Têm um bom prognóstico e, simultaneamente, uma elevada taxa de mortalidade. Confuso? A técnica evoluiu e assegura sucesso na intervenção, quase certo, mas há uma condição: a solução para uma fratura do fémur não deve ser adiada para lá das 48 horas, sob pena de começarem a surgir complicações…
A idade, a etnia branca, a baixa acuidade visual, as roupas e os sapatos pouco adequados, as irregularidades no piso, a toma de benzodiazepinas ou de medicação diversa são alguns dos fatores de risco para um trauma. Num jovem, o impacto será baixo, numa pessoa com mais de 50 anos esse mesmo impacto ganha contornos de problema de saúde pública. A fatura do fémur pode mudar uma vida e afetar seriamente a qualidade de vida.
O diagnóstico de fratura do fémur é confirmado por exame radiológico e a indicação é quase sempre cirúrgica. Contudo, a intervenção deve ser feita preferencialmente nas primeiras 48 horas, após o diagnóstico. Não é isso que acontece na maioria dos casos. Mas é este tempo de espera que pode ditar a morbilidade ou mesmo a mortalidade subsequente.
As complicações serão várias e não devem ser menosprezadas. A possibilidade de não consolidação da fratura é apenas uma das complicações que pode acontecer… Junte-se ainda os riscos de tromboembolias e de pneumonia de estase, tão só porque o doente fica imóvel e não consegue levantar-se, enquanto aguarda pela intervenção cirúrgica para reparar a fratura, já para não falar em toda a degradação muscular imposta pela imobilização no leito.
Estas são algumas das razões que explicam as evidências científicas que revelam um aumento de mortalidade e de morbilidade, associado à espera. A situação ganha contornos de problema de saúde pública se atendermos aos números. Em Portugal, ocorrem cerca de 10 mil fraturas do fémur proximal por ano. No futuro, as previsões apontam para um aumento generalizado em todo o mundo e, se em 2000 a incidência mundial foi de 1,6 milhões de fraturas em doentes osteoporóticos e com mais de 50 anos, é previsível que este número aumente para 2,6 milhões em 2025 e 4,5 milhões em 2050. Porquê? Porque a esperança média de vida aumentou e os fatores de risco mantêm-se.
Mais preocupante é que apesar de toda a evolução das técnicas cirúrgicas e da Medicina em geral, apenas metade dos doentes que sofreram fratura do fémur recuperam as funções que tinham anteriormente. O risco de morte após esta fratura está presente nos primeiros 12 meses após o incidente e a probabilidade de a pessoa sofrer uma segunda fratura de fémur contra-lateral ronda os 10%.
Diminuir a duração do internamento, promover um início rápido da mobilização e da locomoção são os ingredientes chave para contornar as complicações associadas a uma “simples” queda.
Hoje, as técnicas cirúrgicas e os materiais disponíveis permitem, em geral, uma rápida recuperação dessas mesmas funcionalidades. A única condição continua a ser o tempo de espera e a cirurgia deve ser realizada, preferencialmente, nas primeiras 48 horas após o diagnóstico.
Pedro Marques (Médico Ortopedista)
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