Nem tudo o que parece fimose é, de facto, uma patologia. Em muitos casos, é apenas uma etapa normal do desenvolvimento da criança

Na prática da cirurgia pediátrica é muito comum receber crianças encaminhadas por fimose. Os pais frequentemente chegam com dúvidas legítimas e alguma ansiedade: “a pele do pénis ainda não abriu”, costumam dizer. Essa dúvida é recorrente – e compreensível.

Nos primeiros anos de vida é perfeitamente natural que o prepúcio não retraia. Essa condição, chamada de fimose fisiológica, corresponde a um estreitamento transitório do prepúcio, típico da infância. Além disso, é comum a presença de aderências balano-prepuciais – uma união natural entre a glande e o prepúcio, que tende a libertar-se gradualmente com o crescimento. Durante esse processo, ocorre a produção de esmegma – uma substância composta por células descamadas e secreções de glândulas locais, que se forma entre o prepúcio e a glande, facilitando o descolamento dessas aderências. Por ser branca e leitosa, essa secreção é frequentemente confundida com pus ou, quando retida, equivocadamente interpretada como um quisto – ambas situações que podem causar ansiedade desnecessária. Todas essas manifestações são normais no desenvolvimento genital masculino e, na maioria dos casos, não exigem qualquer tratamento.

A pergunta “quando deve estar resolvida a fimose?” não tem uma resposta única. Cada criança tem o seu ritmo. Existem fatores como a imaturidade, o medo, a hipersensibilidade da glande, a falta de destreza manual ou até uma gordura supra-púbica mais exuberante, que podem dificultar a retração do prepúcio, mesmo sem haver um verdadeiro problema clínico. Nestes casos, o mais importante é respeitar o tempo da criança, promover a higiene adequada e, quando oportuno, iniciar ensinos simples e progressivos, adaptados à idade e sempre sem forçar.

Na realidade, uma grande parte das crianças referenciadas como tendo fimose consegue retrair o prepúcio de forma autónoma e espontânea, após uma consulta bem orientada, sem dor nem traumas – apenas com explicação, confiança e prática orientada.

Importa também desmistificar a ideia de que existe “pele a mais”. O prepúcio não é excessivo – cada criança tem o seu próprio formato. O que merece atenção são sinais como infeções urinárias recorrentes, inflamações ou infeções do prepúcio (balanites), dor persistente ou dificuldade em urinar. Nesses casos, pode tratar-se de uma fimose patológica, para a qual o tratamento com pomadas de uso tópico, associada a exercícios de retração do prepúcio, é habitualmente eficaz. A cirurgia é reservada para situações persistentes ou com complicações associadas.

Existem ainda formas menos comuns, mas mais graves, como a Balanite Xerótica Obliterante (BXO) – uma inflamação crónica, de provável origem autoimune, que provoca branqueamento, endurecimento e estreitamento progressivo do prepúcio, podendo afetar também a uretra. Nesses casos, o diagnóstico precoce é essencial e a cirurgia está habitualmente indicada. O procedimento pode envolver cuidados detalhados e técnicas específicas, garantindo assim os melhores resultados e minimizando possíveis complicações.

A abordagem da cirurgia pediátrica visa, sempre que possível, preservar o prepúcio, sobretudo em idades mais precoces. O corpo da criança está em crescimento e muitas situações podem resolver-se naturalmente com o tempo. 

Intervenções prematuras, especialmente em crianças com gordura supra-púbica acentuada, podem levar a resultados insatisfatórios, que vão desde a remoção excessiva de pele até à remoção insuficiente, causando a impressão de um pénis muito pequeno ou deixando um prepúcio residual com aparência de “bico de lápis”. Esses resultados podem causar alterações estéticas indesejadas, gerar desconforto em relação à própria imagem, ou até levar à recidiva da fimose no futuro.

A experiência acumulada na cirurgia pediátrica, onde se observam diariamente muitos casos de fimose, permite-nos reconhecer com precisão o que precisa de tempo, o que se resolve com orientação – e o que realmente exige tratamento. Saber ensinar, tranquilizar e tratar no momento certo faz toda a diferença. Nem tudo o que parece fimose é, de facto, uma patologia. Em muitos casos, é apenas uma etapa normal do desenvolvimento da criança.

Nadia Laezza
(Médica com a Especialidade de Cirurgia Pediátrica; OM n.º 57516)

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