente encontrada na realização das colonoscopias, mas só 20% apresentam sintomas relacionados com esta patologia.

O mais frequente é que a doença diverticular sintomática seja uma versão não complicada. Os sintomas toleram-se e incluem dor abdominal crónica, localizada habitualmente na parte inferior do abdómen esquerdo, por vezes diarreia, às vezes ansiedade – o que pode dificultar o diagnóstico diferencial com a síndrome do intestino irritável e outras situações clínicas. Percebe-se agora por que razão é fundamental a intervenção de um médico especialista, com a capacidade para um diagnóstico diferenciado.

Complicações

Mas, nem sempre, nem nunca e a diverticulite também existe numa versão aguda e ocorre em menos de 5% dos casos de diverticulose. Neste caso, as alterações acabam por provocar dores abdominais intensas e febre, o que justifica que este tipo de situação seja abordada em ambiente hospitalar, existindo tratamento médico para 80% dos casos. Os restantes 20% terão como solução um tratamento cirúrgico.

Hemorragias digestivas

Ocorrem em 10% dos doentes com doença diverticular do cólon complicada e manifestam-se pela perda de sangue nas fezes, de início súbito, sem dor abdominal, mas a hemorragia também pode ser maciça e, nesse caso, o doente necessitará de transfusões de sangue. Da mesma forma como surgem, sem sintomas que alertem, também podem parar espontaneamente e é isto que acontece em 80% dos casos de hemorragia digestiva.

Percebe-se melhor que esta é uma entidade que pode passar despercebida durante anos, sem qualquer sintoma ou complicação mas, também pode desenvolver complicações. Os abcessos, a perfuração, a peritonite, a obstrução e as fístulas podem ser consequências de uma doença diverticular do cólon, em muitos casos, associadas a mortalidade.

Há por isso fatores de risco a evitar, onde se inclui a obesidade (gordura visceral), o sedentarismo, consumo de tabaco e álcool e o tratamento prolongado com corticosteroides.

É altamente recomendado o aumento da quantidade do consumo de fibras, como cereais, frutas e verduras, bem como o consumo de líquidos, como água ou infusões. O exercício físico também exerce proteção e as simples caminhadas a pé, de 30 minutos por dia, ajudam a prevenir este tipo de patologia.

Hermano Gouveia
(Médico, Gastroenterologista)

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