É uma área onde cabem 17 mil campos de futebol, terra de contrastes e território de aventureiros. As tulipas selvagens moram por ali, mas também a Águia Bonelli, a par com uma vegetação tipicamente mediterrânea e uma biodiversidade aquática protegida por uma reserva marinha. Visitámos a Arrábida
Marmitas de gigante, o culto a Maria, golfinhos (que roem redes de pesca), um forte de resistência e defesa, um santuário de costas para o mar, uma ilha com 40 metros, falésias de calcário, raridades do reino vegetal, um ecossistema marinho único, pegadas de dinossauros, dezenas de grutas, praias, trilhos para percorrer a pé ou de bicicleta, escaladas para subir a pulso ou cavidades subterrâneas para explorar… um sem fim de pretextos. A diversidade mora ali, ao longo de uma área onde cabem 17 mil campos de futebol. Alguns dentro do mar. A Serra da Arrábida é tudo isto.
A serra tem este poder do contraste e, se é certo que o encontro entre o mar e a serra é lugar-comum ao longo da costa portuguesa, na Arrábida há um caso único. O encontro é abrupto e as dificuldades de acesso de outrora acabaram por se revelar uma mais-valia para preservar a serra, que assim permaneceu quase intocável e com a natureza a exibir todo o seu poder.
Depressa se percebeu que era preciso assumir a guarda desta demonstração da natureza. A criação de um Parque Natural foi o modelo escolhido para argumentar a necessidade de preservar, mas apesar de todas as proteções, há uma outra face inexplicável que mora ali bem ao lado, uma cimenteira. A sustentabilidade entre ambiente e economia ainda é assunto de discussão e de poucas certezas.
Setúbal, Palmela e Sesimbra são os municípios guardiões desta reserva natural. A responsabilidade é enorme, até porque é ali que se pode ler parte da história da Terra, com o registo ilustrado dos processos geológicos de outrora.
Claro que houve um momento em que a serra ganhou identidade própria e recebeu o nome de Arrábida (local de oração). Algumas das relíquias naturais de outrora estão hoje ali guardadas no Parque Natural da Arrábida.
Este é um território de aventureiros. Pretextos para encontrar caminhos originais e ousados não faltam, seja por terra, por mar, à superfície ou no subterrâneo. O Parque Natural não acolhe apenas a Serra da Arrábida, há outras, como a Serra do Louro, a Serra de São Luís ou a Serra dos Gaiteiros. A Serra do Risco pertence a esse grupo e é facilmente identificada pela enorme escarpa de calcário, a pique até ao mar. Junte-se ainda o que não é visível à superfície, como o sistema subterrâneo de grutas, desde o Cabo Espichel até às serras.
Os vários microclimas ajudam a que a diversidade more por ali e a Arrábida também é terra de orquídeas e de tulipas selvagens. Claro que também se perderam outras espécies e se o veado e os lobos desapareceram ou são raridades, os javalis logo trataram de ganhar terreno e, não raras vezes, até se aventuram até à praia.
Cerca de 40% da flora portuguesa está ali concentrada, num território que acolhe mais de 1400 espécies vegetais. Mas não só, a imponente Águia de Bonelli escolhe aquele espaço para nidificar, enquanto outros, como o falcão marinho ou o melro-azul costumam ser por ali avistados. Idêntica diversidade encontra-se debaixo de água. A costa tem uma área protegida, pela sua biodiversidade aquática e a reserva marinha tem um ecossistema diverso, com algumas das espécies alvo de proteção para a pesca.
Mas, entrar em território da Arrábida também implica conhecer o Museu Oceanográfico e descobrir a vida subaquática que por ali mora, na Fortaleza de Santa Maria da Arrábida ou o Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel ou de Nossa Senhora de Pedra Mua. O culto a Maria começou no século XV, mas só três séculos depois é que foi construído o espaço que ainda alberga o Santuário, erguido de costas para o mar.
Conceição Abreu
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