A ecografia obstétrica é uma técnica muito valiosa que permite olhar para o feto em desenvolvimento dentro do útero. É um meio complementar de diagnóstico utilizado durante a gravidez, com claros benefícios, mas ainda com alguns mitos e outros tantos limites. Hoje, a versão 3D deu lugar à ecografia “sentimental”, mas não se pode perder a sua missão original, que é detetar possíveis problemas no feto ou na gravidez

É seguro para mim e para o meu bebé?

Já se realiza ecografia obstétrica há mais de 30 anos, e nunca se verificaram riscos para a mãe ou para o feto. Sabe-se que as ondas de ultrassom podem gerar calor por estarem associadas a pequenas vibrações. Este calor é mínimo e desaparece rapidamente, mas pode acumular se for direcionado durante um longo período de tempo para a mesma área. Por conseguinte, é importante que o profissional que faz a sua ecografia tenha isso em mente, enquanto realiza o exame. Esta segurança é ainda potenciada pelo facto de as empresas que fabricam equipamentos de ecografia obedecerem a regulamentos de segurança internacionais.

Porquê fazer uma ecografia durante a gravidez?

A ecografia é uma parte importante da vigilância da sua gravidez. No passado, os médicos dependiam apenas do exame físico para obter informações essenciais sobre o feto, nomeadamente para averiguar a sua vitalidade e a posição que este adota dentro do útero. Embora estes dados continuem a ser importantes, as ecografias podem fornecer muito mais informações. Desde logo, é a única forma de “ver” o bebé. Por vezes, o exame físico pode sugerir um problema (por exemplo: o abdómen é demasiado pequeno ou demasiado grande para o tempo de gravidez). A ecografia pode fornecer mais informações sobre o crescimento do bebé e a quantidade de líquido amniótico. As ecografias podem ainda ser realizadas em vários momentos da gravidez e com objetivos diferentes. 

Quantas ecografias devo fazer durante a gravidez?

Segundo as normas da DGS, numa gravidez de baixo risco devem ser efetuadas pelo menos 3 ecografias durante a gravidez: uma no 1º trimestre, outra no 2º e a última no 3º trimestre. Pode ser recomendada uma ecografia precoce na gravidez, de acordo com a clínica ou antecedentes maternos, mas esta não é de realização obrigatória.

Devemos responder às seguintes perguntas em cada ecografia:

Ecografia precoce (até às 11 semanas):

  • A gravidez está localizada dentro do útero?
  • O bebé está vivo (tem batimentos cardíacos)?
  • Quantos bebés existem?
  • Se são gémeos, que tipo de gémeos são?
  • Existe patologia uterina (miomas, septo uterino) ou anexial?

Ecografia do 1º trimestre (11-14 semanas):

  • O desenvolvimento precoce do bebé parece normal? 
  • São visíveis algumas anomalias?
  • Quantos bebés existem?
  • Se são gémeos, que tipo de gémeos são?
  • Há fluido extra no pescoço? (translucência nuca/ rastreio de anomalias cromossómicas)
  • Quando é a data provável do parto? (datação de gravidez)

Ecografia do 2º trimestre/ecografia morfológica (20-22 semanas):

  • Há suspeita de problemas para o bebé? (avaliação de malformações)
  • O bebé está a crescer bem?
  • Onde está localizada a placenta?
  • Existe uma quantidade normal de líquido amniótico?

Ecografia do 3º trimestre (30-32 semanas):

  • O bebé está a crescer bem?
  • Existe uma quantidade normal de líquido amniótico?
  • Qual é a posição do bebé?
  • Onde está localizada a placenta?
  • Existem outros problemas com o bebé não anteriormente diagnosticados?

Exame Doppler (fluxo sanguíneo)

Em situações específicas, poderá ser necessário examinar o fluxo de sangue para a placenta ou na própria vascularização do feto. O doppler irá permitir essa avaliação, e os vasos irão aparecer em cores de vermelho ou azul, de acordo com a direção do fluxo sanguíneo. Este exame poderá acrescentar informações importantes sobre o bom funcionamento da placenta e sobre o bem-estar fetal. O seu uso está bem estabelecido quando há suspeita de restrição de crescimento fetal, de forma a avaliar a qualidade dos fluxos sanguíneos da placenta e do feto. Também pode ser usado no rastreio de alterações cromossómicas, avaliação da anatomia cardíaca fetal, assim como no rastreio de patologias importantes da gravidez, como é o caso da pré-eclâmpsia.

E quando surgem alterações na ecografia? 

Se durante a ecografia de rastreio houver suspeita de alguma alteração deverá ser encaminhada para um especialista em diagnóstico pré-natal. Por vezes, se a área de preocupação for específica (como o coração), poderá recorrer a um tipo diferente, como um especialista do coração (cardiologista fetal). Deverá realizar também um exame ecográfico específico ao coração do seu bebé – uma ecocardiografia fetal. Este exame permite avaliar o coração fetal com mais detalhe e permite pesquisar a condição que se suspeita. Adicionalmente podem ser sugeridos ainda outros testes, alguns dos quais poderão ser invasivos, como uma amniocentese. A obtenção dos resultados destes exames mais específicos pode ter alguma demora. Se for o caso, a mulher grávida será devidamente informada do que será expectável neste processo.

A ecografia permite diagnosticar todos os problemas?

Ter uma ecografia “normal” exclui grande parte das possíveis patologias que podem afetar a formação fetal. No entanto, a ecografia não permite excluir todas as patologias existentes, nem uma ecografia normal é sinónimo de um bebé saudável. A ecografia não é um meio de diagnóstico perfeito, e pode não conseguir diagnosticar alguns problemas (nomeadamente surdez, cegueira, patologias metabólicas, etc), ou pode até classificar alguns problemas de forma incorreta. Poderão ser necessários mais testes, ou uma repetição da ecografia para confirmar resultados. 

Ecografia 3D

Muitos ecógrafos possuem tecnologia que permite obter imagens tridimensionais do feto. Apesar destas imagens poderem ter utilidade na suspeita de alguns tipos de anomalias, a maioria é efetuada no contexto da ecografia ”sentimental”. Isto porque permite aos pais conhecerem melhor o seu bebé. A pessoa que realiza a ecografia decidirá se este tipo de exame é necessário ou possível, pois o mesmo está dependente de várias condicionantes (posição do feto, idade gestacional, assim como a quantidade de líquido amniótico).

Ecografia sentimental

Ver o seu bebé pode ser uma experiência muito positiva. No entanto, o exame médico visa verificar a existência de problemas e não apenas de imagens. Porque a ecografia obstétrica pode ser divertida, existem muitas clínicas (por exemplo, em centros comerciais) que oferecem exames apenas para este fim. Deve estar ciente de que, por vezes, mesmo uma “ecografia por diversão” pode revelar problemas inesperados com o bebé e com a gravidez. Além disso, este tipo de ecografia não procura de forma detalhada possíveis problemas no feto ou na gravidez, pelo que não deve substituir os exames de rastreio preconizados por este tipo de ecografias. 

Em jeito de conclusão, a maioria das mulheres grávidas irá realizar ecografia durante a sua gestação. Não existindo qualquer dúvida sobre as vantagens da ecografia obstétrica na vigilância da gravidez, a sua utilização deve ser sempre devidamente acompanhada por um especialista nesta área.

Iolanda Ferreira
(Médica Ginecologista e Obstetra)

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