A Luz.

Há oito milhões de anos que a visão humana tem a capacidade de fazer a transdução da luz em sinal neurológico e por isso vemos. O olho humano foi para lá da perfeição e tem caraterísticas ímpares. O ser humano é o único que consegue ver a cara do/a parceiro/a nas relações sexuais…

Hoje comemora-se o dia mundial da retina, estrutura ocular em que algumas das suas células são capazes de receber a luz e de a transformarem em sinais que são enviados para o cérebro, onde são interpretados como Visão.​De algum modo, os nossos olhos funcionam como uma câmara de vídeo que, através de um cabo (nervo ótico), transmite imagens para um monitor. Há uma pequena diferença, as câmaras de vídeo têm uma evolução de poucas dezenas de anos. Há mais de 8 milhões de anos que a visão humana tem essa capacidade de  fazer a transdução da luz num sinal neurológico. E tem evoluído. O olho humano foi para lá da perfeição.

Uma evolução que é muito pouco, quando comparada com a rapidez da cascata bioquímica da visão, com a celeridade da transmissão de sinal, interpretação e armazenamento de dados retina/cérebro. Tudo num só instante.

Quando se decidiu comemorar o dia mundial da retina, procurou-se alertar as pessoas para esse sentido maravilhoso que é a visão e para algumas patologias associadas. Há informação científica e marketing nessa atitude, há acesso à informação útil e negócio. Mas, na vida nem tudo é sempre linear e verdade… A visão também é ilusão (em 50%). Um pequeno exemplo: estique os seus braços e una os seus indicadores, falange com falange, de forma que fiquem num plano quase horizontal em frente dos seus olhos. Nesse mesmo plano fixe um ponto distante. Entre os seus indicadores vai surgir uma “salsicha”. Esta ilusão resulta de um fenómeno chamado de disparidade retiniana. É um exemplo simples que ilustra uma das realidades da nossa visão, a ilusão.

Pode encontrar outras ilusões nos trabalhos do artista holandês Maurits Escher ou nas pinturas de rua de Edgar Müeller, etc. Em “tribunal “nunca jure que viu, também aí o resultado do julgamento traduz com certeza outras formas de ver, mesmo que a sentença final não contemple nenhuma ilusão jurídica.

Muitas doenças podem afetar o que vemos ou o que pensamos ver. Na minha perspetiva não é importante para a opinião pública falar de sintomas, formas de tratamento, de sequelas etc.. O corpo é sem dúvida a mais excecional peça de arte, seja alto/baixo; gordo/magro; esculturalmente belo ou assim-assim. Quando alguma peça da engrenagem fizer ruído, enferrujar, ou simplesmente funcionar menos bem, procure o melhor ” artista” para a reparar, mas nunca se esqueça que quem melhor conduz o carro é quem o conhece.

Retenha ainda que somos os únicos seres vivos em que o posicionamento dos nossos olhos nos permite ver cara a cara o/a parceiro/a quando temos relações sexuais, o que para muitos pode ser mais agradável se beneficiar de uma fonte boa de luz. E a visão que obtém será sempre em 3D, a visão binocular é isto e resulta da junção de duas imagens, as mesmas que são captadas pelos nossos dois olhos.

Sem retina não há visão, não há cor, nem preto e branco. Sem retina, há escuridão.

António Travassos
(médico oftalmologista)