A transmissão de sinais fica afetada e o processador de informação sai do modo de comunicação normal. Pode ser uma doença, um trauma, uma pressão, efeitos de alguma medicação, uma infeção ou tão só um uso abusivo e excessivo de um fluxo de fibras nervosas. A diabetes pode ser causa de neuropatia periférica, tal como as alças de uma mochila, o uso prolongado de algemas ou uma noite de boémia

Se muitos já ouviram falar do Sistema Nervoso Central (SNC), menos ouvidos têm sido dados ao Sistema Nervoso Periférico (SNP). São inseparáveis. A informação só chega ao comando porque as múltiplas células nervosas do Sistema Periférico recolhem informação que, depois de transformada em impulsos elétricos, é processada, permitindo acionar os comandos certos que gerem os músculos, os órgãos internos e os órgãos sensoriais.

Quando estes nervos periféricos adoecem, há avarias no processador de informação e os sintomas, que alertam para danos nas células do sistema, podem passar por fraqueza, ardor, formigueiro ou dor nas pernas ou mãos, mas também a sensação de andar com pedras nos sapatos. Seguem-se as alterações que a neuropatia periférica costuma provocar, como a perda de sensibilidade e atrofia muscular ou mesmo alterações no funcionamento de alguns órgãos internos. 

As alterações são extensas e podem afetar a própria cinestesia, aquela capacidade que o ser humano tem para reconhecer a localização espacial do seu corpo, sem utilizar a visão.

Cada caso é um caso e os sintomas diferem muito, dependendo da localização do nervo lesionado e da consequente disfunção que acabará por provocar, mas também da extensão, porque os músculos que estão dependentes desse nervo periférico lesionado irão apresentar atrofia e debilidade.

E como acontecem as neuropatias periféricas? Mais uma vez, impera a multiplicidade. São inúmeros os fatores. Desde um trauma ou uma pressão sobre o nervo, má alimentação, algumas doenças (como as autoimunes), mas também a própria diabetes, doenças hereditárias, hepáticas, tumores e algumas infeções provocadas por vírus ou bactérias.

A “síndrome da mochila”, pela compressão do plexo braquial pelas alças da mochila, não é assim tão raro, mas também uma pneumonia pode ser responsável por uma neuropatia periférica, tal como alguns procedimentos médicos, o exercício físico pesado, um herpes, a toma de produtos tóxicos ou tão só permanecer com o braço sobre uma cadeira durante muito tempo, com adormecimento do antebraço e mão.

A conhecida síndrome do túnel cárpico também se insere no leque de neuropatias periféricas e este é bem mais conhecido do público em geral, porque afeta em maior número as mulheres, depois dos 40, 50 anos. Mais uma vez, assiste-se a uma compressão de um nervo (o mediano), que é responsável por controlar a sensibilidade palmar, do polegar, dedo indicador, dedo médio e a ação dos músculos ao redor da base do polegar. Neste caso específico, a compressão acontece porque os tecidos dos tendões flexores inflamam e é esse inchaço que vai provocar a pressão sobre o nervo mediano.

É também por compressão de um nervo que surge a chamada meralgia parestésica. As sensações de formigueiro, picada, de ardor ou de anestesia na coxa (nervo femoral-cutâneo) acabam por provocar dificuldade em caminhar ou tão só em ficar muito tempo de pé.

Neste caso, os fatores podem ser tão só mecânicos, como o uso de roupa apertada (calças ou cintas), a obesidade ou a gravidez. Mas não só, a meralgia parestésica também pode ter como causa algumas desordens que afetam o sistema nervoso central, como um AVC ou uma encefalite, entre outras, mas também um tumor ou lesão vascular no cérebro, podem explicar a existência de uma parestesia.

Se a compressão de um ou mais nervos pode surgir pelas mais variadas razões e dar lugar a uma neuropatia periférica, há outros fatores que também causam os mesmos efeitos, sem que exista uma ação mecânica sobre o nervo. É isso que acontece quando surgem as neuropatias periféricas com causas tóxicas, seja por medicação, seja por drogas ou por exposição ao chumbo. E o mesmo pode acontecer, quando a neuropatia periférica é desencadeada por uma outra patologia.

Os tratamentos dependem sempre do tipo e local da lesão. Nos casos em que existe uma compressão é sempre mais fácil a obtenção de bons resultados que, em muitos casos, passa por alteração de hábitos ou rotinas. A fisioterapia pode ser recomendada e a cirurgia também pode ser aconselhada em alguns casos. É importante que a neuropatia periférica e as suas causas sejam identificadas e diagnosticadas cedo, possibilitando assim – mais facilmente – a inversão da situação que acaba por ser causadora das limitações e/ou dores.

E há algum caminho a percorrer para prevenir as neuropatias? Há e começa – primeiro que tudo – no tratamento das patologias que lhe podem estar associadas, como a diabetes, o alcoolismo ou a artrite reumatoide. Sugerimos ainda uma dieta alimentar rica em fruta, vegetais, cereais e carnes magras, mas também o tão prescrito exercício físico, de 30 a 60 minutos, pelo menos 3 vezes por semana. Por fim, mas não menos importante, é recomendado que se evitem alguns fatores que podem desencadear uma neuropatia periférica, como movimentos repetitivos, posições viciosas, exposição a produtos tóxicos, álcool e tabaco.

Gonçalo Costa
(Médico, Neurocirurgião)

Deixar um Comentário