As exigências energéticas podem mudar, mas a necessidade diária de vitaminas e minerais mantém-se. Omitir o jantar ou reduzir esta refeição a um chá com torradas não é o melhor caminho. Apesar do avanço da idade, as necessidades diárias de proteína não diminuem e nenhuma refeição deve ser excluída, desde o pequeno-almoço à ceia

O avançar da idade não implica decréscimo em termos de necessidades diárias de vitaminas e sais minerais e, neste âmbito, a alimentação plena provedora de macro e de micronutrientes, continua a representar um papel altamente relevante e determinante, permanecendo condicionada por múltiplos fatores, modificáveis e não modificáveis, tal como em todas as outras etapas do ciclo de vida. 

Particularizando estes fatores, enfocados na pessoa com mais idade, importa considerar a influência das condicionantes de natureza ambiental, fisiológica, neuropsicológica, socioeconómica e cultural que, direta ou indiretamente tendem a influenciar, limitar e redefinir as rotinas e os hábitos alimentares.

Um padrão alimentar adequado, diversificado e equilibrado, mantido e sistematizado, é condição essencial para preservar um bom estado nutricional e para prevenir a perda de massa muscular e de força muscular (sarcopenia), e o risco de desnutrição. Em contrapartida, um estado nutricional desequilibrado, por excesso ou por defeito, está fortemente correlacionado com o aumento da taxa de morbilidade e mortalidade.

É certo que as necessidades nutricionais são variáveis ao longo de todo o ciclo de vida e, com a progressão da idade, constata-se uma diminuição da plenitude dos mecanismos de ingestão, digestão, absorção, transporte e excreção de substâncias, o que poderá representar uma diminuição das necessidades energéticas, se em contexto de ausência de doença, particularmente associado à diminuição da atividade física e à diminuição da massa muscular.

Apesar deste decréscimo das necessidades energéticas, que são providas exclusivamente pelo contributo dos macronutrientes (proteínas, hidratos de carbono e lípidos), as necessidades diárias de micronutrientes (vitaminas e minerais) mantêm-se, em geral, inalteradas, podendo até aumentar, em consequência do comprometimento da capacidade de absorção e utilização eficaz de alguns nutrientes.

Se, por um lado, a diminuição da massa muscular se expressa na diminuição das necessidades energéticas diárias, por outro lado, a diminuição da densidade óssea implica um aumento das necessidades de cálcio e vitamina D; o aumento do ph gástrico implica um aumento das necessidades em vitamina B12, ácido fólico, cálcio, ferro e zinco; a diminuição da função imunitária requer um aumento das necessidades de vitamina B6, vitamina E e zinco; e o aumento dos níveis de homocisteína, fortemente correlacionados com o risco de doença cérebro e cardiovascular, implica um aumento das necessidades de ácido fólico, vitamina B6 e vitamina B12.

Estes micronutrientes estão presentes em quantidade suficiente numa alimentação variada, diversificada e equilibrada, pelo que, em geral, não há vantagem nem necessidade de serem substituídos por um eventual “comprimido natural” e/ou suplementos vitamínicos e minerais, exceto quando indicados clinicamente e devidamente prescritos pelo médico e/ou nutricionista assistentes.

Deste modo, constituir refeições com o contributo de todos os grupos da roda dos alimentos, de forma fracionada e moldada às preferências, gostos, aversões, hábitos, costumes e crenças religiosas individuais, contribuirá para uma maior biodisponibilidade para a absorção de macro e de micronutrientes.

O puzzle nutricional será harmoniosamente diversificado, equilibrado e completo se constituído por alimentos do grupo dos cereais, derivados e tubérculos (ricos em hidratos de carbono, vitaminas do complexo B, minerais e fibras alimentares); por alimentos do grupo dos hortícolas (ricos em fibras alimentares, vitaminas e minerais); por alimentos do grupo da fruta (ricos em hidratos de carbono, vitaminas, minerais e fibras alimentares); por alimentos do grupo dos lacticínios (ricos em proteínas de elevado valor biológico, cálcio, fósforo, vitamina A, vitamina B2 e vitamina D); por alimentos do grupo da carne, peixe e ovos (ricos em proteína de elevado valor biológico e importante interesse nutricional, vitaminas do complexo B, ferro, fósforo e iodo); por alimentos do grupo das leguminosas

(ricas em proteína de baixo valor biológico, vitaminas B1 e B2, minerais e fibras alimentares); e por alimentos do grupo das gorduras (ricas em vitaminas A,D,E e K, com particular preferência pelas de origem vegetal, ricas em ácidos gordos insaturados).

A água, apesar de não constituir um grupo próprio na roda dos alimentos, está presente em todos os grupos, por ser um elemento constituinte dos alimentos que conglomeram. Contudo, é fundamental ingerir água no decurso do dia, ainda que sem sede, precavendo a valorização da importância terapêutica deste elemento, imprescindível ao equilíbrio do organismo.

Para contrariar a perda funcional da função digestiva, decorrente do processo natural de envelhecimento e objetivando esse decréscimo no âmbito da capacidade efetiva da absorção de nutrientes, evidencia-se a extrema importância do fracionamento das refeições, no decurso das horas úteis de todo o dia, sem excluir parcial ou totalmente nenhuma dessas refeições, desde o pequeno-almoço até à ceia, e sem descurar nem omitir o jantar. E é aqui que a população mais idosa tende a cometer alguns erros, admitindo que, por força da idade, possa ocorrer um hipotético decréscimo do gasto energético no decurso do dia e, consequentemente, esta refeição deva ser substituída por um chá com torradas ou por algo de natureza similar, que acabam por definir como uma “refeição leve” mais adequada e assertiva. Nada mais errado!

Ou seja, apesar da frequente diminuição das necessidades energéticas nesta etapa do ciclo de vida, as necessidades diárias de proteína aumentam e a evidência científica demonstra uma maior absorção efetiva e maior e melhor contributo desse aporte proteico, quando fracionado por todas as refeições do dia, comparativamente com a ingestão da mesma quantidade de proteína concentrada em menor número de refeições.

Este fracionamento não só representa vantagem ao nível da absorção efetiva de nutrientes, como também se expressa diretamente no interesse pessoal pela alimentação, na facilidade da digestão, no potencial prazer obtido com cada uma dessas refeições e, globalmente, na qualidade de vida.

A absorção efetiva de nutrientes será tanto maior, quanto maior for a biodisponilidade no decurso do dia, razão pela qual, se evidencia a importância de manter as rotinas alimentares nesta etapa do ciclo de vida, sem omissões nem substituições das refeições estruturais completas (intermédias e principais), com aporte calórico-proteico deviamente adaptado e ajustado à evolução das necessidades energéticas individuais.

A alimentação e a hidratação e, por inerência, o estado nutricional, conjuntamente com outros fatores ambientais, representam um papel altamente relevante para a saúde e bem-estar geral de cada individuo, em todas as etapas do ciclo de vida.

Bom proveito!

Paulo Mendes
(Nutricionista)

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