De tão simples, a solução nem sempre tem os créditos que merece. O uso de meias elásticas é a resposta correta. A compressão elástica continua a ser a terapia indicada para melhorar a circulação sanguínea e para prevenir a trombose, seja quando as veias se cansam e deformam, seja como prevenção de doença venosa

Os nutrientes e o oxigénio devem chegar a todas as células do corpo humano, as artérias, as veias, e os capilares (vasos mais pequenos) têm essa missão. As artérias e as veias são o meio de transporte utilizado e o sangue em circulação terá de voltar sempre ao coração para ser purificado e receber o oxigénio dos pulmões.

Um mecanismo genuíno ajuda este caminho de aspiração e, consequentemente, de bombeamento contra a força da gravidade, porque trazer o sangue que circula nas pernas, de volta ao coração exige equipamento especial e especificamente humano. O sistema venoso terá de recorrer ao bombeamento muscular para que o sangue não erre o caminho de regresso ao coração, fluindo sempre num só sentido e sem voltar para trás.

A postura vertical, o pouco exercício físico e um estilo de vida sedentário têm contribuído para a proliferação das chamadas doenças venosas entre os humanos e, por exemplo, passar muito tempo sentado ou muito tempo de pé, repetidamente e ao longo do tempo, em nada ajudam o processo de bombeamento muscular. Junte-se ainda o avançar da idade e os fatores genéticos e fica explicado porque as veias começam por dilatar, abrindo caminho para que se instalem as chamadas veias varicosas, sem elasticidade e com aspeto ondulado, que acabam por se tornar salientes na pele.

A doença venosa começa assim e as pernas cansadas podem ser os primeiros sinais ou sintomas, tal como a persistência de tumefação da região à volta dos tornozelos. Se o inchaço à volta dos tornozelos for persistente e visível todas as noites, independentemente do que fez durante o dia, pode ser um sinal de que tem veias danificadas, apesar de o aspeto à superfície da pele ainda não o denunciar.

Embora, esse mesmo sintoma possa, até mais frequentemente, corresponder a outras patologias, como por exemplo, do foro cardíaco. E estas válvulas e veias defeituosas não voltarão ao que eram. Nuns casos, as veias poderão ser removidas mas, caso se conservem, terão de ser comprimidas, ou seja, apertadas. As meias elásticas ou de compressão é isso que fazem, ao mesmo tempo que podem impedir que outras veias se deformem e dilatem. A doença venosa pode ser assim controlada. A circulação passa a fluir naturalmente e, consequentemente, o risco de trombose diminui.

Dança ou caminhada? As duas

O exercício físico também ajuda, sendo apenas desaconselhado o levantamento de pesos (e o uso de sapatos de salto alto) mas, fora esse exemplo, todos os exercícios que ativem as articulações e os músculos das pernas são recomendados, desde a caminhada à dança.

A compressão elástica como terapia da doença venosa pode ser usada em vários tipos. A meia elástica é o método de eleição, mas podemos ainda acrescentar as ligaduras elásticas (aplicadas por um profissional) e a compressão pneumática intermitente (com recurso a uma bota pneumática e câmaras de insuflação). Na opção pelo uso de meia elástica, é necessário sublinhar que elas podem e devem ser adaptadas a cada pessoa, porque os níveis de compressão são diferentes, consoante a patologia venosa, mas também os tecidos e elasticidades ou até a própria meia, que pode ser mais ou menos alta.

Os benefícios da sua utilização diária são inequívocos, seja no conforto individual, seja como terapia para a cicatrização de úlcera, controle de sintomas, em situações de gravidez com varizes, prevenção do edema, prevenção trombo-embolismo venoso e após tratamentos como a cirurgia ou escleroterapia. A meia elástica é ainda recomendada para as pessoas que fazem viagens de médio e longo percurso (mesmo que não tenham varizes aparentes ou sintomas) e a sua utilização deve ser diária.

Linfa congestionada

Mas, nem sempre, nem nunca e, também por isso, a meia elástica deve ser prescrita por um médico. Isto porque, há casos clínicos em que a sua utilização não é de todo recomendada, como em pessoas que têm problemas de circulação arterial que afetam os membros inferiores ou alguns problemas cardíacos.

A compressão, em concreto com o uso de meia elástica, é também a terapia indicada para o linfedema, ou seja quando existe um acumular de linfa nos tecidos, causando edema (inchaço). Neste caso, a alteração ocorre nos vasos linfáticos, responsáveis por drenarem o líquido dos membros inferiores ou superiores. Normalmente, as pernas são a zona do corpo mais afetada e por isso podem apresentar edema, mas também dor, calor e dormência do membro. O edema começa gradualmente e o primeiro sinal pode ser apenas o inchaço do pé.

Drenagem linfática, sim ou não?

Nestes casos e dependendo das causas do linfedema, poderá ser necessária a colaboração de especialistas de diversas áreas, incluindo fisioterapeutas. Numa primeira fase, o objetivo do tratamento é a redução e tratamento da área afetada e por isso a compressão elástica também é recomendada para melhorar a qualidade de vida destes doentes.

As alternativas também podem incluir a pressoterapia, que recorre a equipamento próprio e que deve ser manuseado por profissional, tal como a drenagem linfática, hoje tão populariza pelos centros de estética e de beleza femininos. Contudo, recomendamos sempre que este tipo de massagem seja realizado por um profissional devidamente treinado. Admite-se que a drenagem linfática pode ser um bom recurso para acelerar o transporte da linfa, mas sempre com a prescrição e acompanhamento de médico.

Erradamente, tem sido muito divulgada a ideia de que a drenagem linfática emagrece, o que não corresponde de todo à verdade, porque não elimina gordura. O objetivo é tão só proporcionar fluidez e diminuir os líquidos que causam os edemas. Tem técnicas específicas e não deve ser aplicada em pessoas com qualquer tipo de infeção ou com trombose venosa aguda. Razão porque deve ser prescrita por médico.


Gabriel Anacleto
(Médico especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular)

Deixar um Comentário