Deixemos de lado a “comidinha”, a “escolinha” e todo o longo rol de diminutivos, mas também o “bapato”, o “memé”, ou a “pepê”. Ou seja, todos aqueles termos de bebé, que fazem as delícias de pais e avós. É errado repetir. Aliás, não corrigir pode mesmo comprometer o desenvolvimento linguístico da criança.

Pais, avós e educadores têm um papel essencial no desenvolvimento das crianças e, em concreto, nas competências linguísticas. A linguagem é um processo no qual a criança aprende por imitação e, inconscientemente, vai repetindo os sons e as palavras que ouve no meio que a envolve. A aquisição das capacidades linguísticas depende, como é normal, do meio familiar e nível cultural onde a criança está inserida, mas também da disponibilidade dos adultos para comunicar verbalmente.

Para melhor percebermos a importância das competências linguísticas, devemos sublinhar que o aparecimento da fala e da linguagem pode ser considerado um dos principais marcos do desenvolvimento infantil e, desde o nascimento até aos 6 anos, a evolução deve ser notável.

No recém-nascido, o choro é a única forma de comunicação com o mundo exterior, seja porque tem fome ou porque tem dor. Nos meses seguintes o choro não é todo igual, o choro da fome é diferente do choro de dor. A partir dos seis meses, a criança começa a brincar com os sons que emite. É nesta fase que começa a experimentar os vários sons com o balbucio. Entre os 10 e os 12 meses, surgem as primeiras palavras, repetindo a linguagem falada em casa e surgem as palavras quase mágicas: “papá” e “mamã”. É a partir daqui que os adultos tendem a infantilizar a linguagem, ou seja, todos falam tatibitati.

Pais e avós acham graça e até se orgulham de repetir o “bapato”, em vez de “sapato” ou a “pepê”, em vez de chupeta. Ou porque é engraçado, ou porque querem simplificar o vocabulário, a família acaba por aprender a falar “à bebé”. Nada mais errado. Aparentemente, poderá ser um hábito inofensivo, mas não é verdade, o desenvolvimento da criança pode ficar comprometido, bem como as fases seguintes da evolução do processo de linguagem. Ou seja, as repercussões podem acabar por se sentir no processo de alfabetização, mas também quando a criança necessita de criar relações sociais.

Sugerimos que se avalie o modo como estamos a falar com as crianças e como comunicamos com elas. As palavras pronunciadas erradamente não devem de todo ser repetidas, tal como também não deve existir uma chamada de atenção constante para o erro. Repetir a palavra de modo correto, fornecendo o padrão correto é a nossa sugestão. Naturalmente, a criança acabará por corrigir a sua fala.

As primeiras frases, já com 2 ou 3 palavras, acabarão por surgir naturalmente aos 2 anos. O vocabulário aumenta gradualmente e, aos 3 anos, já terá capacidade de contar uma história, cantar canções e manter conversas. A partir dos 4 anos a persistência em trocar os sons da fala constitui um alerta para a necessidade de uma avaliação por profissional. E, se os pais influenciam o desenvolvimento comunicacional da criança, também é verdade que este é um processo que pode ser afetado por perda auditiva, problemas neurológicos, estimulação desadequada e ainda por falta de treino. Isto é, quando os adultos tentam adivinhar o pensamento da criança e nem esperam que ela faça um esforço de falar. E sim, é verdade, isto acontece não raras vezes.

Aos 6 anos de idade, ao iniciar o percurso escolar, a criança deverá estar linguisticamente apta para a alfabetização. Nesta idade, as frases já devem estar estruturadas gramaticalmente, a capacidade de narração terá aumentado, as histórias têm detalhes e a imaginação entra dentro das histórias. Crescer também é isso, saber comunicar na língua materna, que é muito mais do que conseguir produzir sons ou saber reproduzir palavras. A criança não constrói este processo de interação sozinha, precisa dos outros e do ambiente que a rodeia. Todo e qualquer atraso na linguagem não deve ser considerado inofensivo, existirão certamente implicações que se podem evitar.

Carina Branquinho

(Terapeuta da Fala)

Deixar um Comentário