É no início da puberdade que a deformidade da coluna pode ser mais facilmente corrigida, evitando-se que chegue à maturidade esquelética com um grau de deformidade grave. Há sinais que alertam para a eventual presença de uma escoliose. Explicamos quais
Olhando para as costas de uma pessoa, a coluna vertebral destaca-se pelo alinhamento da estrutura, com as curvas normais na zona mais alta do tronco e na zona lombar. Isto é o normal, mas pode acontecer um desalinhamento e a coluna vertebral surge deformada, com uma curva para o lado ou mesmo dupla. Isto é escoliose, uma deformidade tridimensional da coluna que afeta diversos segmentos, nomeadamente região cervical, torácica e lombar.
Um desequilíbrio dos ombros (um mais alto que o outro); uma omoplata mais saliente, uma assimetria na região da cintura e a sensação de inclinação do trono para um lado, são sinais que levantam a suspeita de existência de uma escoliose. Na grande maioria dos casos a causa é desconhecida, apesar de existir um fator genético e o diagnóstico da doença pode ser feito até aos 3 anos de idade, dos 4 aos 9 ou dos 10 aos 18 anos de idade.
O diagnóstico deve ser feito por um médico que, após o exame físico irá realizar exames complementares, como o RX (radiografia) da coluna. É nesse momento que a escoliose é medida em graus (calculado no RX), o chamado ângulo de Cobb e só é considerado o diagnóstico de escoliose quando este ângulo é superior a 10º.
Um aspeto importante na escoliose idiopática (de causa desconhecida) é a probabilidade de evolução da curva. Existem múltiplos fatores que condicionam esta evolução, alguns relacionados com o potencial de crescimento e outros relacionados diretamente com a própria curva escoliótica. E são estes fatores que estão diretamente relacionados com os resultados do tratamento conservador da escoliose.
Em crianças mais pequenas teremos mais tempo de progressão da curva e é este tempo de evolução que vai determinar uma maior estruturação da curva. Durante a adolescência vai existir um período de aceleração do crescimento e é neste momento, que as curvas preexistentes, diagnosticadas ou não, vão sofrer um agravamento.
O objetivo do tratamento é chegar à maturidade esquelética, isto é, no final do crescimento ósseo, com um grau de deformidade que não altere a vida diária do doente, com uma curva estável e com graus inferiores a 45-50º. Assim, a escolha do tratamento depende de vários fatores: grau da deformidade, idade do doente e estadio da maturidade óssea.
Em situações com curvas inferiores a 20º é recomendada observação clínica e imagiológica semestral, até a maturidade esquelética, para despiste de progressão da curva, sugerindo-se o início de reforço postural nesta fase.
Nas situações que apresentam curvas entre os 25-30º, associadas a uma imaturidade esquelética, está indicado o uso de uma ortótese (colete), que consiste na aplicação de uma força externa sobre o tronco, impedindo a progressão da escoliose. Mas, este mesmo procedimento já não é recomendado nas situações que já estão perto do fim do crescimento ósseo, uma vez que não terá o efeito desejado.
Para os casos em que as curvas têm ângulos superiores a 45-50º está indicado o tratamento cirúrgico da deformidade, com o objetivo de restituir o alinhamento corporal, diminuir a curva e impedir o agravamento.
Percebe-se agora porque um diagnóstico precoce continua a ser a chave para um adequado tratamento da escoliose idiopática. Quando existe uma suspeita, muitas vezes identificada pelos pais ou professores, a criança deverá ser atempadamente avaliada.
Esta patologia pode afetar até 4% da população mundial e 2-3% dos jovens com menos de 18 anos. Mas, a escoliose idiopática não é algo recente e que possa ser associada a uma má postura. A doença esteve sempre presente ao longo da história em todas as populações e as múmias egípcias já revelaram a sua existência. Hoje, já existem estudos que a relacionam com fatores genéticos, ocorrendo em várias gerações da mesma família.
A escoliose idiopática, ou seja de causa desconhecida, é o tipo mais comum, mas podemos dividir a escoliose como postural ou estrutural. A primeira acontece por alterações externas à coluna, como por exemplo dismetria dos membros inferiores, que promovem aparecimento de curvas reversíveis e que podem ser corrigidas pelo uso de palmilhas, reeducação postural ou exercício físico.
Por outro lado, quando falamos de escoliose estrutural existe sempre uma curva fixa, devido a verdadeiras alterações da coluna. Normalmente estas curvas são progressivas e podem estar associadas a alterações de malformações das vertebras (escoliose congénita) e doenças do sistema nervoso central (escoliose neuromuscular), sendo que no tipo de escoliose mais frequente, a escoliose idiopática, a causa ainda é desconhecida.
Oliana Madeira
(Médica, Ortopedista, com a subespecialidade em Ortopedia Pediátrica)
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