Não custa experimentar. Se é adepto de caminhadas, apenas terá que mudar o percurso, o ritmo, a atenção e o objetivo. Se não é adepto de andar a pé, está na hora de começar a ser e, simultaneamente, aprender a tomar banhos de floresta
Em Portugal, estima-se que 1500 pessoas já sabem do que estamos a falar. A procura dos bosques da felicidade ainda não começou a despertar muita procura, mas já provoca alguma curiosidade e,se abraçarmos uma árvore, nada de mal pode acontecer, muito pelo contrário.
Tudo começou a Oriente, no Japão e shinrin-yoku é a expressão nipónica do que, no Ocidente, se traduziu para Banhos de Floresta. Desde a década de 80 que a floresta tem ajudado os japoneses a serem mais saudáveis e mais felizes. Foi preciso dar tempo para esta prática terapêutica despertar no Ocidente. Fizeram-se estudos e conclui-se que os banhos de floresta podem e devem ser recomendados e prescritos a todas as pessoas e a todas as idades.
O que é preciso? Coisas simples: tem de levar consigo os sentidos todos, vai precisar deles. Não pode ter pressa e tem de estar atento ao que ouve, sente, vê, cheira ou toca. Recomenda-se calçado e roupa confortável e não pode levar telemóvel ou equipamento idêntico. A ideia não é ir andando pela floresta e simultaneamente pôr a conversa em dia com os amigos e família, como assistimos nas caminhadas solitárias, quando deparamos com alguém que parece estar a falar sozinho. A ideia é precisamente andar, simplesmente andar, mas estando atento ao vento, aos cheiros da terra, às folhas que caem… E, se lhe apetecer, pode abraçar uma árvore. Não é obrigatório, mas pode fazê-lo.
Banhos de floresta é só isso, simplicidade e retorno onde já fomos felizes. A prática pode ser feita sozinho, em família (restrita) ou com a ajuda de um guia. Aliás, Portugal já começou a ter especialistas em banhos de floresta, existindo mesmo o Instituto de Banhos da Floresta, fundado por um catalão.
As evidências de que esta é uma terapia de bem-estar têm sido recolhidas em várias partes do mundo, mas cabe ao médico japonês Qing Li o maior trabalho de investigação. Admite-se que estes passeios pela floresta podem reduzir a tensão arterial, melhorar a saúde cardiovascular, reforçar o sistema imunitário e ajudar a diminuir os níveis de açúcar no sangue. Simultaneamente, promovem o aumento da concentração e da memória, potenciam o bom humor e o bem-estar emocional.
Poderíamos acrescentar mais benefícios, para não queremos pecar por exagero. Se com um simples passeio no jardim já todos percebemos que isso nos faz bem, tente levar essa prática para a floresta. E bosques é coisa que não nos falta. Haverá de certeza um espaço para terapia na Mata Nacional de Vale de Canas, no Choupal, na Mata do Bussaco ou… em inúmeras outras matas que ainda por cá sobrevivem aos fogos.
Em França, chamam-lhe pistas florestais. Por cá ainda não atingimos esse nível. Ainda andamos todos entretidos em construir as pistas para ciclistas, que tinham sido prometidas há 5 ou 10 anos. Noutros países, a procura pelo bem-estar foi mais longe e é mais ambiciosa. As pistas já estão construídas e não são só para ciclistas. Os trilhos foram concebidos para serem utilizados simultaneamente por peões, bicicletas, cavalos ou, tão só, praticantes de banhos de floresta. Há lugar e condições para todos.
No Oriente, a prescrição recomendada é de duas horas por semana. Por cá, ainda não existe esta receita, mas não custa experimentar. Mal não faz de certeza.
Conceição Abreu
Notas:
O Livro: “A arte japonesa da terapia da floresta”, de Qing Li
O Instituto: https://www.institutodebanhosdefloresta.pt/en/home/
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