É sabido que metade dos atletas em competição irá sofrer uma lesão desportiva em qualquer momento da sua atividade. Fisicamente, a recuperação poderá ser total. Exige-se tempo e respeito pelo processo de recuperação, sendo certo que vai sempre existir uma sequela. E é aqui que começa a frustração e a interrogação de quando voltará o tempo da competição…

A lesão desportiva não é um imprevisto que só acontece aos outros. Acontece, seja por má preparação, treino incorreto, excesso de competições, aumento da intensidade dos treinos ou má preparação física e emocional. Aqui e agora, falaremos das lesões físicas, porque a essas ainda se deverá somar a “dor mental do atleta”, aquela a que corresponde a saúde psíquica. Uma e outra estão interligadas é certo, mas ao ortopedista cabe gerir a recuperação física que, quer queiramos quer não, tem implicação sérias na recuperação do atleta, como um todo e não apenas do corpo.

A recuperação exige elasticidade e gestão. Porque a expetativa do atleta lesionado pode desmoronar facilmente, logo no final do tratamento e ainda antes de se iniciar o processo de recuperação e pode continuar a progredir, com o medo de voltar à prática desportiva.

Reabilitar exige respeitar todo o processo, sem saltar fases e tendo presente que ao tratamento deverá seguir-se – necessariamente – o tempo de recuperação. A cura passa por conseguir gerir as expectativas dos atletas, com o tempo necessário à recuperação. No final, o atleta irá querer manter ou elevar o nível de desempenho, porque afinal a lesão foi apenas uma pausa. 

As lesões mais sérias exigem, muitas vezes, a necessidade de cirurgia. Exemplifiquemos com uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho, uma lesão bastante frequente no futebol. Antes de mais, ela pode ser apenas a mais sonante, entre outras, que ocorreram naquele joelho. Muitas vezes, para além da lesão do ligamento, existem também lesões ósseas, de cartilagem, de meniscos, de outros ligamentos… para romper o ligamento cruzado anterior terá sempre que ocorrer um “desencaixe” do joelho… imaginem o estrago! 

Cabe ao médico ortopedista informar o doente da gravidade da lesão e da possibilidade de sequelas. Mesmo que o ato cirúrgico decorra favoravelmente, há sempre alguma incerteza de como vai evoluir a lesão. Existe uma componente “biológica” muito importante no processo de cicatrização dos tecidos e que pode variar de indivíduo para indivíduo.

É essencial gerir a necessidade do tempo de pausa e sem competição. No caso deste exemplo, é preciso saber esperar nove meses de recuperação após a cirurgia. Durante este tempo ocorre o processo de cicatrização dos tecidos lesados, mas também a recuperação de todas as estruturas musculares que, entretanto, ficaram atrofiadas. De facto, após qualquer paragem ocorre uma diminuição de massa muscular e também uma diminuição dos reflexos…,os mecanismos “automáticos” que nos protegem da ocorrência de novas lesões. Razão porque é extremamente importante uma recuperação total antes do retorno à competição. 

O sucesso clínico implica o cumprimento de todo o plano de tratamento que os profissionais de saúde estabelecem. A lesão pode ser ultrapassada recorrendo às competências técnicas e científicas dos profissionais de saúde envolvidos (das mais variadas áreas), cabe ao atleta superar o impacto da dor no momento da lesão e percorrer o tempo necessário à cura. O rendimento e os níveis de desempenho são uma consequência desse trabalho.

Pedro Marques
(Médico, Ortopedista)

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