Se em vez de comprimidos, um médico lhe prescrever a dança ou a jardinagem não fique desconfiado. Este é um caminho a percorrer para prevenir e controlar inúmeras doenças. O importante é estar em movimento
As contas já foram feitas e, num país com 10 milhões de habitantes, o sedentarismo custa mais de 900 milhões de euros por ano. É este o preço que todos pagamos em cuidados de saúde por ficarmos sentados. A conclusão é da OMS (Organização Mundial de Saúde) que, para além da pandemia por SARS-CoV-2, também se preocupa com a prevenção de doenças.
Em Portugal, há muito que o diagnóstico está feito e até existe um Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física. Mesmo assim, os portugueses não se mexem. Se um médico lhe sugerir que trate do jardim, que suba e desça escadas ou que vá dançar no próximo baile, ficará desconfiado certo? Pois bem, esta é a prescrição ideal para prevenir ou controlar inúmeras doenças. O problema está que muitos de nós acredita que basta um comprimido para tratar ou aliviar todos os males. Nem sempre, nem nunca.
O contributo do sedentarismo para a carga de doença e mortalidade é grande e a solução passa pela atividade física. E o que é isso de atividade física? Inscrever-me num clube? Começar a jogar futebol? Correr a maratona? Nada disso. Na atividade física todos os movimentos contam e se for regular está a contribuir para aumentar a sua longevidade e para reduzir a carga de variadas doenças. E isto é válido para todas as idades, desde as crianças aos que têm mais de 65 anos.
O sofá, a televisão e o computador serão os inimigos públicos da atividade física, pelo tempo que desperdiçamos na posição de sentado. Bastam 15 minutos de atividade física moderada, misturados com alguma atividade intensa, a um ritmo diário para começar a fazer a diferença. Para distinguir uma da outra, começamos por explicar que numa atividade física moderada a respiração acelera um pouco, conseguirá falar, mas será difícil cantar. Na atividade física intensa a respiração fica muito acelerada e terá dificuldade em manter uma conversa.
O Plano Nacional para a Promoção da Atividade Física recomenda que um adulto combine 75 minutos de atividade intensa com 150 minutos de atividade de intensidade moderada, por semana. Não é muito… E pode fazer um pouco de tudo, desde subir escadas, correr, nadar, andar de bicicleta caminhar, praticar desportos, ir ao ginásio, fazer ioga, carregar sacos, dançar ou praticar tai chi. Vale tudo, desde que retire algum tempo, ao tempo que passa no sofá.
Para as crianças e adolescentes a atividade física deve ser mais demorada, ou seja, 60 minutos diários. A flexibilidade, resistência óssea e a força muscular exigem que dispensem mais tempo e por isso essa necessidade inata de correr, saltar, pular… As evidências científicas acumuladas dissipam todas as dúvidas e todos os dias surgem provas de que a atividade física é fundamental para o atraso da progressão da doença e melhoria do estado de saúde. Assim, a atividade física diária é um poderoso aliado no controle das doenças cardiovasculares (como hipertensão e insuficiência cardíaca); doenças oncológicas (tais como cancro da mama; cancro da próstata, cancro do cólon); doenças pulmonares (asma, fibrose cística e DPOC); doenças metabólicas (como diabetes tipo 1 e II, obesidade, síndroma do ovário poliquístico); doenças psiquiátricas (tais como depressão, ansiedade, stress, esquizofrenia); doenças neurológicas (demência, Parkinson, esclerose múltipla) e doenças músculo-esqueléticas (Osteoartrite, osteoporose, dor crónica das costas, artrite reumatoide).
Todos podem beneficiar, o importante é estar em movimento, por oposição ao sedentarismo. Porque não basta aumentar a esperança média de vida e ter o orgulho de somar mais anos. E isso a medicina tem conseguido cumprir e muito bem. O próximo passo é um novo desafio, porque é preciso que essa vivência tenha qualidade de vida. Temos de nos mexer para aí chegarmos, não basta ficar à espera sentado no sofá.
Pedro Marques
Médico, Ortopedista
Boa noite
Concordo plenamente com o dr.Pedro ,neste momento estou a tentar ser menos sedentário,está a ser muito difícil de cumprir diáriamente,mas com resiliência vou conseguir.
Muito obrigado pelo texto
ReplyConfirmo as palavras/recomendações do Dr. Pedro, faz toda a diferença. Quando deixo de o fazer, muitas das vezes devido à minha vida profissional, fico perra e cheia de dores e até melhora o psicológico. Muito obrigada pelo seu alerta
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