Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA). Quando estes três “A” se juntam criam-se as condições para que exista uma rutura da aorta. A patologia evolui silenciosamente, não dói nem dá qualquer sinal. Uma simples ecografia pode detetar a mais comum das doenças que se localiza nas artérias, o aneurisma
São as artérias que levam o sangue, bombeado pelo coração, às diversas partes do nosso corpo. A aorta é a maior e a principal artéria e dela nascem outras artérias que fornecem o sangue para o cérebro, membros superiores e todos os órgãos abdominais. A aorta tem origem no coração, desce pelo tórax e abdómen e, por fim, divide-se em duas outras artérias (as ilíacas), que transportam o sangue para os dois membros inferiores.
Os aneurismas são uma das doenças mais comuns localizadas nas artérias, podendo entrar em rutura e daí resultar a morte. O aneurisma é definido como a presença de uma dilatação localizada num trajeto duma artéria, e deve ter mais de 50% do calibre (diâmetro) da artéria que lhe está próxima. A aorta, a nível abdominal, é o local mais frequente de localização de aneurismas. O seu diâmetro habitual vai até aos 2 cm, e considera-se que existe um aneurisma se tiver mais de 3 cm de diâmetro. Os aneurismas são particularmente perigosos pois, habitualmente, não dão sintomas, e podem romper sem qualquer aviso prévio. Pensa-se que a rutura provoque uma mortalidade entre os 80 e os 90%.
O aneurisma da aorta é uma doença que afeta os homens cerca de seis vezes mais do que as mulheres e aparece habitualmente acima dos 50 anos (embora afete sobretudo homens acima da 7ª década de vida) – pode atingir até 10% dos homens com mais de 50 anos. No sexo feminino, nos poucos casos em que o aneurisma da aorta surge, este aparece, geralmente, mais tardio.
O principal fator de risco para o aparecimento do aneurisma é o tabagismo, fazendo aumentar cerca de cinco vezes essa possibilidade. Também é mais frequente em homens de raça branca e em doentes com hipertensão ou colesterol elevados. Os familiares de doentes com aneurisma da aorta também são mais afetados por esta doença (cerca de 10% terão também um aneurisma). Os diabéticos parecem ser menos atingidos. Como já foi dito, os aneurismas não causam, habitualmente, sintomas, exceto quando estão em expansão (crescimento rápido) ou quando entram em rutura.
O aneurisma da aorta abdominal pode ser diagnosticado com uma simples ecografia; de facto, muitos são descobertos quando uma pessoa faz este exame por outro motivo. Contudo, para ser avaliado de forma mais completa e para se preparar a cirurgia, deve ser efetuada uma TAC.
O único tratamento disponível é a cirurgia. Trata-se de uma operação com alguns riscos e nem todos os doentes com aneurisma poderão ser sujeitos a este procedimento – em doentes muito debilitados, com doenças graves do coração ou dos pulmões, o risco da operação acaba por ser maior do que o de ficar com o aneurisma.
Em primeiro lugar, há que determinar quem deve ser operado, dado que o diâmetro do aneurisma é o fator que está em relação mais direta com o risco de rutura. Entende-se que devem ser operados os homens com aneurismas de diâmetro maior que 5.5 cm e as mulheres com aneurisma maiores que 5.0 cm. Como disse, não é o único fator a ter em conta, mas com diâmetros inferiores, habitualmente, a recomendação é de serem vigiados (com ecografia, de 6 em 6 meses ou anualmente).
A primeira cirurgia (tal como hoje é levada a cabo) a um aneurisma da aorta abdominal foi efetuada em 1951, e daí para cá a técnica foi aperfeiçoada. Implica uma incisão a todo o comprimento do abdómen. Quando a cirurgia é programada (isto é, quando não é feita de urgência e os problemas cardíacos, pulmonares e outros são estudados e devidamente acautelados) tem uma mortalidade que ronda os 3%, ou inferior.
Desde 1991 que se criou outra técnica de cirurgia, menos invasiva, chamada endovascular. Uma prótese é introduzida a partir das artérias femorais (localizadas na região inguinal – virilha) e aberta no interior do aneurisma, fazendo com que o sangue passe pelo interior da prótese e não por dentro do aneurisma. Assim, o aneurisma permanece dentro do doente, mas sem ter a pressão do sangue em circulação. Trata-se de uma técnica muito menos agressiva, que permite operar doentes mais debilitados, mas que não é aplicável a todos os aneurismas, ao contrário da primeira. Tem a desvantagem de necessitar de um controle mais rigoroso, durante anos após a operação (com realização de TAC – embora se esteja a tentar reduzir esta necessidade) e de o aneurisma permanecer no corpo da pessoa – se existir algum problema futuro com a prótese, o sangue pode voltar a circular no interior do aneurisma e causar problemas. Outra desvantagem é que necessitam de um número maior de intervenções (habitualmente cateterismos) ao longo dos anos que se seguem à cirurgia. De qualquer forma, este tipo de cirurgia é, na maioria dos casos, bastante eficaz.
A mortalidade da operação por este método pode ser ainda inferior ao da cirurgia com abertura do abdómen. A longo prazo (cinco anos) o número de doentes que sobrevivem, operados de uma e outra forma é semelhante. Claro que a recuperação da cirurgia inicial é mais rápida pelo método endovascular.
Gabriel Anacleto (especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular)
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